Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)

Capítulo 41 - Penúltimo Capítulo.

Consigo chegar ao topo do aclive, a poucos metros da areia quando a enxurrada chega ferozmente passando atrás de mim, respingando ondas e mais ondas de água que batiam nas pedras abaixo e desviavam em todas as direções, inclusive na minha, me encharcando. Outra onda maior surge arrastando consigo pedras e galhos de árvore, quando um desses objetos pesados bate em minha têmpora esquerda. Sou arremessada ao longe e caio, perdendo os sentidos. Minha consciência vai se apagando e não sinto mais nenhuma célula de meu corpo.

- Ela está acordando. - ouço alguém dizer.

Ao abrir os olhos, vejo Arímedes e Niroge, o jovem Snow. Minha mãe adotiva, Clair, vem entrando no meu quarto correndo cheia de lágrimas, e me dando um abraço.

- E não é que deu certo? - diz Arímedes.

- O que deu certo? E quanto tempo fiquei desmaiada?

- Hoje é dia 03 de Abril, minha filha, você dormiu por uma semana. Fiquei tão preocupada! - comenta a empolgada mãe adotiva.

- É infalível.

- O que é infalível? - pergunto.

Snow começa a falar tão feliz quanto nunca vi antes.

- Você, senhorita Angela, foi envenenada quando bateu a cabeça naquele tubo de vidro. Tudo o que fizemos foi lançar uma pedra em sua cabeça para você desmaiar, mas é quando você perde a consciência que o veneno age, simulando sua morte. Houve uma comoção por toda Socrática, quando pusemos a culpa pela pedra na rainha, e além disso, ela teve cinco longos dias para sancionar a emenda constitucional que lhe enviamos, coisa que ela não fez.

- Qual emenda?

Arímedes toma a frente:

- Nós planejamos tudo, depois que você nos surpreendeu com seu sacrifício indo pros jogos, minha filha. Mas a rainha estava insatisfeita com suas palavras ousadas e considerou você um problema. Sua popularidade, aliada a sua atitude repentina, lhe deixou de todo apavorada.

- O erro dela, minha cara, - completa Snow - foi ter tentado lhe eliminar. É o que fazemos instintivamente com todos aqueles que podem vir a ser uma ameaça. Ranhatep, a Ministra das Comunicações usou todos esses dias para comover a opinião pública contra a Rainha. Os nobres, militares e pacificadores se juntaram a nós. Criamos então uma armadilha: sugerimos a rainha a fazer um discurso em público. E quando todos a vaiaram, seu sobrinho insatisfeito, neto do regente morto na guerra, a apunhalou pelas costas sob o aplauso da multidão, e a jogou da sacada. Ele foi preso, claro.

- E agora? O que vai acontecer?

- Votamos em Niroge por unanimidade como presidente interino em uma nova democracia de Socrática, e também como líder da Fraternidade dos Treze. - diz Arímedes. - E em você como a décima terceira nova membro da Fraternidade, assim que reconquistarmos Panem primeiro. Você terá que ser a presidente de lá, e não se preocupe: sabemos como fazer isso sem derramar uma só gota de sangue.

Fico atônita. Niroge completa:

- Temos um presente para você.

Peeta entra no quarto, com seu rosto verdadeiro. É inacreditável. Mas me belisco para me certificar de que não é um sonho. Não, não é. Ele carrega algo escondido nas costas, mas me abraça primeiro me dando um beijo, que eu não lhe deixo soltar, agarrando-o com toda a força.

- Calma. Deixe eu lhe mostrar uma coisa primeiro.

Ele me mostra um espelho. Sou eu, Katniss, com meu rosto reestabelecido.

- Bem-vinda de volta, Katniss. - diz Snow, com seu sorriso debochado.

Depois meus pais adotivos me explicaram que ficaram sabendo de tudo por Snow e aceitaram a morte da filha verdadeira, contanto que eu os considere como meus pais adotivos. Achei aceitável a barganha. Clair é amável e Arímedes é um materialista ambicioso e desprezível, mas comigo sempre foi como um pai que perdi um dia. Não tenho como recusar.

- Katniss, precisamos falar de negócios. Está disposta a vir conosco no Castelo da Fraternidade fazer um juramento? Você quer ser presidente de Panem?