Capítulo 9 - Cantigas e Poemas de Katniss Everdeen

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Paramos mais uma vez aguardando outra linha de campo magnético da Terra que seja mais estável. Pelo que Gale disse, os piontes enganam a Natureza fazendo-a "pensar" que somos partículas subatômicas.

Não entendo dessas coisas. Prefiro mergulhar em minhas reflexões, coisa que todos nós fazemos agora em total silêncio, após todo o esclarecimento que eles nos forneceram. Como minha mãe se encontrava no Palácio da Democracia, em reunião do Diretório do Gabinete da Saúde momentos antes da fuga, era totalmente impossível para Gale e Cressida tirarem-na de lá. É compreensível, mas é triste.

Após aquela narrativa, fomos engolidos por total silêncio e reflexões. Resolvo tentar esquecer a dor na nuca, e peço pra Peeta retirar os cubos de gelo. Tento me lembrar de alguma coisa de que goste. Bem baixinho no começo, começo a cantar para mim mesma algo triste que aprendi com meu pai, cuja canção só se torna bela com sua voz:

Não somos deuses, somos homens
No mar da vida a mergulhar
Repetitivas... infinitas vezes
Trabalhar e se alimentar

Será a vida uma escravidão?
Boa ou ruim isso será
Felicidade ou aflição
Do destino dependerá

Loteria do acaso
Um pouco de caos e harmonia
É segredo... é charada
A origem desta vida.

Uma coisa aqui é certa:
Para todos morte haverá
Aproveitem a escravidão:
Único Bem a abraçar.

Parei a canção por aqui, pois só me trouxe coisas mais tristes, e parece que aos demais também. Começamos a nos mover novamente por outra linha magnética. É um jeito até engraçado de se viajar. É como os antigos barcos à vela, aguardando por um bom vento para conduzi-lo adiante. Isto me faz lembrar uma outra canção, mais bela e dessa vez nada triste, que aprendemos na escola. Após um tempo, Peeta me acompanha na canção, e depois, todos os demais, enquanto Pollux cantarolava:

Carta ao Mar

Domingo, 07 de Julho de 2103.
Carta Número uno:

Numa garrafa
Ponho uma carta
Endereçada ao Mar

Mesmo sob o risco
De meu barco afundar,
Lanço a ti em seu meio
Na esperança de que
Um carteiro
A ti possa entregar:

“Mar, salgado mar,
Abrigo de piratas,
Sepulcro de navegantes
Fonte de toda a vida
E de toda a esperança

Onde nossos pés
Afundam
Quando em ti
Tentamos pisar

Não és nosso
Lar, pois
Mar, salgado mar,
Em ti não podemos pisar
Porém…
Usamos barcos invasivos
Mesmo sob perigos
Para ti melhor
Contemplar

Com manobras evasivas,
Mar,
Da morte certa
Enviada por ti,
Ariscos que somos,
Tentamos escapar

Mar, ó mar…
És pai e mãe
De todas as almas
Desta Terra
Que já nos cansamos
De explorar

Te usamos como mero…
Objeto
por mais que
isso lhe possa ser algo…
abjeto
para  mercadorias
transportar

Antigamente, oh
Mar...salgado mar
olhávamos para as estrelas
Para que elas
nos pudessem
Ajudar a em ti
Navegar

Mas agora, oh
Mar, salgado mar,
A ti também
cansamos
De explorar

E as estrelas de outrora
Que ousávamos
usar
para  em ti navegar
Agora também são alvo
De nossa pura curiosidade

E nesta carta anuncio
Que a ti vamos
Abandonar
Mar, salgado mar,
Adeus!”

Sexta-feira, 07 de Julho de 2133,
Carta Número dois:

De uma sonda
do Espaço,
Envio uma carta
Endereçada ao Mar:

“Oh mar
Salgado Mar
Aqui donde estamos
Não é muito diferente
Como daquela
Primeira vez
Em que a ti
Fomos encontrar

Ó mar,
Espero que onde estejais
Não venhas a rir
dos tropeços
Que temos sofrido
Porque
Aqui ainda é mais frio
E não temos com o que
Nos alimentar

As estrelas
Nos convidam
A até elas chegar,
Mas distantes que são
Só nos resta fracassar

Céus!

Como, em nome
De Deus
até lá chegaremos,
se tudo o que temos
é a Lua para pisar?

Mar, salgado mar,
Qual é o segredo
Para neste Cosmos
arteiro
podermos navegar?

Será melhor desistir,
nosso orgulho
engolir
E pra Terra voltar,
pois somente ela
é nosso
Lar, doce lar?...”

Transmissão interrompida...
talvez,
tarde demais…

Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)Onde histórias criam vida. Descubra agora