Capítulo 35 - O 78° Jogos Vorazes de Socrática

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Cinco dias de preparação se passaram como um raio. Ontem, na entrevista, fiz outro discurso em vez de responder às perguntas do apresentador, mas foi um discurso de três minutos voltado aos nobres presentes para deixá-los confusos e lhes incitar insatisfação com a família real. No entanto o fiz de forma indireta e sutil. Não tive contato nenhum com meu pai adotivo Arímedes, nem com Snow nestes dias. Eu estava vestida pelo estilista como a Noiva Andina, usando uma máscara sem face no momento do discurso ao vivo de ontem. Isso impressionou muitos e amedrontou os demais. Se em Panem eu tivesse a experiência que tenho agora, muito provavelmente teria derrubado o Snow de Panem sem precisar derramar uma gota de sangue sequer. Mas aqui as coisas são bem diferentes. Fiquei totalmente incomunicável com Arímedes, que nem se despediu de mim, devido talvez às circunstâncias em que fugi para me oferecer.

Estou esperando pelo pior. Todo este silêncio sem ninguém se comunicar comigo só pode significar uma coisa: eu falhei. Fui afobada em me oferecer assim, contando com um possível golpe rápido e inteligentemente engendrado por Niroge, ou melhor... Snow. Será que ele prefere me ver morrer do que agarrar antes disso a maior chance de sua vida de tirar a rainha do tabuleiro de xadrez?

Eu consegui levar para ele 3 aliados e meio. Tenho consciência plena de que assim que Snow conseguir derrubar a rainha, caso o faça, seu primeiro ato será me matar dolorosamente. Mas não posso morrer sem ao menos levá-lo junto comigo. Tenho em mente algumas palavras para proferir, dedurando-o para as câmeras, caso minha morte na arena seja lenta.

Será que ele já revelou a todos que sou Katniss Everdeen, e é por isso que fiquei totalmente incomunicável? Será que explodirei assim que subir por este tubo? Ou serei arrastada por toda a arena por algum bestante para deleite de todos?

Não posso demonstrar o pânico que estou sentindo neste momento. Meu estilista me conduz à sala do tubo para subir. Estou vestida de roupas brancas de algodão por baixo, e sobre elas um traje idêntico, porém transparente, feito um fantasma.

- A palidez de seu rosto está combinando com as vestes agora, Angela. - diz ele. - A propósito, creio que isso ficará bem em você.

Ele tira de dentro de sua jaqueta uma caixinha, e de dentro retira uma rosa branca, colocando-a em meus cabelos.

- Quem lhe deu isso?

- Ué... sou eu que estou lhe dando, que pergunta. - responde o homem, dando-me as costas, indo embora e deixando dois pacificadores entrarem.

De forma rude, um deles me manda entrar imediatamente no tubo, enquanto o outro perde a paciência e me joga lá literalmente me arrastando pelo braço, me machucando. Bati com o rosto na entrada do tubo, derramando sangue fresco em minha veste branca. Eu não esperava que a porta do tubo fosse afiada a ponto de cortar meu supercílio.

O tubo se fecha e começo a subir.

Sei que o ambiente é no meio de um vasto deserto repleto de cactos afiados, cobras, escorpiões, miragens, sol escaldante, dunas, tempestades de areia, dentre outras coisas infernais, pois li isto no relatório. Se tiver sorte, pode até haver algum oásis em algum lugar.

Os jogos daqui são totalmente diferentes dos de Panem. As arenas são subterrâneas. O sol e a lua, artificiais, mas seus raios são extremamente intensos e cancerígenos. Ano sim, ano não, a arena pode ser de dia ou de noite eternas até que se tenha um vencedor, ou seja, se for de dia, o sol nunca se põe. Já de noite, a lua varia. Isto é mais terrível, pois o relógio biológico entra em colapso, e a maioria enlouquece em poucos dias. Claro que todos de Socrática estão habituados a dias ou noites eternas, mas ao menos eles têm relógios e tarefas diárias rotineiras para terem noção do tempo.

Mas essa noção de tempo se perde na arena por completo, pois a morte iminente faz o estado de alerta ser contínuo, privando os participantes de sono se for dia e conferindo cegueira se for noite. Isto reduz o pensamento lógico, atrapalhando a elaboração de estratégias inteligentes.

Como esperado, o tubo me levanta até o deserto, em meio a uma tempestade de areia que torna impossível enxergar mais de dois metros à frente. Na verdade, o vento tenta me empurrar para fora, e se eu cair, explodirei imediatamente com a bomba. Sou obrigada a fechar os olhos para evitar a cegueira, já que a areia é levemente ácida, e me agacho, segurando-me ao círculo para não cair.

Somente uma coisa é mais alta que o som do vento: a narração da voz eletrônica contando nosso tempo para correr sem ser explodido:

- Tempo: 60 segundos... 59, 58...

Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)Onde histórias criam vida. Descubra agora