Nós fazemos o desjejum à mesa, ouvindo o cantar dos pássaros. Notei que Peeta retira alguma coisa discretamente de seu bolso. Não dá pra ver direito o que é, porque apesar de uma pequena parte do distrito 12 ter sido rapidamente reconstruída nestes dois anos e já termos eletricidade 24 horas por dia, eu me nego a usá-la, então estamos usando lamparinas e a iluminação não é tão forte.
Desde que voltamos pra cá, e passamos a nos falar com mais frequência há um ano e meio atrás, nós fizemos um acordo: o de que nunca nos deixaríamos corromper, nem mesmo pela Nova Capital, para não ficarmos dependentes, monstruosos e mimados como seus antecessores. Essa ideia veio de Peeta, mas eu também já pensava assim antes dele falar. Eu gostei. Foi desde aquele momento que passamos a nos tornar mais íntimos, e mais e mais a cada dia.
Mesmo antes dele propor isto, eu jogava fora todo o dinheiro e artigos de luxo que vinham me trazer, e me alimentava só do que eu caçava. Mas não fazia isso na frente das pessoas, muito menos de Haymitch e F nas poucas vezes que vieram. Mas pouca gente tem nos visitado, porque apesar de eu ter recebido o indulto da presidente eleita Paylor, ela enviou os guardas para formarem um perímetro de proteção ao redor de minha casa, que é a mais afastada, protegida e vigiada de todos os 12 distritos, para me proteger de loucos e fanáticos políticos, tanto dentre os seguidores fiéis de Coin, quanto os de Snow, que tentam me matar ou fazer outras coisas, e isto sem falar de uns loucos apaixonados.
Já me acostumei com as ameaças. Vez por outra, cai do céu um presente dos inofensivos pássaros de luz, pombos-correios geneticamente modificados que largam pequenos pacotes sobre mim e sobre minha casa.
Quando os pacotes caem, vêm todo tipo de coisa imaginável, desde animais peçonhentos, até pequenos explosivos ou substâncias tóxicas. Já fui parar no hospital cinco vezes nestes dois últimos anos.
Ninguém sabe de onde vêm essas aves, pois elas haviam sido extintas da capital desde antes da revolta há 77 anos atrás, e é punível com pena de morte quem for encontrado contrabandeando ou criando essas criaturas malignas.
Não usamos mais o termo pacificador para exorcizar as memórias negativas do passado. Agora são guardas em uniformes cinza-escuro, e todos mostram seus rostos. Nenhum usa capacete, nem mesmo os seguranças pessoais da presidente e dos demais políticos. Eles já me salvaram de inúmeras tentativas de assassinato. Para todos, os jogos acabaram, mas para mim, segue o pesadelo.
Quando vejo melhor a mão de Peeta, ele está segurando o controle da tela para acionar a eletricidade e ver as notícias matinais. Eu olho com reprovação.
- Meu professor mandou eu assistir, Katniss. Faz parte do meu currículo.
- Por que não assiste na sua casa então? - replico, furiosa.
A pior coisa que tem é você acordar temendo ligar a televisão e ver que aquele corpo de Snow era o de um bestante dublê... que ele está vivo e está retomando seu lugar, como o primeiro pássaro de luz me contou um dia numa carta de um admirador, assinando com perfeição o nome de Coriolanos Snow. No entanto, apesar de a perícia dos investigadores a quem entreguei a carta ter confirmado que a letra é exatamente igual e escrita por ele, o papel não possuía nenhum traço genético de ninguém, exceto por moléculas usadas na composição de um perfume de mulher, usado somente pelos membros femininos da família de Snow. Nenhuma pista foi encontrada além desta.
- Se quiser eu... - respondia revoltado Peeta, se levantando, quando ouvimos petrificados a interrupção da repórter anunciando a morte da presidente Paylor.
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Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)
FanfictionKatniss é temida por países que querem evitar uma onda de revolução global inspirada pelo Tordo de Panem.