Me despeço de Peeta, e entro no aero planador com Niroge e Arímedes, pousando no topo de um castelo de fachada cujo nome é Casa da Moeda, uma espécie de Banco Central que trata das finanças de Socrática. Mas na verdade, de todos os seus 33 andares, os três últimos são chamados pelos membros como Castelo da Fraternidade dos 13.
Desde que descobri a verdadeira identidade de Niroge, já soube que toda aquela conversa de Democracia era sua farsa para chegar ao Trono Real, coisa que finalmente a cobra conquistou, e de quebra, a liderança dos 13. Ele está muito mais poderoso do que nunca.
Como, mesmo sendo adotiva, e mesmo agora sendo novamente a mesma Katniss de sempre, pertenço a uma família nobre, a dos Mennonites de Arímedes e Clair, preencho todos os requisitos para entrar na Fraternidade, com exceção de um: preciso conquistar algum país. E Panem será meu primeiro.
Eles me explicaram que eu não entrarei na Fraternidade agora. Esta é apenas uma reunião secreta para tratar de negócios internos e sigilosos.
Entendo que talvez eles me matem aqui a qualquer instante, ou Niroge cumprirá com sua promessa de arrancar meus olhos, seios, braços e pernas, me mantendo viva e torturada para ser exibida por todos os treze países. Este é o motivo pelo qual mais creio estar sendo conduzida para cá, e já estou psicologicamente preparada para o abate. Não há nada que eu possa fazer. Tive que aceitar o convite de entrar aqui, pois foi um convite de livre e espontânea pressão. Não havia escolha. Eu estava em país estrangeiro, nas mãos dos poderosos, capturada... um tordo capturado em uma gaiola sem saída. Eles podem fazer o que quiserem comigo.
Outro motivo pelo qual para o grupo deles fui admitida é o fato de que moralmente, e isto foi o que Snow insistiu em frisar: moralmente, fui eu quem o derrubou de Panem. Nem Coin, nem Paylor, nem ninguém. Se não fosse por mim, seu clone ainda estaria lá bebendo vinho e cheirando rosas.
Clair e Peeta ouviram uma versão distorcida e mentirosa sobre o que é a Fraternidade. Para eles, é uma reunião de negócios com os nobres, banqueiros e empresários de diversos setores. Eles não sabem do nome Fraternidade dos Treze, nem de nada a respeito, e eu não pude falar dessas coisas com Peeta e os outros para protegê-los. Quanto menos eles souberem, mais seguros estarão.
Nesses seis dias em que estive desacordada, a Ministra das Comunicações, Ranhatep, revelou a verdade para todo o povo de Socrática sobre a existência de novos países pelo mundo, e fez documentários contando a saga da heroína Katniss Everdeen, e de como ela libertou Panem da tirania de Snow, revelando, ao final do documentário, que ela, a heroína arqueira Katniss, o Tordo de Panem, se disfarçou da pobre falecida Angela para libertar também Socrática da tirania da rainha Monica IV.
A população, desde os escravos até os mais nobres, enlouqueceram de êxtase e admiração quase divina com isso, principalmente pelo fato de que foi dito que sou a filha única da Noiva Andina, e que fui adotada pela Sra. Everdeen e seu esposo num país distante chamado Panem.
Desde que voltei para Socrática, segundo o documentário, a Noiva Andina está descansando em paz.
O pai de Arímedes foi o criador dessa bestante, que é a segurança de sua família, e é em seu castelo que ela se esconde e se alimenta em segredo. Na verdade, ela ainda está lá, e viva, pronta para continuar protegendo a linhagem dos Mennonites. Snow não sabe desse segredo.
Arímedes me contou que se ele, eu, ou alguém da família for assassinado, ela se vingará. Seu objetivo maior sempre foi o de assassinar Niroge. Por isso ele era o mais perseguido.
- Katniss. - diz Snow. - Vamos fazer uma reunião preliminar. Pedimos que aguarde nesta sala.
O castelo é a coisa mais enigmática, bela, nobre, encantadora e assustadora que já vi. O chão é de cerâmica, alguns cinza-escuro, outros mais claros, com adornos nas bordas. Há várias estátuas pelos corredores com figuras de diversas criaturas de culturas pagãs esculpidas pelos mais exímios artistas que se possa imaginar. Aqui não existem lâmpadas para iluminar o ambiente. Não se sabe de onde vem a luz. Ela parece pertencer ao próprio ar.
O cheiro do ambiente é de algum tipo de mistura de bibliotecas antigas com fragrância de incenso que sou incapaz de identificar.
As portas são de madeira mais belas e agradáveis ao toque do que as de mogno que existem em Panem. Estar aqui dá a sensação de se estar em outro mundo ou dimensão: é inebriante.
Fico sozinha de pé em um corredor enquanto eles se trancam numa sala à frente. Ouço uma voz familiar atrás de mim ao longe:
- Srta. Everdeen?
Sigo pelo eco da distante voz pelos corredores. Desço algumas escadas atrás dela.
- Srta. Everdeen. - a voz continua distante.
Após descer por dois andares sozinha em meio a corredores de silêncio puro, noto que sua voz vem de uma das salas à esquerda. Passo por inúmeras portas trancadas deste assombroso labirinto e entro na sala:
- Snow!?
O próprio, velho como o de Panem. O mesmo rosto com sorriso maquiavélico e onisciente me recebendo.
- Mas como? - pergunto novamente.
- Minha cara... devo lhe dizer que é uma enorme satisfação para mim lhe rever numa condição como esta. Está surpresa?
- Você não passa de um mero clone.
- Ah... - ele ri. - Não acha mesmo que eu ficaria parado lá aguardando passivamente minha morte. Você não é ingênua a esse ponto.
- Você então é um clone de Niroge, e clonou a si mesmo para escapar.
- Muito esperta. - ele ri novamente.
- Quando você fugiu?
- Por que acha que nossos aero planadores, que eram em um número muito maior, sumiram de repente e deixaram vocês entrarem? Minha cara, como sempre, tenho planos maiores.
- Você não respondeu minha pergunta.
- Clones não podem fazer clones, mas eu desobedeci, e estou sendo punido com esta prisão. Não tenho muito do que me queixar, afinal, isto é melhor do que morrer e não poder assistir de camarote o circo pegando fogo lá fora.
- Quando você fugiu? - pergunto pela terceira vez, sem paciência.
Ele ri.
- Está bem. Acho que você merece saber.
Ouço o som de um cão respirando alto vindo do corredor e entrando pela porta atrás de mim. Quando o vejo, é um cachorro de uma raça desconhecida, totalmente preto. Ele se senta na porta, obedecendo a ordem de Snow, mas ele fica rosnando e me encarando.
Olho para duas outras portas atrás do velho que se abrem, e mais outros dois cães semelhantes entram e se sentam. Os três formando um triângulo de proteção ao redor da cobra.
Ele continua:
- Assisti a esse documentário feito sobre a Katniss de Panem, e formulei minha própria teoria sobre você. Nunca se passou pela sua cabeça sobre o porquê de sua irmã e sua mãe serem loiras e você não? E o que você se lembra de seu pai? Uma foto em preto e branco? Já teve alguma vez a curiosidade de fazer um teste de DNA para saber se a Prim e seus demais familiares são mesmo seus parentes?
- Não.
- Katniss... minha cara Katniss... você não passa de uma aberração. Filha de uma bestante com um homem qualquer, sabe-se lá quem seja seu pai, mas deve ser alguém da nobreza e um de meus inimigos, do contrário, ele não teria se esforçado tanto para lhe esconder em outro país... em Panem. Só para me atormentar. Você acha mesmo que aquela história de que você é filha de uma fantasma, como eles disseram, foi só um conto inventado para iludir a população?
FIM DO LIVRO 1/3
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Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)
FanfictionKatniss é temida por países que querem evitar uma onda de revolução global inspirada pelo Tordo de Panem.