Capítulo 15 - Os Ursos e a Estranha

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Após terminar a última retrospectiva, jantamos às 7, e o mordomo manda que Endora nos leve ao vestuário para trocarmos nossas roupas.

- Endora? - diz Olliver, estranhando a hesitação da jovem em se prontificar.

Notei que desde os documentários no auditório ela passava a se distanciar e me olhar de longe, como se estivesse com medo de mim. Na ocasião do intervalo de almoço em que me levantei para a copa, notei que ela ficava estática atrás de nós me observando mancar com a perna direita. Quando olhei para ela na ocasião, vi que seu corpo tremia. Uma pena que as faixas em seu rosto me impediam de ver suas expressões, mas seus olhos nunca antes arregalados como então, me deixaram curiosa sobre sua reação naquele momento.

Ela se aproxima do mordomo cabisbaixa e parece falar algo para ele, que a dispensa, e ela sai por uma das portas sem dizer uma só palavra. Olliver nos diz que Niroge não virá esta noite e que teremos que dormir junto com os demais, na Vila dos Servos, lá fora do Castelo. Somos conduzidos por ele a um vestuário onde passamos a usar roupas de frio com capuz, mas só a minha se distinguia da dos demais. Eu usava um tecido leve e sem capuz, de um material parecido com o que Cinna me vestiu na ocasião dos jogos, isolando a temperatura externa de meu corpo. Só que este tem uma textura levemente diferente.

- Por que só ela está de branco, e nós de preto? - indaga Cressida, ou melhor, Jasmine.

- Só estou seguindo ordens de Vossa Excelência, o embaixador. Não questiono suas ordens, apenas as sigo.

- Está linda! - diz o Peeta alexano.

- Obrigada, você também. Só que você tá mais parecido com um urso da floresta com essas roupas. - brinco com ele.

Gale, ou melhor, Marcus, que também está parecendo um urso, assim como Pollux e Cressida, acrescenta:

- Então temos que agir como bons ursos e atacar os pinguins do polo sul, para mostrar quem é que manda aqui agora.

Gostei de seu comentário, por lembrar de nossas conversas na floresta, quando observávamos do alto das árvores os ursos, cães selvagens e outras criaturas. Agora sinto saudade dessa época, onde tínhamos um lar e cada qual com suas famílias. Com ou sem jogos, aquele era nosso lar e jamais imaginei que viria a sentir saudades daquela época algum dia. Mesmo com toda aquela fome, medo e ódio da Capital, aquele era nosso lar, eu sempre podia contar com Gale como minha válvula de escape, meu confidente e amigo leal.

Reflito agora pela primeira vez quando eu era mais feliz: se nesses dois últimos anos com Peeta, ou se na minha juventude com Prim e Gale antes dos Jogos. Com Peeta é incomparável, é claro, pelo amor puro e sublime, além das carícias nunca antes experimentadas, mas o luto da Prim e o trauma dos jogos e da guerra eclipsavam grande parte dessa felicidade, que deveria ser plena, mas não era. Será que em nenhum momento da vida eu fui feliz? Inteiramente feliz? Talvez eu jamais venha a ser, não tenho muita expectativa.

Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)Onde histórias criam vida. Descubra agora