Capítulo 31 - O Sol da Meia-Noite

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Respiro fundo, mas não é o bastante, e viro o rosto para o lado de modo que ele não possa ver minha expressão.

- Filha, você está bem?

Me levantei e começo a andar de um lado para o outro refletindo e ingerindo a odiosa realidade, mas me controlo sob seu olhar de curiosidade, então me recomponho, voltando a sentar ao seu lado.

- Sim, mas... não entendo uma coisa: Niroge é jovem, e o Snow de Panem é um velho, certo?

- Era um velho. O desgraçado já está morto, graças a deus. Os bestantes clones envelhecem naturalmente. Só nós, os originais é que mantemos nossa aparência e saúde correspondente à que tínhamos quando assumimos a presidência de qualquer país. No caso de Niroge, ele alcançou isso jovem demais. Por isso é o aparentemente mais jovem de nós. Não estou certo, mas a idade real do embaixador deve girar em torno de oitenta anos ou mais. Ele é mais velho que eu. Esses órgãos dos tributos são essenciais pra gente sobreviver. Houveram raríssimas ocasiões em certos países, de um ou outro tributo na arena enlouquecer e adotar o canibalismo, devorando os corpos de suas vítimas. Isso é péssimo para nós, então sempre que esse tipo de coisa ocorre, nós ordenamos sua execução o mais depressa possível antes que devorem algum órgão precioso.

- Os clones bestantes têm consciência de sua situação?

- Claro! Eles sabem que são bestantes, sabem sobre os treze e são leais a seu original. Não se importam com a própria vida, mas se esforçam em cumprir com o dever de ter sucesso na ambição do original. É por isso que possuem apego emocional fortíssimo com seus descendentes, já que isso os faz pensar terem alma de alguma forma, nós valorizamos os descendentes de nossos clones como nossos. Tais filhos e netos de nossos bestantes têm sangue azul, e entram na fila para poderem um dia ocupar nossas cadeiras.

Sinto agora um alívio extra por ter direcionado a ponta da flecha para Coin, e não para Snow, que era apenas uma sombra que morreu nas mãos dos soldados. Não perdi meu tempo em mirar numa sombra por sorte. Economizei minhas flechas para quando puder, atacar diretamente a escuridão. Seu nome: Snow... ou melhor, Niroge, a fonte de todo o mal. Ou ao menos uma das fontes, mas este é assunto pessoal e é a minha vingança particular.

Clair nos chama para o grande momento do Réveillon, e nos juntamos de volta aos demais, bebendo e contemplando os fogos de artifício. Todos em contagem regressiva, nobres revestidos de felicidade numa casca vazia, gritando "Feliz 3199!".

Se me for possível... se eu tiver uma mínima chance, este ano será o mais infeliz de suas miseráveis vidas. Olho para o impiedoso sol sob a proteção do escudo do domo, e rezo pela primeira vez na vida para ele. Que me ilumine e me dê forças para eu ter sucesso em minha vingança. Ergo, como se estivesse solitária ali minha taça de champagne, para o sol da meia noite, em meu desesperado e primeiro ato de fé feito em vida, pedindo para que abençoe minha taça. Clamando por força e bênçãos, mesmo que minha vingança tenha que custar minha própria vida.

Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)Onde histórias criam vida. Descubra agora