Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)

Capítulo 33 - Dia dos Jogos Vorazes - A Colheita

Já se passaram três meses e vinte e três dias desde aquele revelador Réveillon, e eu mudei muito.

Naquele dia da fuga, depois de ter brigado com Gale na nave, ele me disse uma coisa que jamais esquecerei: de que a presidente Paylor morreu por minha culpa. Se eu tivesse estado a seu lado, dando-lhe apoio, ela estaria mais forte, e Heavensbee não teria saído de lá. Tudo estaria em paz. Foi um erro meu, e admito isso, não gostar de ser líder e não gostar de estar no centro das atenções. Minha personalidade e meu jeito arisco e fugidio foram a ruína de Panem. Eu só queria ter paz, na minha vida simples na floresta, caçando para alimentar a Prim se ela ainda estivesse viva. Mas aprendi minha lição. Aprendi que estou no meio de um furacão, e se eu fugir, serei covarde. Todos se arriscaram... todos fizeram sua parte, ao passo que me isolei.

Tentarei consertar as coisas agora para me redimir de meus erros, e estou disposta a morrer tentando. É como dizem: "Sem risco, não há jogo".

Não sei se estarei viva no mês que vem, mas se estiver, completarei 21 anos. Só faltam duas semanas, mas hoje é o Dia da Colheita aqui em Socrática, onde as pobres vítimas serão "sorteadas". Fiz tudo o que pude nestes quase quatro meses. Os prefeitos dos treze distritos, em gratidão por meus serviços, me concederam, cada um, a medalha de cidadã de honra. Cada distrito tem seu próprio nome para esta medalha, e agora sou considerada como pertencente aos distritos, mesmo na posição de nobre. Isso foi aceito pelo povo como um caro gesto de humildade, e foi a própria rainha que mais me encorajou... no entanto, a ideia foi minha, e fazia parte de um plano particular.

Dentre os Treze, tenho 4 aliados fiéis por parte de Niroge, contando com ele, e outros quatro do lado de Arímedes. No entanto, convenci Snow a se aliar a Arímedes. Isto deixou a rainha de fora de forma não oficial. Excluindo a rainha, formamos uma aliança com sete membros, suficiente para um golpe, e isso sem falar dos demais nobres que sonham com o Poder há décadas, e que simpatizam comigo.

Cheguei a conversar a sós com Snow e fizemos um acordo de eu não precisar repassar mais as informações para ele através de novos gatos, uma vez que convenci Arímedes a fazer a aliança. Então andei passando tais informações pessoalmente, sempre dizendo somente o que eu queria que ele soubesse. Dessa forma, ele não pode mais ler meus pensamentos através dos bestantes. Mas por precaução, nossos encontros eram sempre em locais neutros, fora da embaixada, e eu era escoltada pelos fiéis seguranças de Arímedes. Snow não podia mais me controlar.

Seria engraçado se não fosse trágico, mas odeio Snow por causa da Prim, e este me odeia por causa da mesma pessoa. Certamente ele tem outros motivos para me odiar, assim como eu também.

Graças a meus contatos, sei exatamente quais tributos serão "sorteados". Estudei cada um dos 26. Tudo que preciso fazer é causar uma boa distração para que os sete que estão atrás das cortinas possam agir. Eles só estão aguardando o momento, mas eles têm medo. Afinal, cada um deles está sonhando com tal momento desde que nasceu. Eles não sabem o que tenho em mente. Ninguém sabe. Mas vou abrir uma brecha para eles atacarem. Não é possível que eles sejam tão estúpidos e covardes a ponto de não entenderem o que estou prestes a realizar.

Estamos todos nas arquibancadas desde cedo, e me ausento alegando ir ao toilette. Me esgueiro, descendo até a rua e me encontro com o motorista no local combinado. Chego ao metrô a tempo, rumo ao Distrito 8. É lá que se encontra a carreirista mais assassina e psicopata de todos os 26 tributos, e foi para mim uma grande surpresa, ao ler seu dossiê, que sua arma mais fatal é o arco. A maioria dos apostadores estão com ela, que possui outros três carreiristas protetores.

Enfaixo meu rosto dentro do metrô, e chego ao Distrito 8 enquanto todos os jovens e crianças andam cabisbaixos para coletarem DNA. Me misturo aos mais velhos, e faço o mesmo.

Finalmente chega o momento da mulher dizer no microfone:

- E agora... damas primeiro.

Ela retira exatamente o nome da carreirista, anunciando:

- Annie Francis. Onde está, minha jovem?

Annie Francis, alta e assustadora, ergue a mão direita sob aplausos de muitos, caminhando vitoriosa até o microfone. Assisto tudo.

Me aproximo dela, com duas muletas, para ninguém perceber quem sou, e grito:

- Eu me ofereço como tributo!

Tirei a líder dos assassinos da jogada.