Capítulo 18 - O Sino

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É o mais lindo arco que já toquei, branco em sua maior parte, com adornos dourados. A aljava também branca, cujos adornos dourados são ondulados e bem discretos. As flechas também brancas, exceto em sua ponta dourada. Absolutamente magnífico. Não ouso usá-lo nem testá-lo, pois o vejo como algo sagrado. Diferentemente de todos os arcos que já usei, este foi o primeiro que me traz um sentimento de estar manejando uma coisa viva, como se fosse uma extensão sagrada de meu ser... é como se fôssemos um.

Com cuidado o guardo de volta e devolvo ao armário.

- Não vai testá-lo?

- Agora não.

- Por que?

- Eu não sei.

Minutos depois ouvimos um sino tocar do lado de fora, como se viesse de uma igreja. Da janela vemos algumas pessoas empacotadas em seus agasalhos saindo de suas casas preguiçosamente, alguns com suas crianças, outros sozinhos. Ouvimos um latido e uma pequena batida em nossa porta lá embaixo, não deixando dúvida de que só pode se tratar do prefeito. Fomos até lá.

- Senhor Garfrank, por favor, entre. - diz Peeta.

Nos saudamos e nos sentamos para conversar.

- Vocês têm chá? O de casa acabou. - diz o idoso.

- Claro, eu preparo um. - respondo com um sorriso natural, apesar de ele não poder enxergar.

Eu já havia reparado quando fiz o reconhecimento da casa em algumas ervas e pacotes na cozinha. O pessoal da vila foi muito gentil em abastecer nossa casa com todas essas coisas. Ao entrar na cozinha, percebo que ele e Peeta ficam conversando bem baixinho como que para eu não escutar. Me esgueiro curiosa para a sala para saber o que eles estão murmurando, mas seu cão me denuncia com um latido e o balançar do rabo.

- Com ou sem açúcar? - pergunto, tentando disfarçar meu bisbilhotar.

- Com açúcar se tiver, obrigado.

Volto para a cozinha confirmando minha suspeita de que o chá era só uma desculpa para ele conversar com Peeta a sós. Certamente ele deve ter conversado alguma coisa com os outros antes de vir aqui. Preparo o mais rápido que posso e levo as três xícaras, servindo-nos.

A linda criatura se aproxima a meu lado e se senta olhando para mim, todo feliz.

- Quer também... ? - brinco com a criaturinha.

- Ladybird, é o nome dela.

- Eu não sabia que era fêmea.

- Eu também não. Que nome lindo. - acrescento.

- Ela foi encontrada quando filhote sobre um ninho caído de pássaros, por isso dei esse nome. As pessoas estão curiosas sobre vocês. Olliver me disse que vocês são descendentes dos antigos nômades refugiados das florestas ermas, mas minha esposa diz que vocês têm muito boa aparência para quem foi criado lá.

Ficamos sem resposta. O mordomo e Niroge insistiram para que disséssemos o mínimo e que de preferência não disséssemos nada frente a perguntas como essa. O silêncio faz o prefeito voltar a falar.

- Bem... se estão aqui, então concluo que compartilham de nossa mesma condição de refugiados e servos. O sino é a chamada noturna para a missa. Todos participamos, e todos vocês estão convidados. As pessoas da vila estão felizes com novas pessoas aqui, mas estão com medo de você, Angela.

- Por que?

- Conhece nossa fé?

- Um pouco, só de ouvir falar.

- Já ouviu falar então da Noiva Andina, certo?

- Sim.

- Você é ela?

Jogos Vorazes - O Fim da Esperança (Trilogia 1/3)Onde histórias criam vida. Descubra agora