Fireproof - (À prova de fogo)

Capítulo 33 - 10.000 Horas

Eu gastaria dez mil horas e então mais dez mil
Oh, se isso for preciso para conhecer esse seu doce coração
E talvez eu nunca chegue lá, mas vou tentar
Se forem dez mil horas ou o resto da minha vida
Eu vou te amar

De volta ao meu apartamento, podia sentir que estava com algumas certezas em meu coração. Sentei no sofá e olhei em volta. Toda a adrenalina havia ido embora, já não sentia que estava ligada nos 220. Isso era bom, pois eu sentia que não havia mais perigo. Mas era ruim… Eu tinha o silêncio e a solidão me abraçando. Enquanto minha mente processava tudo o que havia dito a Camila. 

Sim. Eu me sentia como ela… Eu havia me envolvido por Camila da mesma forma que ela havia se envolvido por mim. Eu sentia a nossa conexão. Sentia que meu corpo reagia a ela, de uma forma jamais vista… Não era só paixão e tesão, desde sempre era algo inexplicável. Era um a mais que eu sempre ignorei. Mas estava ali. Eu a queria da maneira mais crua que existia. Queria seu corpo colado ao meu e me derramar no prazer que é tê-la em meus braços, no prazer que é estar nos braços dela. Mas depois… Depois queria me manter ali. Meu corpo pedia por mais. Um abraço? Carinho? Quem sabe um… Amor?

Samuel era um sonho. Ele sempre foi um homem muito íntegro e honesto. Era inteligente e tranquilo. Foi um namorado carinhoso, um amigo fiel… Um pai sem igual. Seus defeitos sempre existiram, ainda podia lembrar o quão desleixado era, o quanto amava jogar por várias horas, amava futebol e sempre gostava de silêncio na hora dos jogos. Era esquecido, não era atlético, na verdade, odiava atividade física. Era ciumento, mas nunca controlador. Samuel era um sonho, mas com todo respeito ao meu falecido marido que tanto amei, e amo, isso com Camila é diferente de tudo que já vivi. 

Não tinha nada além da luxúria ou prazer, talvez raríssimos momentos, mas a entrega e confiança… Quando confiei, mesmo sem querer, para contar minhas coisas. Eu nunca contava a ninguém. Mesmo não tendo muitas coisas ruins em minha vida de casada, meus maiores sonhos, medos e anseios… Eram só meus. A entrega sem igual do meu corpo era só a ponta do iceberg, pois a maneira como fui me entregando, a maneira como fui eu em todas as minhas versões, até as mais ocultas. Me assusta. Eu nunca gritei com Sam, nunca havia sido tão clara e cristalina sobre tantas coisas que fui com Camila… Nunca fui tão eu e ela… Ela me amava. Camila conhece minha pior versão e me amou assim! 

E eu… Eu me sentia igual. Eu amava Camila. Como? Como pode haver algo vivo dentro de mim que se fez capaz de amar outra pessoa? De onde veio esta coragem em meu ser para amar alguém, mesmo depois de perder quase tudo? De onde vem isso? Como posso sentir coisas inexplicáveis e que jamais senti antes? Como que eu me descubro nessa altura da minha vida? Após passar por tudo que já passei?

Como deixar que isso me invada, que os medos se vão? Como me permitir viver tudo isso? Como me entregar? Pois se o sentimento é maior… As dores… Os medos… Tudo é maior. Tudo doía. Uma parte de mim queria estar lá com ela, cuidando e protegendo. A outra está completamente assustada, com medo, em pânico com todas essas coisas e sabendo que não é capaz de lidar com tudo.

Senti um soluço alto me tomar, eu estava chorando… Desde o segundo que havia me sentado aqui. Eu sentia que estava sendo liberta da dor da perda, após anos e anos, após nunca cogitar conseguir, após nunca tentar… A dor da perda havia ido, mas não era de agora. Eu vinha sendo curada por ela há tempos, desde que ela havia rompido minhas barreiras, desde Camila. Mas a pior parte… Era saber que novas dores se instalavam em meu coração. Meu peito ardia, doía… Simplesmente porque a amava, amava Camila Cabello, e sentia que tínhamos tanto a descobrir e viver, mas tudo em mim, a parte que se perdeu… as cicatrizes, os medos, anseios, a parte que havia sido recuperada, não queria correr riscos. Então eu não poderia viver nada disso, não podia ter momentos… Não queria ter aquelas sensações de ontem a noite… Acordar como acordei… Me sentir como senti… Não ter notícias… E eu teria tudo isso a cada novo plantão de Camila.