Prólogo

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Quatro anos antes

── Uísque! ── Peço.

O barman barbudo arregala os olhos para mim ao pegar um copo vazio da prateleira e encher com gelo. Pena que não pensei em convidar Marcus; poderíamos ter feito um brinde de pai e filho. Porra, isso tudo é loucura.

── Duplo, na verdade. ── Digo, modificando o pedido.

── Falou ── O grandalhão responde com sarcasmo.

O clube continua lotado de indivíduos embriagados e dependentes químicos; e por um instante me pergunto se todos têm a vida tão entendiante e fodida com pais terríveis tanto quanto eu.

A via lotada de veículos estacionados é uma bela visão para quem está procurando onde se divertir com algumas bebidas especiais. Uma música desagradável permanece tocando. Alguém tem que trocar a porra dessa música.

O barman, sem dizer uma palavra, empurra o copo pelo balcão de madeira enquanto meu celular ecoa no bolso e eu reviro os olhos quando constato o nome “Marta”.

Pego o uísque e levo aos lábios, permitindo que minha mente me carregue para longe daqui; para uma vida onde meu pai tem orgulho de mim e respeita sua esposa.

A mão do barman dá um tapa no balcão à minha frente.

── Vou repetir: você quer outra bebida? ── Pisco algumas vezes e olho para a sala, e então para ele.

── Quero. ── Entrego o copo. ── Mais um duplo.

Enquanto o idiota velho barbudo vai pegar a garrafa, ouço a voz surpresa de um homem.

── Aiden? Aiden Crawford? ── Viro a cabeça e vejo o rosto familiar de Peter Johnson.

Peter me encara zombeteando escoltado de seu grupinho de drogados e eu dou mais um gole no uísque. Lembranças de Peter dando pauladas no meu carro na semana passada penetram minha mente.

Desvio o olhar para a mesa e examino Dafne rindo toda descabelada com Samantha e Wande. Peter para na minha frente com todos do seu círculo. Eles catingam a maconha e estão usando roupas abomináveis.

── Sai da minha frente mané, não estou a fim de quebrar sua cara!

─ Mas eu estou com muita vontade de quebrar a sua! ── Os cantos de sua boca curvaram-se. ── Comprou um carro novo? ── seus olhos se movem para o meu carro do outro lado da rua.

Filho de uma puta!

── Amor, vamos! ── Dafne fala e se aproxima de mim.

── E aí Crawford, vai com a gostosinha ou vingar seu carrinho? ── Peter leva o cigarro até a boca e eu suspiro com raiva.

── Eu tenho dinheiro o bastante para comprar uma loja de carros, aquele que você quebrou não faz falta! ── dou risada e lembro de minha mãe brigando comigo pelo prejuízo. Eu havia comprado ele dois meses atrás. ── Você não se diz tão bom em corridas de carros? Vamos apostar uma! ── Mordo o lábio inferior e olho para Dafne. Ela curva seus lábios e dá um sorriso perverso.

── Vamos, se eu ganhar, ela é minha! ── Peter aponta para Dafne. Ele é um porco.

── Ei, não sou de ninguém, querido! ── diz sorrindo descarada. Dafne parece estar se divertindo com a situação.

── E se eu ganhar, fico com a Alessia! ── Sorrio. Alessia é a putinha de Peter e aposto que ele se sentiu abalado agora, e afinal, ninguém ganha uma corrida de carros de mim.

── Aiden, você está doido? ── Dafne me encara com raiva.

── Cala a boca, Dafne. Você é só uma vadia! ── Reviro os olhos. ── Fechado? ── pergunto para Peter.

── Fechado! ── Responde um tanto apreensivo. Me aproximo de Peter e sussurro em seus ouvidos.

── Prometo que vou foder a Alessia com carinho! ── dou uma risada e ele me encara com ódio. Em seguida, eu entro no meu carro.

── Eu vou com você! ── Dafne me segue e entra no meu carro.

Eu e Peter nos olhamos e no mesmo segundo pisamos fundo. Olho para Dafne e ela está se divertindo vendo que estou na frente.

Acho que já passa das 2 da manhã e está fazendo muito frio, embora o Canadá seja bem frio, ultimamente não estava tanto quanto hoje. Aposto que a está hora meu pai está entrando em alguma puta de bordel e minha mãe esperando por ele como a idiota que é.

── Vai mané, se esforça mais! ── Grito e mostro o dedo do meio para ele afastando meus pensamentos.

Ouço meu celular vibrando novamente e Dafne o pega do banco de trás.

── É a Marta! ── informa.
── Deixa tocar!

── Sua mamãe está preocupada, você deveria mandar uma mensagem dizendo que está tudo bem!

Ela deveria se preocupar com o marido babaca que ela escolheu para ser meu pai ao invés de ficar me perseguindo.

De repente vejo o carro de Peter passar na minha frente como um vulto e eu fico com raiva. Ele não pode ganhar. Aumento a velocidade e piso fundo.
Estamos passando por uma rua estreita e, em um penhasco altíssimo. Peter fica mais distante a cada segundo.

── E aí, Dafne, pronta para ser minha hoje? ── ele grita de longe e eu sinto meu sangue escaldar. Não que eu me importe se ele transar com ela, só não quero perder.

── Aiden ele vai ganhar! ── Ela grita e eu fico irritável.

── Cala a boca, Dafne! ── Grito.

── Vai Aiden, se esforça mais, é hoje que eu durmo com a sua namoradinha! ── Olho para Dafne, que está me encarando.

── Aiden bate no carro dele, bate agora! ── Ela berra e eu fico nervoso. Meu carro está na velocidade máxima e não estou conseguindo enxergar direito. O que foi que ela disse?

── Dafne, você está doida? ── aperto o volante com mais força.

── Porra, Aiden! ── Ela grita novamente e se debate no carro, depois tenta pegar o volante e eu a empurro, mas ela volta outra vez. O que ela está fazendo?

── Dafne sai da frente, porra! ── De repente vejo o carro de Peter do lado do meu e entro em pânico quando percebo o que está acontecendo.

Dafne grita e eu fico surdo quando sinto um choque profundo na lateral do carro. Alguns minutos ou talvez segundos se passam e eu sinto uma dor infernal n cabeça, passo a mão em cima e vejo sangue, sangue marejando pelo meu rosto. Olho para o lado e presencio Dafne desacordada.

── Dafne, Dafne! ── eu a chamo desorientado, então meu sangue gela quando penso em Peter.

Abro a porta do carro rápido e procuro por ele. Está bastante escuro, mas as luzes da cidade iluminam boa parte da rua. O vento continua forte e a pancada afastou o álcool do meu organismo, me fazendo ficar lúcido. Caminho até a beirada da rua e levo as mãos à cabeça quando vejo o carro pendurado no penhasco em fragmentos.

── Não, não, não! ── Corro até lá, mas um barulho me faz tropeçar e demoro alguns segundos para entender o que havia ocorrido. O carro incendia e cai lentamente do penhasco até o mar embaixo.

Puxei meus cabelos com força e fechei meus olhos, desejando apagar os últimos minutos da minha mente, os minutos que vão me assombrar para sempre.

Olho em volta e não vejo ninguém na rua, meu coração está disparado e estou lacrimejando.

── Você matou o Peter! ── Ouço uma voz feminina atrás de mim e, quando me viro, vejo Dafne com a testa sangrando. O que ela disse me atingiu com força.

── Não, não matei, foi um acidente, você viu!

── Aiden você causou esse acidente, você matou o Peter! ── Ela grita e começa a soluçar.

Chamas da paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora