Acho que nunca me senti tão bem por colocar os pés dentro do meu lar. Finalmente não fazia mais parte daquele ambiente onde entre quatro paredes o cheiro de álcool era predominante e cuja cama era desconfortável. Mesmo contente por poder sentir o aroma de lavanda do ambientador em casa, a minha mãe não parava de mencionar sobre os novos hábitos que precisava de adotar a partir de então. Mal entrou, procurou verificar se estava nos armários da casa tudo o que fora prescrito pelo médico.Sentia-me vulnerável e sensível; isso não me fazia bem. Parecia que era um peso morto para todos e nem se quer conseguia aguentar-me de pé. O meu corpo – mesmo depois de ter comido muito bem no hospital que, a propósito, estava uma delícia – estava fraco. Se calhar as coisas seriam melhores se eu não tivesse nascido. Não sei. Talvez. Já dei tanto trabalho para meus pais e não duvido que continuarei a dar. Excluindo esse meu desinteresse em cuidar da minha saúde, que me levou ao hospital, tinha o meu vício. Ela provavelmente já sabia disso, mas não tocara no assunto até então e isso me angustiava.
Não conseguia esquecer a voz misteriosa do hospital que, por ora não tinha dono. Talvez era apenas fruto da minha imaginação, sei la. Desde daquela tarde, sentia como se existisse uma saída, mas eu não a enxergava.
A Sarah não estava. Pelo que sabia até o momento, ela quis passar algum tempo com o marido. Espero que seja realmente isso. Meu pai tinha viajado bem no dia antes de eu receber alta. Preciso resolver algo com urgência foram as últimas palavras dele antes de partir sem ter um dia para voltar.
Sentia falta daqueles momentos, quando ainda era criança e recebia a atenção dele. Mesmo sendo pouca, era acolhedor poder brincar e correr de um lado para o outro com ele. Mas, com o passar do tempo, essa amizade e intimidade desapareceu. Eu não colocaria a culpa disso nele, pois, o meu comportamento também influenciou nisso. Me distanciei de todos quando a perdi.
— Gabriel! — Amanda estalava os dedos, na tentativa de me “acordar”. — Terra chamando Gabriel.
— O que foi? — A Barbie estava tão próxima a mim que era possível sentir o respirar dela, que logo se tornou ofegante. Ela deu um passo para trás, olhando para cantos aleatórios, enquanto suas bochechas coravam.
— Eu vim ver-te! Afinal, estou preocupada com você. — Afirma, ainda envergonhada.
— Mas não foste me visitar no hospital. — Disse indignado.
— Claro que fui! — Aquela resposta fez todas os questionamentos dissiparem, dando lugar a outros.
A Amanda é cristã? Como assim?
Não sabia explicar, mas ficaria feliz se ela fosse a dona daquela voz. Aquela saída, que antes era invisível, tornou-se tão claro. E isso indicava que eu não estava enlouquecendo, ou pelo menos pensava que sim. Queria crer nisso, mas também não pretendia me deixar levar por uma suposição, afinal, a Barbie não disse que tinha cantado para mim. Cansado de tanto pensar, levantei-me, com o intuito de subir para o meu quarto e dormir, mas, assim que pisei o primeiro degrau, fui barrado pela senhora Paula.
— Gabriel, esse estômago não vai se encher sozinho. — Disse. — Além disso, — Apontou para a Amanda. — por isso, desce.
Sem muitas opções, desci e sentei-me ao da Amanda, que parecia perdida em algum pensamento. Por fim, fiquei, assim como a Barbie, perdido em muitos pensamentos, mas, não deixava de levar uma colher à boca, pois Paula não parava de me alertar. Quando terminei, finalmente fora do alcance da minha mãe, subi para o quarto enquanto Amanda ajudava na cozinha.
Mesmo não gostando tanto daquele cómodo como antes, era o único lugar onde eu podia esconder-me e não sentir vergonha dos meus atos. Estava tudo muito bem arrumado e aquele odor característico do cigarro não estava mais entranhado nas paredes. Analisava todos os cantos do quarto e reparei que tinham adicionado alguns quadros com fotografias de quando eu era mais novo. Aproximei-me de um dos e pude perceber o quão feliz eu estava naquele dia. Não me recordava o que acontecera naquele dia, mas o brilho que o meu olhar carregava estava perceptível.
Felicidade. Algo que, para mim, era impossível alcançar. A fada madrinha do Shrek disse: A felicidade está a uma lágrima de distância, mas já derramei tantas e essa distância apenas aumentava, assim como o vazio que tenho em meu coração. Qual seria a peça que melhor encaixaria naquele buraco enorme em meu peito? Ou qual seria a lágrima que traria até mim a felicidade que tanto almejava? Talvez essas respostas não existiam e eu não tinha forças para as elaborar.
Então, eu nunca voltarei a ser feliz? É isso?
Ainda com o olhar penetrado naquela imagem, ouvi uns passos curtos se aproximando do meu quarto.
— Filho? Está tudo bem? — Assenti. — A Amanda já foi embora. Podemos conversar?
Eu ainda não estava preparado para aquela conversa, mas, mesmo que estivesse, iria improvisar todas as falas no momento. Não conseguiria me livrar desse assunto, pois, mais cedo ou maus tarde, teria de tocar nele.
— Sim, mãe.
Olaaa! Capítulo não tão longo, mas cheguei! Então? Gostaram?
Deixem a estrelinha para mim aí e comentem!Abraços quentinhos e fiquem com Deus ( ◜‿◝ )♡
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Meu Oceano
Spiritual: 𓏲🐋 ๋࣭ ࣪ ˖✩࿐࿔ 🌊 "Os dias são sempre tristes" - Gabriel Wall Gabriel acreditava que com o seu jeito melancólico e frio, as pessoas afastariam dele facilmente, sem que ele precise se esforçar muito. Porém, isso foi diferente com Olívia, uma me...