O Gabriel Wall podia mudar.
Ultimamente aquilo que pensava e também desejava. Tinha construído um murro à minha volta com medo de ser ferido e de ferir alguém. Eu apenas precisava afastar as pessoas e elas não faziam falta. Eu não preciso de ninguém na minha vida. O peso da culpa era doloroso demais e ninguém iria ajudar-me a suportá-lo, e mesmo que quisessem, era uma dor que eu não queria partilhar com os outros. Eles não seriam capazes de compreender. Provavelmente diriam o que todos antes disseram: a culpa não foi tua, e estava farto de ouvir aquilo. Eu apartei-me das pessoas e deixei-me ser afogado pelas dores do passado, indo ao fundo do oceano, onde não há luz, e pouca vida.
Mas, mudar é difícil, não é?
Durante as últimas semanas, pude reviver o que era ter pessoas próximas, que não se incomodavam comigo, mas que me consideravam como um amigo. Acreditei que nada mudaria, eu não queria que aquilo terminasse, mas, quando terminarem as atividades de grupo, tudo voltaria ao que era antes. Eu, completamente sozinho. Não era um cenário estranho, mas estava com medo de ter-me habituado a tê-la por perto.Olívia… eu sou tão idiota.
— Filho? — Olhei para minha mãe que me encarava preocupada. — Está tudo bem?
— Aham — Murmurei.
— Ficou tão frio de repente. — Disse, abraçando a si mesma.
— Eu disse que devíamos ter vindo de carro.
— É, mas antes não fazia tanto frio assim. — Ela aproximou-se de mim, e beijou o meu rosto. — Obrigada por teres vindo. Foi divertido, não foi?
Olhei para ela, que carregava um sorriso sereno, enquanto enrolava seu braço no meu corpo. Eu hesitei. Não deixava de pensar em como fui rude e frio com a Olívia. À medida que afastávamos de sua casa, pensava que estava a perder a chance de desculpar com ela. Mas, no fundo eu aceitei aquilo. Meu orgulho falava mais alto. Pensei que seria melhor assim e que eu não merecia ter alguém como ela, ou qualquer outro ao meu lado. Apesar de desejar alguém para conversar, alguém que me salvasse, mas não existia tal pessoa.
— Você não gostou de ter vindo? Pareces aborrecido.
— Só estou cansado. — Ela compreendeu, e caminhamos em silêncio até chegarmos em casa.
Foi em direção ao meu quarto e joguei-me na cama. Não queria pensar muito no que tinha acontecido, caso contrário não dormiria em paz. Encostei a cabeça na almofada e, antes que pudesse cair no sono, o meu celular vibrou, fazendo-me despertar. Ignorei, mas segundos depois pensei, que talvez pudesse ser a Olívia. Foi muito idiota pensar que ela me enviasse uma mensagem àquela hora. Queria acreditar que era ela e, talvez podíamos nos resolver, mas era apenas um email irrelevante.
Na manhã seguinte, acordei mais cedo que o normal. Precisava compensar o pouco desempenho que tive naquele final de semana. Àquela altura, minha mãe já tinha ido à igreja, então, estava sozinho. Preparei minha refeição e, enquanto comia, ouvi a porta a bater e fui ver quem era. Não podia ser minha mãe, ainda estava muito cedo para ela voltar, então só podia ser uma pessoa.
— Que estranho. Vieste encontrar-me à porta. — Ele disse, observando a casa que ele não entreva há quase um mês. — Sentes-te tanta a minha falta?
Recordei-me de quando era mais novo, e sempre ia ao encontro dele, com um abraço. Eu sentia tanta falta dele que não saía de seus braços horas depois de ter voltado. Era difícil tê-lo em casa todos os momentos, especialmente quando aconteciam coisas corriqueiras e simples, mas que para uma criança, eram histórias com bastante imaginação incluída. Aquela relação arrefeceu até chegar ao ponto onde estávamos. Meu pai tornou-se um homem frio que não se importava com a família e pensava que passar meses fora de casa não era ruim pelo simples fato de aquilo ser o motivo pelo qual vivemos uma boa vida, sem problemas financeiros, porém, com falta de amor e atenção.
— Oh, por favor. — Revirei os olhos e dei meia volta, retornando para a mesa.
— Queria encontrar sua mãe em casa. Ela não consegue faltar ao culto pelo menos um domingo?! — Ele sentou-se à minha frente, e pela primeira vez, ele não tinha o celular na mão, mas este estava no meio da mesa.
— E tu? Estás sempre fora de casa, não telefonas nem envias uma mensagem se quer! — Eu sabia a desculpa que ele ia dar.
— Gabriel, não fales assim comigo! Eu sou o teu pai. — Que belo pai tu me saíste. — Eu estive ocupado com o trabalho. Não devias ser tão ingrato e mal-educado, sabes que eu quero o melhor para vocês. — Já aguardava o famoso discurso e até perdi o apetite.
— Ocupado, né? Queria saber o que tanto fazes que nem se quer tens tempo para um telefonema.
Ele abriu a boca, mas uma notificação no aparelho dele chamou a nossa atenção. Uma mensagem para ser mais preciso e, mesmo sentado consegui ler.
Malorie:
Chegaste bem em casa, querido? Já estou com saudades.
Não, isso não pode estar-
Ele esticou a mão para apanhá-lo, mas fui mais rápido do que ele. Reli aquele texto muitas vezes, sem acreditar que era real.
— Mas que-
— O que foi, Gabriel? Dá-me o celular. —Percebi, então que ele não tinha visto a mensagem.
— Quem diabos é a Malorie? — Seu olhar mudou e senti sua respiração ficou pesada. — Estás a trair a mãe, seu pedaço de mer-
— Olha a boca! — Ele manteve a pose séria, mesmo depois de ter ido pego no flagra. — Tu, sabes como são as coisas, filho. As vezes-— Não, Edward, eu não sei. — Ele não me pareceu gostar de ser chamado pelo seu nome, mas não me importei. Ele suspirou profundamente e começou a falar.
— A sua mãe…, nós…, as coisas já não são as mesmas. Todo aquela paixão sumiu e, tu sabes como são os homens. — Balancei a cabeça negativamente o que o fez suspirar. — De qualquer forma, precisava de algo, de alguém para satisfazer-me. E bem, não pude resisti. Somos fracos.
— Não! Tu é quem és um fraco! — Senti o meu sangue ferver. — Que porra, pai! Fazes sempre essas tuas “viagens” para te deitares com uma outra mulher, enquanto isso a mãe tá aí, a lutar por esta família, a suportar a solidão de não te ter por perto. A culpa por essa paixão sumir é completamente tua! Se passasses mais tempo com a gente, com ela- — Estava prestes a chorar de tanta raiva. — Ela não merece isso! Eu não posso permitir que-
— Então, vais contar-lhe? Achas que ela não anda a fazer a mesma coisa?
— O quê? Como podes pensar isso dela? — Ele soltou um riso, o que me deixou ainda mais irritado. — Tu vais contar-lhe ou conto eu. — Ele riu. — Qual é a graça?!
— Não consegues viver sozinho como a ovelha negra e tens de me arrastar contigo, não é? — Olhei confuso para ele. — O que foi? Não achas que ela já sofre o suficiente contigo?
— Do que estás a falar?
— Pobre Paula. Esposa de um adúltero e mãe de um assassino.
Olha quem apareceu depois de dois meses.🤡
Sinto muitíssimo pelo sumiço!
Então? O que acharam?
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Meu Oceano
Spiritual: 𓏲🐋 ๋࣭ ࣪ ˖✩࿐࿔ 🌊 "Os dias são sempre tristes" - Gabriel Wall Gabriel acreditava que com o seu jeito melancólico e frio, as pessoas afastariam dele facilmente, sem que ele precise se esforçar muito. Porém, isso foi diferente com Olívia, uma me...