Capítulo 4

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    Se calhar foi muito imprudente da minha parte deixar a chuva molhar-me por completo, sem se quer preocupar-me com os demais estragos que isso causará nos meus materiais

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    Se calhar foi muito imprudente da minha parte deixar a chuva molhar-me por completo, sem se quer preocupar-me com os demais estragos que isso causará nos meus materiais. Devia estar correndo, mas era muito bom sentir a água bater na minha face e escorrer por todo o meu corpo. Sabia perfeitamente que entrar em casa naquele estado seria o motivo de muito falatório. A mãe sempre dizia que os pais devem repreender os seus filhos, no entanto, ela deixava essa tarefa para seu marido, muitas vezes. Porém, doía muito mais ver o olhar de deceção dela do que ouvir a repreensão do pai.
    Cheguei em casa e entrei de forma silenciosa. Apressei os passos, procurando não ser descoberto pelos meus pais, mas uma voz fez-me parar bruscamente.

— Gabriel?! — Reconheci a voz, e ela não era da minha mãe.

— Sarah? Você voltou! — Abracei a mulher e ela, sem se importar com o meu estado, retribuiu. — Como está o senhor Martinez?

— Muito melhor, graças a Deus. — Afirmou com um sorriso radiante.

    Sarah era nossa empregada e, por causa da doença do marido, ela partiu para a Europa. Foram necessários muitos meses para acostumar com a ausência daquela mulher. Eu tinha uns dez anos quando ela partiu. A segunda mulher que me amava e aquele sentimento era recíproco.

— Como você cresceu! E está muito lindo. — Ela apertou as minhas bochechas e senti uma enorme nostalgia. Analisou-me e acrescentou — Se o senhor Wall te ver nesse estado…

— Não fala para ele, ?

— Não será preciso. — Uma voz firme soou na sala, causando um certo arrepio no meu corpo. — Gabriel, gostaria de me explicar por que o senhor voltou para casa nessa chuva? Acredito que dinheiro para pagar um taxista não falta.

    O silêncio instalou-se e eu permaneci cabisbaixo, observando as pequenas gotas de água que caiam do meu cabelo. Claramente eu teria que mentir. E já tinha elaborado aquela frase, quase perfeita, mas não conseguia pronunciá-la. Suspirei profundamente, e decidi não responder e sair dali, mas uma voz — se calhar, a minha favorita — soou.

— Meu Deus, Gabriel! O que aconteceu? — Mamãe aproximou-se de mim e pousou suas mãos tão macias na minha face, acariciando-a como só ela fazia.

    Seus olhos carregavam uma certa preocupação e eu sabia que ela não estava a fingir, como meu pai muitas vezes fazia. Com ela era tudo mais fácil; tudo fluía. Se calhar, eu não desisti de tudo ainda por causa dela.

Ah, como eu te amo.

— Eu estava pertinho de casa e começou a chover. Então pensei que seria um desperdício pegar um táxi e continuei a pé.

— Está certo, mas vá tomar um banho quente e faça-me o favor de procurar uma maneira de secar os teus materiais. — Era uma ordem, mas soava como uma suplica. — Sarah, por favor, prepare um chá para ele. Vamos. — Ela deu um leve tapa nas minhas costas e eu saí dali, ainda com gotas de água pingando das minhas roupas e do meu cabelo.

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