O oceano consegue ser tão belo, ainda assim, tão misterioso e assustador.
Estar abraçando o Gabriel fez-me perceber que ele era como o oceano. Hora calmo, hora turbulento; via seu ser exterior, mas o que será que existia no interior?
Eu sabia que não o conhecia tanto assim, mas não tinha medo de mergulhar mais a fundo, da mesma forma que o homem mergulha nas águas, mediante o desconhecido, para se maravilhar com as inúmeras descobertas que o esperam.O quanto ele teve de aguentar para não se partir completamente? A forma como ele chorava e culpava-se demonstravam o quão ele tinha segurado aqueles sentimentos em seu coração por muito tempo. Mas, ainda assim, ele manteve-se inteiro. Ele era forte, mas parecia não notar isso.
— Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida pelos seus amigos.
Quando ouvi aquela frase pela primeira vez, eu fiquei intrigada. Parecia algo tão irreal e até me questionava se alguém teria tanto amor assim, se não Jesus. Mas, a chamada para amar como Ele nos ama era exatamente isso. Amar de forma altruísta e sacrificial, um estilo de vida para os outros, e conseguia-se ver esse amor na atitude daquela criança, que deu a sua vida para o rapaz que me observava.
Seu olhar fez o meu coração despedaçar. Ele pareceu hesitar, mas voltou a abraçar-me, ainda chorando.
Pude sentir meu ombro ficar ligeiramente molhado pelas lágrimas dele, e ele também percebeu isso, e afastou-se. "Desculpa..." ele disse no meio dos soluços e com uma voz trémula. Apenas balancei a cabeça, para que ele não se preocupasse com aquilo.
Não pude dizer coisa alguma. Só consegui sorrir para ele e ele retribuiu. Eu não tinha noção do que era perder uma pessoa tão querida.
Sinceramente... eu não sou tão boa com palavras assim.
Ele eventualmente acalmou-se e voltou a observar o mar. Os longos e profundos suspiros demonstravam o quão leve ele estava naquele momento, apesar da dor.
— Sinto muito... — Sussurrei olhando para ele.
— Obrigado. — Ele levantou-se e ofereceu-me a mão. — E se caminhassemos um pouco?
Ele estava sorrindo. Não sabia bem como descrever, mas senti-me aliaviada em ver que ele parecia estar um pouco melhor.
Segurei a mão dele e ele ajudou-me a levantar. Com pequenos passos, caminhamos pela praia, acolhidos pela brisa fresca e salgada.Não havia muitas pessoas ali, o que era de se esperar numa tarde de sexta-feira durante o novembro.
Ele andava lentamente à minha frente, observando o horizonte. O céu estava lindo, apesar de algumas nuvens quererem tomar conta daquele azul. As águas do mar moviam-se calmamente, produzindo uma melodia linda.O Gabriel então parou e caminhou em direção ao mar lentamente. As pequenas ondas batiam em seus pés e ele observou-me com um olhar convidativo.
— Não. Não vou! A água dever estar muito fria! — Disse firmemente.
— Vá lá. — Ele riu. — Não está tão ruim assim.
Respirei fundo e caminhei até ele. Quando a água alcançou meus pés soltei um grito, o que o fez rir ainda mais. A água estava terrivelmente fria e o fato do Gabriel não parecer se importar era o mais intrigante.
Como ele consegue?
— Sabe, ontem foi um dia... incrível. — Ele olhou para mim por alguns segundos antes de continuar. — Eu... nunca imaginei que poderia viver algo assim.
Ele olhou para o céu enquanto as pequenas ondas frias batiam nas nossas pernas.
— Ele me vê, não é?
— Sim... Ele sempre te viu e sempre verá.
Pude ver um pequeno sorriso se formando em seus lábios. Ele parecia em paz, finalmente.
— Olívia, me perdoe. — Ele voltou seus olhos para mim. — Por todas as palavras que eu te disse. Eu fui uma pessoa péssima com você. Espero que você não esteja chateada ainda...
— É claro que eu te perdoo, Gabriel. Eu não guardava rancor algum para início de conversa. — Sorri.
— Mas, podias.
— Podia, mas do que me servia? E se Deus guardasse rancor e não nos perdoasse?
Ele olhou para mim, parecendo confuso.
— O que aconteceria? Se Ele não nos perdoasse?
— Bem, não teríamos a oportunidade de ter um relacionamento com Ele. De ter nossa vida restaurada. Por amor, Ele se scrificou e está disposto a nos perdoar se nos arrependermos.
Ele ainda parecia confuso. Voltou a olhar para o céu que lentamente era tomado por nuvens cinzas.
— Eu... não acho que Ele poderá me perdoar.
— Se estiveres arrependido e disposto a mudar é claro que Ele irá te perdoar. — Ele voltou a olhar-me como se precisasse de uma garantia. Eu assenti apenas e acho que ele entendeu o recado.
— Vou ter isso em mente.
Caminhamos por mais algum tempo e poderiamos ficar por mais se não fosse por causa do frio.
Secamos nossos pés e fizemos o caminho de volta para casa. O clima tenso foi lentamente dessipando e dando espaço a verdade de Deus sobre seu amor e perdão. Eu podia ver que a cada frase, Gabriel parecia mais interessado em compreender aquela verdade. Uma pequena luz esperançosa acendeu-se em mim, desejando que um dia, ele pudesse contemplar completamente do que Deus tinha a lhe oferecer.
Quando aproximavamos da casa dele, notamos alguns pacotes da rua à frente e uma menina viu-nos e correu em nossa direção.
— Gabriel! — a menina acenou, acompanhada de uma outra pessoa.
— Amanda... — Ele sorriu. — Pensei que já tinhas ido.
— Eu não iria sem me despedir de você, seu bobo! — Ela sorriu e depois olhou para mim, e segurou a minha mão. — Eu lembro-me de você! Sou a Amanda.
— Prazer! Olívia. — Sorri, apreciando a gentileza dela.
— Espero que o Gabe não esteja sendo muito chato com você!
Voltamos nosso olhar para o Gabriel e percebemos que ele observava a outra pessoa que acompanhava a Amanda, com uma expressão confusa. Da mesma forma, o rapaz olhava para o Gabriel.
— Você...?
— Gabriel... — O outro rapaz sorriu levemente. — Quais são as chances de nos encontrarmos exatamente no dia da morte da minha irmã?
Um presentinho de natal kkkkk. A faculdade tomou o melhor de mim e tive de fazer uma pausa 😭 mas voltei!
Espero que vocês entendam.
Beijos e abraços quentinhos (。>‿<。)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu Oceano
Spiritual: 𓏲🐋 ๋࣭ ࣪ ˖✩࿐࿔ 🌊 "Os dias são sempre tristes" - Gabriel Wall Gabriel acreditava que com o seu jeito melancólico e frio, as pessoas afastariam dele facilmente, sem que ele precise se esforçar muito. Porém, isso foi diferente com Olívia, uma me...