Capítulo 36

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“ Não se preocupe, tudo vai melhorar. Começamos juntos essa história e é assim que vamos terminar. É uma promessa.”
Mushu, Mulan

O silêncio pairava pela caverna. Todos dormiam depois do cansativo ritual, que havia despertado as mais desconhecidas sensações em cada um deles. Todos com exceção de Morgan e Lyones.

Aquele dia em especial, a magia havia desperto em ambos sentimentos intensos demais, e foi por essa razão que Morgan colocou Aura ao lado de Yanna, no quarto de Eileen e, em seguida, foi para seu quarto. 

Ele precisava respirar, acalmar seus ânimos e pensar em como agiu mal, no entanto, assim que chegou ao cômodo, encontrou Lyones lá. E depois de muito conversarem, percebeu que ele não era o único que se ressentia por suas atitudes no ritual. 

— Sabe o que eu acho sobre isso, sempre soube minha opinião — Morgan retomou a conversa que antes tinham. — Precisa falar com ela. 

Lyones estava recostado sobre a poltrona de cor escura, de frente a Morgan, que jazia esparramado sobre sua cama. 

 — Da mesma forma que você irá conversar com Aura sobre o quase "passo adiante" de vocês? — Lyones perguntou com ironia.

Morgan ficou em silêncio, não era preciso mais ser dito nada. Os dois sabiam muito bem o que fariam nas horas seguintes; fingiriam que nada havia acontecido. Algo bem comum entre eles, os dois quase sempre agiram assim quando se tratava de assuntos do coração. 

— Estou feliz que tenha desabafado comigo — Lyones admitiu, mudando o assunto. 

— Também estou feliz em saber que não sou o único que fugiu como um covarde — Morgan endireitou a posição, sentando-se sobre a cama — Faz bem para o meu ego. 

E, mesmo diante da situação improvável, os dois riram. Naquele momento, Morgan se deu conta do quão bom era ter um amigo. 

Pois era isso que Lyones era, seu melhor amigo. 

Ele sempre esteve com ele, em todas as situações. Inclusive estava com ele agora, mesmo que na maioria das vezes Morgan agisse como um resmungão ingrato. Havia sido ele quem lhe deu forças depois do ritual fracassado, forças para tentar de novo e também havia sido ele quem evitou que Morgan sucumbisse a dor, anos atrás... 

— Lyones... Eu... — Morgan gaguejou e o amigo arqueou as sobrancelhas em confusão.  — Eu não sei o que teria me acontecido sem você. 

Um sorriso pálido e até um pouco tímido se escondeu no canto dos lábios de Lyones, enquanto Morgan sabia que, pelo olhar opaco e quase sem vida do platinado, ele era levado para as dolorosas lembranças do passado, assim como ele próprio...

O cheiro putrefato do mofo, que cobria as pedras velhas e úmidas das paredes, coberto de sangue velho fresco parecia sufocá-lo, fazendo seus olhos arderem e seu nariz coçar, mas Morgan não poderia se importar menos. 

Pelos pálidos raios de sol que entravam sorrateiramente pela janelinha no teto, partículas de poeira dançavam pelo ar. A luz deixava a sombra quadriculada das barras de ferro enfeitando o chão sujo.

Chão em que Morgan se encontrava, abraçando as próprias pernas contra o peito e parecendo pequeno demais para um pré-adolecente. Suas roupas estavam tão largas que cobririam facilmente dois de si mesmo, o tecido era tão gasto e puído que mal o cobria, repleto de rasgos e buracos.  

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora