Capítulo 52

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“Eu sei como é se sentir diferente e o quão solitário isso é.” – Bela, A bela e a fera.

O mingau de Lyones parecia não ter gosto algum naquela manhã. 

Não que fosse culpa de Eileen. Lyones sempre soube que a bruxa era muito habilidosa na cozinha, seja preparando poções ou alimentos. E ela já havia feito aquele mingau de cor violeta, feita de uma junção de várias raízes diversas vezes, vezes o suficiente para Lyones saber que adorava. 

Mas ele acordou com uma sensação amarga em sua boca naquele dia. O daemon de cabelos prateados sabia que era injusto, principalmente dada a felicidade que Eden e Yanna emanavam, entrelaçados um contra o outro, tão colados que pareciam dividir a cadeira.

Os dois haviam chegado de mãos dadas, quando Lyones, Eileen e Ezra já estavam na mesa. Enquanto Ezra bufou audivelmente e Lyones deu um meio sorriso, Eileen olhou com interesse para as mãos unidas, mas nada foi dito. 

Eden parecia nos céus. Lyones tentou se lembrar qual foi a última vez que viu o amigo tão feliz. Ele sorria para tudo e para todos, ainda mais piadista que o normal e apenas riu quando Eileen o acertou com um pano, após ele dizer que as roupas de Eileen eram tão vermelhas que lhe faziam parecer uma serpente marinha. É claro que ele não entendeu o que disse de errado, mas riu da repreensão dela mesmo assim.

Yanna parecia constrangida, com suas bochechas levemente rosadas e a expressão séria no rosto, mas a impressão irritadiça logo sumia com o pequeno sorriso que ela lutava para conter. Eden tinha os braços ao redor dos ombros da ruiva, enquanto ela tinha uma das mãos sobre a coxa do rapaz. 

E foi naquele momento que Aura e Morgan adentraram a cozinha, também de mãos dadas. 

— Nós perdemos alguma coisa? — Foi a primeira coisa que Morgan disse ao cruzar o batente da porta e Lyones não podia julgá-lo. 

Depois da fase de brigas e discussões acaloradas pelos cantos, seguida da estranheza tensão repleta de risadinhas e pedidos de desculpa constrangidos, era profundamente surpreendente vê-los agarrados como um par de enguias. 

— Bem, eu gostaria de ter perdido. — Resmungou Ezra cruzando os braços.

— Ah, nem começa. — Replicou Eden, revirando os olhos. 

— Começo. Começo sim, sabe por quê? — Chiou Ezra, cruzando os braços. — Eu nunca vou me recuperar do trauma que foi chegar inocentemente no nosso quarto e deparar com vocês dois enrolados um no outro sem roupa alguma! — 

— Cale a boca, Ezra! — Yanna rosnou, por entre os dentes cerrados. 

Lyones, que já havia ouvido a história na noite anterior quando Ezra apareceu na porta de seu quarto no meio da madrugada como um cãozinho abandonado e o próprio travesseiro entre os braços, só pôde rir alto, principalmente dada a expressão de total choque de Aura enquanto se sentava e ele pôde ouvir, as suas costas, Eileen deixar algo cair. 

Mas nada foi pior para o novo casal que a gargalhada audível de Morgan. 

— Como vocês puderam, na frente do Ez? — Exclamou Morgan, com uma falsa expressão de horror. — Ele é só um bebê inocente! 

— É, seus depravados! — Ezra bufou. — Eu só só um bebê inocente! 

— Ah, Morgan, me deixe em paz! Acha que ninguém escuta o que você e Anne... — Eden começou, quando Yanna virou o rosto absurdamente vermelho para longe, enquanto resmungava algumas palavras de baixo calão. 

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora