Capítulo 23

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“Momentos desesperadores exigem medidas desesperadas.”
— Aladdin

Apesar do clima um tanto tenso que havia se instalado entre as famílias reais de Pérola e Alexandrita desde a discussão de Florean com as princesas do mar, os reis Florence e Poseidon, que tinham uma amizade fortalecida pelo tempo e por segredos partilhados, tentavam ao máximo amenizar a situação com pequenos encontros sociais. Sempre prezando por climas leves e neutros, regados por músicas suaves e aperitivos. 

Naquele momento em particular, ambos os reis, os três príncipes e as sete princesas se reuniram em uma extensa mesa de desjejum, em um dos salões do castelo.

A mesa de pedra era ovalada, seguindo o mesmo formato que o salão. Sua abóbada era extremamente alta e a madrepérola que a compunha havia sido esculpida em formato de uma mandala, pela segunda princesa, Melina e decorada com belos arabescos pela terceira princesa, Siren.  

Em dias comuns, as princesas estariam conversando em vozes altas, divergindo em suas opiniões e tendo conflitos, afinal todas as sete possuíam as mais distintas personalidades. Poseidon estaria se intrometendo aqui e ali, impedindo as coisas de se tornarem violentas ou interceptando quando alguma delas atirava talheres nas outras. 

Mas não naquela manhã. 

Todas as atenções na mesa estavam voltadas para a caçula da família, Airissa. 

A pequena ruiva, que costumava ser como um incontrolável tsunami, sempre falando muito, fazendo bagunça ou se metendo em problemas, estava em silêncio, sentada em sua cadeira enquanto ouvia quase hipnotizada Florean contando histórias. 

O príncipe herdeiro de Alexandrita narrava para a ruivinha histórias de amor, em terras desconhecidas e distantes, se eram fantasiosas ou não, ninguém sabia dizer, mas a forma teatral como rapaz narrava, mudando sua voz de acordo com os personagens e fazendo gestos para ilustrar o que dizia, mantinham os belos olhos da menina, que no momento brilhavam no mesmo tom de azul do mar ao redor deles, presos em si. Os olhos de Airissa não tinham uma cor fixa, em alguns momentos possuíam um azul quase negro, como o mais profundo oceano, em outros um verde-mar, ou um azul clarinho, algumas vezes quase cinzentos. Algo que estranhamente não ocorria com nenhuma de suas irmãs

— ... E então, depois de um beijo de amor verdadeiro, eles viveram felizes para sempre — ele finalizou, arrancando palmas empolgadas da menininha. 

— Conte mais uma! Mais uma! — Ela pediu, agitando sua cauda verde sobre a mesa. 

— Querida, deixe o rapaz comer — pediu Poseidon e Florean se encolheu diante da diferença. Após seu indigno escândalo, o rei dos mares passará a tratá-lo como "Rapaz", " Garoto" ou "Ele", jamais por seu nome ou título, como antes. 

— Papai, papai! Podemos ficar com ele? — Ela pediu, agarrando-se ao braço de Florean e ignorando totalmente o pedido do pai. 

— Tão nova e já ta querendo macho — resmungou Dione com uma expressão tediosa, causando uma careta em Nerissa. 

— Ai que orgulho, eu que ensinei! — Exclamou Cassiope emocionada.

Siren observava aquela situação com as sobrancelhas erguidas. Desde o momento em que Florean havia se sentado ao lado da menina, Airissa parecia incapaz de se desgrudar do ruivo. Mas o que mais impressionava Siren, era que ele não parecia nada incomodado, muito pelo contrário. 

Ele havia dado total atenção para Airissa, havia conversado com ela durante todo a refeição, com uma suavidade e um carinho com o qual Siren jamais havia o visto tratar ninguém. Seus olhos âmbar brilhavam e ele parecia adorar a atenção que a pequena lhe oferecia. Florean parecia tão leve, tão animado. Ela não sabia que ele gostava de crianças. 

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora