Capítulo 50

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"Vai se sentir melhor em pouco tempo."- A Pequena Sereia

A luz do dia era projetada pela janela mágica, fazendo com que uma suave luz invadisse o quarto bagunçado de Morgan.

Mesmo pela manhã, o frio ainda permanecia intacto e congelante, e Morgan apertou ainda mais o corpo de Aura, buscando mais do calor agradável que ela emanava. Havia despertado a alguns minutos, mas tudo ali era tão aconchegante, tão perfeito, e distante da tristeza de horas atras que ele se viu incapaz de se mover.

Aura estava encolhida entre seus braços, tão fofa quanto era possível ser. Os lábios avermelhados e o rosto corado, isso fez com que lembranças da noite anterior voltasse em sua mente, o sorrisinho abobalhado que surgiu em seus lábios foi impossível de conter. Ela o amava, se entregou a ele de corpo e alma, eram totalmente um do outro agora.

Não iria cometer os mesmos erros, de jeito nenhum. Estaria com ela, em todos os momentos. Não iria desperdiçar um minuto sequer, não depois de quase perdê-la. Não desistiria da cura, mas também não seria o egoísta que foi, deixando-a magoada e sozinha, enquanto lutava para encontrar algo que a deixasse viva, quando nem mesmo aproveitava o tempo que tinha. Tão igual a Florence que sentiu asco de si mesmo.

Morgan faria seu sol feliz, infinitamente feliz como prometeu no início e não cumpriu. E se não conseguisse reverter a maldição, se não conseguisse o que tanto queria, ele não ficaria sem Aura, partiria com ela. Mesmo que o ritual do Enlace não tivesse dado certo, havia o feito refletir sobre algo: Em hipótese nenhuma conseguiria sobreviver em um mundo onde Aura não existisse, então não iria, inclusive, já tinha algo em mente. Assumiria a culpa da morte da princesa de Alexandrita diante de Florence e seria condenado à morte por quem odiava.

Com gentileza, Morgan afastou seus braços dela, acomodando-a delicadamente sobre o colchão para que não acordasse. Agachado ao lado de sua princesa, Morgan observou cada detalhe dela, deslizou a mão pelos fios loiros, acariciando-a. Como queria voltar no tempo e reviver aquela noite, uma, duas vezes ou mais.

Afastando-se dela de forma relutante, Morgan vestiu uma calça de pano leve, e em passos silenciosos começou a caminhar pelo quarto, organizando algumas coisas, juntando cacos, se perdendo em meio aos pensamentos e a bagunça. Mas ele estava feliz, nunca havia se sentido tão feliz em toda a sua vida.

Por alguns minutos Morgan focou em sua organização. Afinal, não era bom que sua princesa acordasse em meio a tanta bagunça. Sorriu ao pensar nela se lamuriando por amar alguém tão desorganizado. E então neles se amando outra em meio a bagunça, ou então talvez com ela por cima dele, ou sentada sobre a bancada do banheiro.

E então, ele escutou uma vozinha baixa atrás de si: - Mor... - Mas não doce como ele imaginava.

O daemon mais rápido do que deveria, virou em direção ao som. Encontrando Aura sentada sobre a cama, com os olhos marejados e apertando os cobertores, cobrindo a nudez.

- Raio de sol, o que... - Morgan sentiu sua voz morrer, com medo de perguntar, com medo de que ela tivesse se arrependido de estar com ele, de querer alguém como ele.

- Suas costas... - ela sussurrou, tão frágil. Morgan piscou algumas vezes, perdido. Completamente perdido. - Cicatrizes, tem muitas cicatrizes.

Por um minuto ele sentiu um alívio percorrer por todo seu corpo, arrepiando-o. Um alívio que não durou muito ao perceber o quão assustada ela devia estar, ou a quanto tempo ela havia o observado.

Pensando na coisa que julgou ser mais sensata dizer, ele comentou: - Meu amor, isso... Tem muito tempo. Não tem que se preocupar.

- Ter muito tempo não significa que não estão ai - Aura murmurou, apalpando o chão e procurando algo que pudesse vestir, encontrando a blusa que ele trajava ontem e passando por seu corpo, enquanto ele observava cada movimento atentamente.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora