"Ao menos eu posso ver você...
Uma última vez" — Fera, A Bela e a Fera❀
Morgan sentia o desespero alastrar por todo seu corpo, enquanto, em sua forma híbrida, ele voava o mais desajeitado possível, vez ou outra se agarrando em galhos, que pareciam querer arrastá-lo para longe.
Pétalas de todas as cores voavam pelo ar, sendo arrastadas pelo vento e batendo repetidas vezes em seu rosto, fazendo Morgan ter que agitar-se para limpar sua visão.
Enquanto voava, suas feridas se abriam. A dor que se alastrava por seu corpo parecia insignificante, mas a forma como suas asas pareciam rígidas, pouco dispostas a cooperar com seu corpo ferido o faziam tremer de ódio. O sangue escorria, pingando pelo céu como uma chuva carmesim em seu rastro.
Não podia ser tarde demais.
Havia descoberto que Aura ainda estava viva, apenas para perdê-la? Não podia acontecer.
Ele reconheceu o jardim de flores gigantes quanto teve que desviar seu corpo de uma tulipa enorme e então, ainda no ar, Morgan a viu.
Pequenas criaturas coloridas voavam ao seu redor, iluminando seu rosto pálido com as mais variadas cores e parecia tão frágil, seu corpo bambeando levemente. Parecia um esforço terrível manter-se de pé, mas pelo pequeno sorriso em seus lábios, valia a pena.
Repentinamente, o corpo de Aura quase cedeu sobre o chão coberto por pétalas, mas antes que isso fosse feito, Morgan fechou suas asas, despencando-se do ar e voando até ela, segurando-a antes que atingisse o chão e envolvendo-a em seus braços.
Ele apertou seu raio de sol contra si, mal ousando acreditar que finalmente estava sentindo-a, tocando-a, mergulhando-se em seu cheiro. E que não era tarde demais.
— Mor... — Aura sussurrou, levando seus dedos delicados a lateral do rosto do daemon em um toque quase fantasma. — É você...
— Raio de sol. — Morgan sorriu em meio às lágrimas sentindo a mão da fada tremer contra sua pele.
— Você está ferido... — Ela murmurou, levando os dedos ao corte profundo em seu pescoço, que parecia ter voltado a sangrar.
— Não se preocupe comigo. — implorou, vendo a forma como seus lábios pareciam pálidos e secos. — Eu tenho tanto a te dizer.
Morgan disse sem conter as lágrimas. Dias sem saber se ela estava viva, dias achando que nunca a veria mais, dias se culpando, odiando a si mesmo...
— Shh... — Aura pediu, tocando os lábios dele com os dedos. — Preciso que me ouça primeiro.
Ele assentiu, apertando a princesa em seus braços.
— Por favor, não quero que se culpe, nem por um segundo. — Morgan mordeu os lábios, contendo-se para não refutar — Siga em frente, Mor, mais do que qualquer um, você merece ser feliz.
— Sem você?— Ele meio bufou, meio soluçou. — Nunca!
— Sempre impaciente... — Aura sorriu.
Morgan sentia seu peito partir em pedacinhos. Aquele não podia ser o último sorriso dela. Não! Não podia aceitar isso.
Aura o tocou no rosto com o polegar, acariciando-o. Os olhos dele tão verdes e intensos estavam cobertos por lágrimas e um medo desesperador. Talvez medo de lidar com tanta dor. Ela sentiu uma pontada em seu peito ao pensar que nunca mais veria aqueles olhos tão lindos.
E isso pareceu trazer a força que Aura precisava para prosseguir a conversa.
— Morgan, ou Male, acho que não importa na verdade... — Os dedos deslizaram para os fios negros que cobriam seu olho esquerdo. — Estar com você é mais do que eu poderia pedir, é como um sinal de bom presságio mesmo diante do caos. Como um arco-íris, surgindo após a chuva e preenchendo o mundo com suas cores, cores que nunca vi.
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Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de Alexandrita
Fantasy"Sua luz não deveria iluminar um monstro como eu" Nas mágicas terras de Feeryan, no belo reino de Alexandrita, uma terrível maldição foi lançada em uma alma inocente por um coração em busca de vingança. A princesa Aura, dona de um coração bondoso m...