Capitulo 76

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"Às vezes, nós só notamos o quanto as pessoas são diferentes de nós.
Mas se você olhar direito, você pode ver o quanto somos semelhantes." — Jasmine, Aladdin 2

O chão gélido e sujo das masmorras do mais baixo dos andares do Palácio Brilhante haviam se tornado familiar para Fault.

Cada dia com mais frequência, o príncipe de longos cabelos dourados caminhava até a cela onde Eredor se encontrava. Cada dia mais, o príncipe sentia seu coração apertado pela aparência decrépita do elfo e cada dia mais, Fault se ressentia de seu pai e seu irmão.

Naquele momento não era diferente, Fault estava sentado no chão de pedra, sentido a sujeira do lugar se agarrando a suas calças enquanto conversava com o elfo por trás das grades gastas. Eredor tinha seus cabelos, outrora tão claros quanto ouro branco, cinzentos graças à camadas e camadas de sujeira. Suas bochechas estavam fundas e seus ossos se ressaltavam pela pele, mas nada em sua aparência era tão distante do homem que o príncipe um dia conheceu, quanto o olhar cansado de Eredor. Era como se a tristeza corresse por suas veias onde deveria estar seu sangue. 

Mas sua mente rápida e palavras sábias ainda estavam ali, como um pequeno conforto diante de tantas mudanças.

— Não importa quantas vezes nos encontramos pelos corredores... — Fault suspirou, pensando em seu irmão de cabelos ruivos como o céu ao fim do dia. — Ele nunca fala comigo. Nem uma única palavra. 

— Seu irmão sempre foi complexo, Fault. — Eredor tentou consolá-lo. — Florence o criou para ser um líder, não um seguidor. É difícil para Florean considerar uma opinião diferente.

— Opinião diferente? — Fault bufou. — Ele apenas é incapaz de aceitar que é um feérico, propenso a erros como qualquer outro feérico, e não uma entidade divina. 

Uma risada oca deixou os lábios de Eredor, embora soasse estranha.

O som da risada morreu lentamente, deixando apenas um silêncio frio em seu lugar. Fault pensou no que poderia dizer, mas antes que pudesse chegar a alguma idéia, um estalo soou pela masmorra, ecoando como o som de um trovão, o fazendo pular.

Em um pequeno clarão violeta, uma carta enrolada surgiu no corredor pedregoso, a alguns metros de Fault.

— Mas o quê...?

— Deixe para lá. É claramente de Ametista. — Eredor suspirou, dando de ombros. — As cartas não chegam dentro da cela, é uma proteção mágica...

— Isso não quer dizer que deveríamos ler? — Murmurou Fault, lutando contra a curiosidade latente que ardia em seu peito. Deuses! Era de Ametista! O que certamente só podia significar ter algo em relação a Aura.

— Não... Eu não quero ter mais nada a ver com eles. — Eredor suspirou, abaixando o rosto sujo. Seus cabelos cinzentos escorreram contra seu rosto em uma cortina imunda, cobrindo-o da visão de Fault, mas o príncipe pode ver a forma como os ombros do elfo tremiam. — Eu fui enganado e, por meu engano, sua irmã podia ter sido perdida para sempre.

— Mas... — Fault olhou ansiosamente para o papel. — Mas pode ter... Na verdade, eu acredito que tenha algo a mais nessa história. Você não acha que vale a pena...? —

Eredor ergueu os olhos, para ver o olhar implorativo de Fault sobre o papel. Em um suspiro longo, Eredor apenas fez um gesto para indicar ao príncipe para fazer  o que queria.

Ao receber o consentimento, Fault agarrou o pequeno rolo de papel e o abriu. O cheiro exótico de jasmin, baunilha e ervas preencheu o ambiente.

"Lorde Eredor,

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora