Capítulo 66

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"É tarde demais para voltar atrás." — Cinderella 2

Nos dois primeiros dias após Aura ter mergulhado no peculiar lago de Sagittarius, era como se algo estivesse faltando em seu interior. Ela não sabia explicar exatamente o que aconteceu, mas era óbvio que algo havia acontecido.

A princesa se lembrava de entrar no lago multicolorido, se lembrava da sensação tão agradável e fresca da água gelada circulando, e lhe envolvendo. Ela se lembrava de, junto com o sol, mergulhar. Se lembrava de abrir os olhos dentro da água, vendo uma confusão de cores que ela nunca imaginou.

Mas então, logo depois disso só havia algo em sua memória: escuridão.

Ela não se lembrava de emergir da água, de sair do lago ou voltar para a tenda. Morgan disse que ela desmaiou e Styx, que não permitiu que ninguém se aproximasse da água além dela mesma, a tirou do lago e Morgan a carregou de volta para a tenda. No dia seguinte, o casal retornou para a caverna.

Durante todo esse tempo, Aura sentiu que algo estava diferente. Era uma sensação que ela não sabia explicar, quase como se algo houvesse sido tirado dela e ela não conseguisse descobrir o quê. A necessidade de descobrir o que faltava parecia incomodá-la como um espinho cravado em sua pele.

Morgan estava esperançoso que fosse a maldição, mas como não havia certeza, Aura se recusava a ter esperanças enquanto a bruxa Meagi não fosse até lá e a avaliasse.

Entretanto, mesmo que sem convite, a esperança nascia no coração de Aura, como uma erva daninha brotando em meio a um jardim bem cuidado. Até que, tudo ruiu naquela manhã, quando uma violenta queimação na parte de trás de sua cabeça fez Aura acordar.

A princesa pulou na cama com uma exclamação alta e, por um momento, foi incapaz de respirar. A dor parecia viva, movendo-se e expandindo-se para além de sua cabeça, deslizando por todo seu corpo.

A fada sentiu seu estômago se revirando e colocou uma mão aos lábios para se impedir de vomitar. Pelo Deus da floresta... Aura gemeu baixinho, enquanto rastejava para fora da cama.

Percebendo que era incapaz de se manter de pé, Aura cambaleou, apoiando-se nos móveis, para fora do quarto, até o banheiro, se aproximou da banheira, sentindo que ficaria melhor depois que tomasse um banho. Ledo engano. Antes que pudesse chegar perto de seu objetivo, Aura foi incapaz de conter uma nova onda de enjôo e pôs tudo o que veio para fora.

Mas não era bile, como ela imaginava. Era sangue.

Muito sangue. O líquido vermelho se espalhou por todo o chão do banheiro, assim como seu odor metálico. Aura tentou se impedir de vomitar mais sangue, mas era mais forte que ela e, antes que desse conta, estava de joelhos no chão diante de um grotesca poça de sangue.

Ela tentou se esticar para pegar um pano no armário e limpar aquela bagunça antes que Morgan visse, mas suas mãos tremiam e sua força não era o suficiente para se mover.

Repentinamente, um soluço escapou dos lábios de Aura, mais vieram logo depois. Lágrimas quentes brotaram nos cantos de seus olhos e ela se apoiou contra a parede, chorando copiosamente.

Seu choro alto chamou a atenção de Morgan e, para total desespero de Aura, ela pode ouvir passos correndo em sua direção.

— Raio de Sol! — ouviu a voz gritada de Morgan, antes de sentir braços quentes a envolvendo. — O deuses! Aura, você está bem?

A menina não quis olhar para ele. Não queria ver o medo e a preocupação que veria naquelas belas orbes verdes. Aura estava cansada de machucar as pessoas que amava...

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora