Capítulo 87

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"Então livres poderemos ser
Florescendo outra vez
E nascendo outra vez
E essa humilde alegria de viver" — A Bela e a Fera

Quando Phillipe bateu na porta do quarto de sua mãe, uma sensação desconfortável tomou todo seu interior, como se uma gigantesca serpente se contorcesse em suas entranhas.

A voz fria e feminina de sua mãe soou por trás da madeira, com um "entre" curto, Phillipe se sentiu ainda mais nervoso.

Ele abriu a porta lentamente, deparando-se com o interior. Os aposentos de sua mãe eram um dos lugares mais luxuosos que o lorde já esteve, com suas paredes cobertas de quadros e espelhos, todos ornados com grossas molduras de ouro puro; os móveis elegantes e requintados, quase exagerados em seus muitos detalhes e jóias incrustadas. Tudo muito cheio de luxo e brilho, como Phillipe sempre supôs que havia sido a vida dela em Âmbar.

— Oi, mãe. — Ele sussurrou nervosamente. Ele queria fugir, não queria enfrentá-la.

Lady Gaya estava sentada em sua cama, com um espelho de prata em uma das mãos, escovando seus longos cabelos loiros escuros com a outra. Phillipe raramente a via de cabelos soltos, ela normalmente os usava presos em penteados muito complicados e cheios de adereços.

Ela sempre foi orgulhosa de sua origem no reino das invenções, mas Phillipe sempre conseguiu enxergar que ela nunca tinha feito de Alexandrita um lar. Se ela não queria, ou apenas não conseguiu, ele nunca soube dizer.

— Como prosseguiu o julgamento? — Ela perguntou, deixando o espelho sobre a roupa de cama cheia de bordados, para olhar para ele.

— Você deveria ter ido. — Phillipe murmurou.

— Eu não gosto de julgamentos. — Ela decretou, sua boca se contorcendo em desgosto. — Eu não iria nem mesmo se fosse a minha vida em jogo. Sente-se e conte-me tudo.

— Eu nem sei por onde começar. — ele admitiu, sentando-se na cama o mais longe possível de sua mãe. Ele tinha medo do que ela faria, de como reagiria. Mas ela precisava saber. Phillipe não sabia o que aconteceria no reino dali em diante, mas duvidava que Gordon fosse viver por mais tempo e mulheres não tinham autoridades em Narciso. Sua mãe precisava ser avisada de que seu futuro era, no mínimo, incerto.

— Pelo começo seria uma boa ideia. — Ela ergueu uma sobrancelha para ele, e Phillipe se viu desviando o olhar. — E não se desleixe, erga os ombros corretamente.

Enquanto corrigia a postura e sentava-se com a postura adequada, os pensamentos de Phillipe corriam. Como ele diria para ela, para sua mãe, que havia condenado seu pai a uma possível execução? Como diria a ela que o traiu, que traiu seu nome, sua família e tudo o que ele foi criado para ser?

Mas Phillipe contou. Contou a ela cada detalhe, pois não se arrependia. Ele havia escolhido um lado.

E agora era a vez de Gaya escolher.

Phillipe jorrou para sua mãe cada um dos meros acontecimentos do dia, contou de Male, da declaração de Eredor, dos protestos de Gordon e do rei, da reação dos príncipes e... De quando ele leu a carta.

Nem um único músculo foi movido por sua mãe durante o relato, ela apenas ficou ali sentada, olhando para ele, em silêncio.

— E por que você fez isso? — Ela perguntou, olhando para o fundo de seus olhos. Sua expressão nada dizia, era como olhar para um quadro em branco.

— Porque Aura é minha amiga. — Ele confessou. — E porque eu amo alguém e quero protegê-lo.

Mesmo que sua expressão se mantivesse impassível, algo brilhou nos olhos de sua mãe, mas Phillipe não conhecia aquele olhar. Ele nunca havia o visto.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora