Capítulo 4

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Viva como se não houvesse meia noite. - Cinderella

Os anos passaram rápidos como o vento e junto com eles, a esperança de Aura também se fora completamente.

Agora com seus 19 anos e meio com uma alma gentil e bondosa, uma beleza de arrancar o fôlego e um coração que almejava liberdade, não havia nada que Aura quisesse mais que sair do palácio, e viver seus últimos meses de forma plena. Não tinha medo da morte, longe disso, achava bonita a forma como tudo tinha um início meio e fim, era uma beleza sombria tinha que admitir, mas não deixava de ser belo. Era também a única certeza que ela tinha, estava morrendo.

Aura acordou com o som dos pássaros e abriu os olhos preguiçosamente, observando com certa inveja a fluidez com a qual eles voavam, como fazia todas as manhãs. O que ela não daria para voar daquela forma, tão livre e despreocupada? Bater suas asas e subir, aproximando-se do céu, embrenhando-se nas nuvens e despedindo-se do chão.

Suspirando, Aura deixou seus devaneios de lado e iniciou sua rotina, há anos memorizada. Acordar, se arrumar e descer para o desjejum com seus irmãos, rir das discussões de Primrose e Florean, enquanto ajudava Fault a apartá-los, sem realmente prestar atenção no que fazia. Há anos tudo lhe era tão automático, como se vivesse o mesmo dia todos os dias

Caminhou distraidamente pelo corredor. Sua cabeça estava nas nuvens, onde ela também almejava estar. Queria bater suas delicadas e finas asas para longe dali, afinal elas eram a única coisa que comprovava que ela ainda era uma fada, mas nem mesmo isso tinha utilidade. Qual a graça teria voar da sala a cozinha e da cozinha ao salão do trono? Oras, nenhuma - Pensou ela.

- Pensando em fugir outra vez? - A voz do príncipe Phillipe tirou Aura de seus devaneios, e por um momento desejou que fosse um sonho, um sonho incômodo e inconveniente. Mas infelizmente não, ali estava ele, no meio do corredor parado a sua frente com seus curtos cabelos loiros e uma pose arrogante e prepotente.

- Ahn...Bom dia Phillipe - tentou lhe oferecer um sorriso gentil.

- Estava? - ele repetiu a pergunta, batendo o pé repetidas vezes, mas olhando-a com um sorriso.

- Não, estava indo encontrar meus irmãos - ela respondeu, sem se importar muito. Phillipe havia mudado muito desde a infância, mas Aura nunca soube dizer se para melhor ou não.

- Você...está muito bonita hoje, Princesa - o rapaz disse após alguns segundos de silêncio. Aura ergueu as sobrancelhas. Não era ele a me chamar de ratinha? - Pensou, risonha.

Antes que pudesse pensar em uma resposta adequada, uma voz masculina vinda de trás de si, fez Aura se virar.

- Aceita um babador, Phillipe? - disse Primrose, apoiando o braço contra os ombros de Aura.

- Ora, Primrose. O quão rude... - Phillipe resmungou revirando os olhos. - As vezes nem se parece com um príncipe.

- Oh mil perdões! - debochou Primrose. - Venha Aura, estávamos só te esperando.

Primrose a puxou para longe do herdeiro Narciso, lançando um ultimo olhar zombeteiro por cima dos ombros. Aura riu, embora tentasse se conter, afinal nenhum dos seus irmãos tinha muito apreço a Phillipe

O enorme salão onde o desjejum era posto, estava no mais repleto silêncio, ninguém ousava dizer nenhuma palavra. Florean saboreava sua torta de morango em silêncio, enquanto Primrose partia pedaços de pães para ele e Fault. Nada das brincadeiras, piadinhas ou discussões... Apenas o silêncio.

- Está bem vestido hoje Florean - Aura tentou, ganhando a atenção dos três.

- Obrigado, mas estou como em qualquer outro dia - sorriu para a irmã, e outra vez tudo ficou em silêncio.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora