Capítulo 83

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"Olhe em volta, ninguém está feliz."— A Pequena Sereia, A História de Ariel

Nada... Nada parecia fazer sentido para Florean naquele momento.

Ele havia perdido Aura, a pessoa por quem ele dedicou todos os seus dias. A pessoa que ele amou com todo seu coração e a única capaz de devolver o sorriso ao seu rosto. Nunca havia tido a coragem de admitir abertamente, mas sim, ele era um pai pra ela, ele era o pai dela. Claro, havia tido inúmeras falhas, mas ele era apenas alguém querendo acertar, querendo proteger e amar.

Havia errado tanto, justamente porque queria evitar esse dia. Florean queria tanto que esse dia nunca chegasse, que quase acreditou que talvez ele nunca chegaria.

E dessa vez não era mais um de seus pesadelos o assombrando. Era real, a ausência de Aura era real. Esse pensamento fez Florean sufocar o rosto contra o travesseiro, tentando conter outro grito doloroso, as lágrimas que desciam sem cessar, marcavam a fronha, deixando-a úmida.

Florean não conseguiria suportar viver em um mundo onde a coisa que mais lhe importava havia sido arrancada de si.

— Eu não consigo sem você, Aura —  murmurou aos soluços.

Lembrou-se dela, ainda pequenina, agarrando em suas pernas como um bebê coala; dela desenhando corações e flores em documentos oficiais, na expectativa de deixar seus deveres reais mais "felizes"; das noites que passou acordado ao lado dela, zelando pelo seu sono, que era constantemente incomodado por pesadelos; do quanto ficou orgulhoso ao vê-la se tornar uma mulher linda, adorável e mais corajosa que qualquer outro. Pensou em cada segundo que ele se dedicou para que Aura pudesse crescer da melhor forma possível.

Tudo o que havia feito; o excesso de proteção, o ataque a Ametista, os anos insistindo em uma cura. Tudo o que ele fez para mantê-la segura e por perto, acreditando que estava fazendo o melhor para ela, tudo ruiu sobre seus ombros, sufocando-o com o peso do mundo.

Ele só queria alguém para lhe confortar, alguém pra dizer que tudo ficaria bem, alguém pra lhe convencer que desistir de tudo não era a solução, alguém pra lhe afirmar que no fim da tempestade sempre tem um arco íris... Ele queria um amigo com quem pudesse dividir o luto.

Por um momento, Florean desejou que seus irmãos estivessem ali com ele, mas logo afastou a ideia. Depois de tudo o que aconteceu, aquilo era impossível. Seus irmãos... Aura... todos muito longe para que ele pudesse alcançá-los, muito longe para salvá-lo de se afogar em sua dor.

Em um rompante de desespero, Florean se esticou para fora da cama, puxando de sua mesa de cabeceira um pequeno rolo de pergaminho e uma pena, se preparando para escrever.

"Para Siren,
A única amiga que já tive.

Eu respeitei o que me pediu, não procurei por você durante as últimas semanas, por mais que isso me doesse profundamente, mas...

Mas eu não tenho ninguém em quem eu confie tanto quanto você e... eu estou com medo.

Eu não sei se sabe que dia é hoje, provavelmente não com tantas coisas relevantes acontecendo em sua vida. Eu soube que vai se casar, então, posso imaginar que tenha muitas coisas acontecendo ao seu redor.

Mas hoje é o dia em que eu perdi minha irmã, Aura. Ela se foi para sempre, está morta.

E eu não pude fazer nada.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora