Capítulo 38

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"Preparem-se. É a segunda chance de vocês, não desperdicem."-
Lady Tremaine, Cinderella 3

Aura sentia cada mínima e insignificante parte de seu corpo doendo. Seus músculos, tensionados em protesto e sua pele ardia pelo desgaste causado pela terra.

Ela se ergueu, apoiando-se nos cotovelos, meio confusa, enquanto sua cabeça girava um pouco. A princesa ainda podia ouvir a voz cheia de preocupação de Morgan a chamando, mas ela não queria olhar para ele.

Sentindo-se irritada pelo momento constrangedor, Aura tentou se erguer do chão com o máximo de dignidade que seu rosto sujo de terra e os pequenos ralados em suas pernas lhe permitiam, mas antes que pudesse fazê-lo, uma dor estonteante em seu tornozelo a fez parar.

Aura olhou para baixo, tentando entender de onde vinha tal dor, entretanto, seus olhos se arregalaram de medo ao ver o que ela julgou serem grandes tentáculos negros rastejando para fora da terra, como várias serpentes, e envolvendo suas pernas em um aperto de ferro.

Sua textura era grosseira e dura, totalmente áspera, e Aura não demorou para notar que na realidade não eram tentáculos.

Eram raízes.

Aura tentou se debater, mas as raízes deslizaram por suas pernas, raspando violentamente em sua pele, envolvendo-a como um casulo. Logo seu tronco e seus braços foram envolvidos pelas raízes, que a arrastavam pelo chão.

Aura gritou, tentando se debater ou agarrar alguma coisa, o aperto ao redor de seu corpo só se intensificou. Uma dor aguda no centro de suas costas a fez arregalar os olhos e gritar como nunca. Suas asas!

O pânico encheu os pulmões de Aura, que se tornava incapaz de respirar. Ela queria gritar, queria chorar, queria pedir por socorro, no entanto, o aperto em seu corpo e o medo que a consumia logo a tornaram incapaz de usar a voz.

Naquele momento, um vulto negro atravessou a visão turva de Aura, avançando contra as raízes. Morgan!

O brilho furioso que tomou os olhos verdes do rapaz poderia destruir exércitos inteiros. Ele ergueu as mãos acima da cabeça e rosnou quando uma névoa surgiu de suas palmas.

Um súbito mal estar a tomou quando chamas negras surgiram ao seu redor, crepitando e queimando as raízes, sem nunca tocá-la. Guinchos horríveis de dor preencheram todo o espaço quando as raízes começaram a recuar, tentando voltar para o subsolo e se proteger, mas Morgan não permitiu. O daemon rugia, ensandecido, enquanto disparava chamas negras pelas mãos em direção ao solo, sem se comover com os gritos da planta.

O rapaz voltou sua atenção para a gigantesca árvore sem folhas, que parecia se contorcer, tremendo diante das chamas, erguida a poucos passos atrás de Aura. Com uma velocidade que a princesa nem sabia ser possível, o daemon avançou contra a árvore agarrando-a com as mãos nuas e, com um urro furioso, a arrancou do chão, tombando-a para o lado.

Quando se viu livre de perigo, Morgan virou-se ofegante procurando Aura com os olhos e os arregalou, cheio de horror, quando a viu caída no chão, exatamente onde as raízes a haviam deixado. O moreno correu até ela, se ajoelhando ao seu lado.

A princesa tinha o corpo encolhido, com os olhos arregalados e cheios de lágrimas. Havia tanto medo em sua expressão que Morgan hesitou em tocá-la, temendo assustá-la ainda mais.

- M-minhas asas... - ela sussurrou, tão baixinho que ele se projetou um pouco para frente, para ouvi-la melhor. - Elas... Elas...

Não havia nada mais frágil do que as asas de uma fada. Sua textura macia e delicada, como a pétala da mais suave flor, era facilmente danificada e, se ferida, jamais se recuperaria. Não haviam segundas chances com asas de fada.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora