"As cartas! As cartas!
Vamos, peguem três
Vou abrir as portas do futuro a vocês!
Você, meu rapaz, é de muito longe daqui
E vem de duas linhagens reais, eu vi!"- Dr. Facillier, A princesa e o sapo❀
Morgan encontrava-se sentado sobre a grama, com as pernas estendidas e com as costas apoiadas contra uma árvore de tamanho surpreendentemente normal, enquanto lia um livro de capa verde, feito com folhas amarelas que o rapaz desconhecia a origem. As folhas eram tão antigas, finas e frágeis, que Morgan passava cada página com desgastante lentidão, segurando-a apenas com a ponta dos dedos.A brisa gélida balançava seu casaco feito de folhas secas, mesmo que o sol já começasse a brilhar no Horizonte. Sua atenção no momento estava estritamente ligada ao livreto.
— Regra Número 329, "Viver sempre em perfeita harmonia." — Morgan estreitou os olhos em desgosto, ao perceber o quanto aquilo era ainda mais ridículo sendo dito em voz alta. — Que imbecilidade, como se uma população inteira fosse capaz de estar em harmonia o tempo todo! — Ele suspirou em desgosto, fechando o livro com certa grosseria, espalhando alguns suaves grãos de pólen.
Quando Eredor lhe entregou esse livro, não imaginou a tamanha tortura que seria para lê-lo. Talvez fosse por esse motivo que o deixou de lado em seus primeiros dias na Corte Papoula. E foi pelo descaso que sentia no momento, que não notou a repentina aproximação da garota de longos cabelos loiros.
— Morgan... — ela o chamou, notando a irritabilidade na feição do rapaz, e que pareceu se dissolver em sua presença. — Podemos conversar?
Por alguns segundos ele pareceu sem fala, dividido em duas opções, mas por fim, optou pela mais fácil.
— Eu... Estou meio ocupado... — ele tentou se explicar erguendo o livro, mas foi interrompido por um arquejo impaciente.
— Oh por favor, você não quer ler essa droga de livro — a garota tomou o livro das mãos dele, com certa brutalidade, fazendo ele arregalar os olhos com descrença.
— Anne, eu...
— "Anne"... — ela resmungou com chateação, cruzando os braços. — Me pergunto o que aconteceu com o tal "Raio de sol."
— Como? — Morgan exclamou com perplexidade. Anne estava claramente furiosa. Não a fúria que ele já havia presenciado uma outra vez, aquela que quase podia queimá-lo fisicamente, mas uma ira gélida de quem tenta se conter. — O que foi?
— Por que está me evitando? — ela perguntou, descruzando os braços para levá-los a cintura.
— Eu não... — Morgan se preparou para rebater, mas ao ver os brilhantes olhos de Anne se estreitando com ainda mais ira, Morgan se impediu. — Eu só preciso de espaço.
— Espaço? — Toda a postura de Aura pareceu, não relaxar, mas apenas deixar a tensão se esvair aos poucos, ao notar que realmente havia um motivo por trás.
— Sim, eu.. Err... Olha, eu não quero falar sobre isso, tá? — Ele tentou, desviando-se do olhar que o perfurava como um belo par de adagas.
— Ah não? — Aura chiou, inconformada. — Ótimo! Mas lembre-se disso quando eu for embora e nunca mais te procurar!
— Não! — Morgan exclamou ao vê-la se virar para ir e, antes que pudesse pensar devidamente, agarrou-a pelo pulso. Ele não podia deixá-la ir, não assim. — Espere, por favor.
Ela, a contragosto, se virou na direção dele com uma expressão cética. Eles se encararam, dominados pelo silêncio pesado, antes da garota erguer as sobrancelhas em um questionamento mudo.
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Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de Alexandrita
Fantasy"Sua luz não deveria iluminar um monstro como eu" Nas mágicas terras de Feeryan, no belo reino de Alexandrita, uma terrível maldição foi lançada em uma alma inocente por um coração em busca de vingança. A princesa Aura, dona de um coração bondoso m...