Capítulo 79

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"Eu tenho que fazer do meu jeito. — Cinderela
Então eu espero que saiba o que está fazendo. — PrudenceCinderela 2

Slyter já havia estado no quarto de Phillipe várias vezes ao longo dos anos e sempre o achou com a aparência de pertencer a outra pessoa.

Agora, ele próprio se sentia outra pessoa. Olhando para o pequeno espelho de prata que Phillipe lhe estendia, Slyter sentia-se olhando para um nobre, alguém como Phillipe, não para si mesmo.

Slyter raramente camuflava sua herança daemon, e sentia-se desconfortável sem o peso extra de suas asas. As roupas que Phillipe havia tirado do próprio armário e pedido para que Slyter colocasse eram nitidamente caras, com seu tecido azul marinho bordado ricamente com fios de ouro em padrões de vinhas e rosas. O tecido delicado e macio era estranho para a pele do daemon, que se sentia coberto por algo frágil demais para si, a textura era exatamente como ele pensava que seria vestir uma nuvem. Estar tão apertado em Slyter lhe dava a sensação de que rasgaria a qualquer movimento.

— Por que tenho que usar isso? — Slyter reclamou, puxando o colarinho bordado. — Está me apertando.

— Pare de resmungar, você está incrível. — Phillipe murmurou, ocupando-se em escovar os cabelos castanhos de Slyter para trás. — E vestido assim, você se misturará bem no castelo, então não irá gerar perguntas que eu não posso responder.

— E por que...? — Antes que Slyter pudesse completar sua pergunta, Phillipe terminou de escovar seus cabelos, então começou a passar algo cremoso e levemente úmido sobre os fios. Slyter se esquivou das mãos em sua cabeça. — O que é isso? Tem cheiro de comida.

— É só creme. — Phillipe revirou os olhos, mantendo Slyter no lugar para continuar seu trabalho. — É pra manter esse seu cabelo rebelde no lugar.

Phillipe fingiu não ouvir quando Slyter murmurou que "seu cabelo nunca havia saído dali" E deu a volta no quarto até seu armário, pegando algo em uma gaveta.

— Pronto, só faltam as abotoaduras. — Disse Phillipe, pegando um dos pulsos de Slyter para prender a manga com pequenas peças de ouro em formato de lírios.

Quando Phillipe as prendeu em sua roupa, fazendo a manga se apertar ao redor do pulso de Slyter, ele franziu as sobrancelhas.

— Que algemas estranhas... — Ele murmurou, levando-a para perto do rosto para ver melhor.

— Não são algemas! — Phillipe exclamou, parecendo genuinamente surpreso. — São só acessórios, para prender os dois lados da bainha da camisa. Veja, também estou usando.

Phillipe terminou de prender a peça no outro pulso de Slyter para erguer os próprios, mostrando peças idênticas, porém prateadas.

— Que estranho. — Slyter franziu as sobrancelhas, tentando entender como os lordes usavam roupas com as quais mal podiam se mover, pequenos acessórios pomposos e sapatos tão rígidos todos os dias. Eles não se preocupavam em serem atacados repentinamente? Slyter se perguntou, certo de que ninguém seria capaz de se defender apropriadamente com aquelas vestes.

Ao terminar de arrumá-lo, Phillipe se afastou alguns passos para olhá-lo de cima a baixo.

— Você está bonito. — Phillipe confessou. Apesar do sorriso, suas bochechas coraram levemente.

— Você é sempre bonito. — Slyter rebateu, fazendo o rubor de Phillipe aumentar enquanto ele desviava o olhar.

— Estamos indo para o Palácio de Cristal, e eu tenho a sensação de que estou sendo imprudente o suficiente por nós dois, então por favor se comporte. — Phillipe pediu, pegando a mão de Slyter na sua.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora