Capítulo 71

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"Eu não sei viver na escuridão
Sinto frio, não sei como continuar
A vida que eu vivia não serve mais
Ao escuro eu vou me entregar" — Anna, Frozen 2

Quando Aura colocou seus pés sobre o chão do belo palácio de Alexandrita, lhe parecia que um pedaço de si havia ficado para trás. Por um momento pensou que se tratava de um terrível pesadelo, entretanto, a dor martelando em sua cabeça era uma prova que tudo havia de fato acontecido. Real... Real demais para que pudesse suportar.

O grande salão de entrada do palácio parecia estranho para Aura. Tudo era o mesmo. As delicadas heras que se erguiam, polvilhando com cor as paredes salmão eram as mesmas que ela se lembrava. O teto côncavo, com abóbada de vidro permitia a luz do sol entrar, a luz forte e vigorosa de Alexandrita agora parecia forte demais. A grande escadaria bifurcada, com seus degraus de madeira polida, coberta com tapetes de rama trançada, os batentes dourados das portas e as maçanetas com formato de rosa, tudo ainda era o mesmo.

Apenas Aura estava diferente.

O sol tão belo, o céu em um azul puro, o perfume das rosas não era suficiente para sufocar a dor em seu peito. As lágrimas ainda rolavam por sua face, não que ela notasse, não que se importasse.

— O papai vai ficar tão alegre quando souber que você retornou — Prim sorriu para ela. Ele estava abraçado com Aura, enquanto a guiava castelo adentro.

A princesa mordeu os lábios tentando conter a vontade e retrucar que não queria ver ninguém naquele momento.

— Mas antes, você precisa de um banho. — A voz afetuosa de Primrose tornava o momento ainda mais doloroso, fazendo com que seu único desejo fosse se jogar contra o peito dele e chorar. Seus olhos correram pela saia que usava, vendo-a coberta de lama seca, mas havia mais que isso...

A roupa ainda continha sangue, marcas de sangue seco por toda sua blusa. Ela podia sentir o cheiro forte e fechou os olhos, incapaz de lidar com isso. Ela precisava de outra coisa para se fixar e, enquanto olhava para baixo, Aura encontrou com os olhos a aliança de Ametista brilhando em seu dedo.

A troco de quê, Morgan? Perguntou a si mesma em pensamentos.

— Venha Aura, trarei algum elfo curandeiro para que confirme que você está bem — Florean disse assim que passou por ela, subindo as escadas que o levaria até os quartos principais.

Florean e Primrose a flanquearam pelos corredores que um dia foram seu único cenário, mas agora lhe pareciam estranhos. Como as imagens borradas de um sonho distante, recobrando suas cores.

Era bem o que Aura sentia. Seus sentimentos borbulhavam tão fortes em seu interior que ela mal era capaz de assimilá-los. Ela não ouvia seus próprios passos ou as palavras de incentivo de Prim. Sua visão estava borrada e os sons estavam longe, como se ela visse o mundo sob a água.

Aura só se deu conta de que estava em seu quarto quando o aperto firme de Primrose em seus ombros a fez se sentar.

Estar em seu quarto foi um novo choque para ela. Sua cama redonda em formato de flor, suas paredes verdes, pintadas, suas cortinas floridas e móveis de ramos... Era como voltar no tempo.

Exceto que o tempo não voltou.

Prim e Florean a olhavam com diferentes níveis de preocupação, mas era claro que esperavam uma reação. Uma reação que Aura não estava pronta para ter.

Era como se mãos invisíveis a impedissem de respirar. Sua língua pesava contra a boca, mole e inútil e mesmo seus membros pareciam entorpecidos.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora