"Eu não sei viver na escuridão
Sinto frio, não sei como continuar
A vida que eu vivia não serve mais
Ao escuro eu vou me entregar" — Anna, Frozen 2❀
Quando Aura colocou seus pés sobre o chão do belo palácio de Alexandrita, lhe parecia que um pedaço de si havia ficado para trás. Por um momento pensou que se tratava de um terrível pesadelo, entretanto, a dor martelando em sua cabeça era uma prova que tudo havia de fato acontecido. Real... Real demais para que pudesse suportar.
O grande salão de entrada do palácio parecia estranho para Aura. Tudo era o mesmo. As delicadas heras que se erguiam, polvilhando com cor as paredes salmão eram as mesmas que ela se lembrava. O teto côncavo, com abóbada de vidro permitia a luz do sol entrar, a luz forte e vigorosa de Alexandrita agora parecia forte demais. A grande escadaria bifurcada, com seus degraus de madeira polida, coberta com tapetes de rama trançada, os batentes dourados das portas e as maçanetas com formato de rosa, tudo ainda era o mesmo.
Apenas Aura estava diferente.
O sol tão belo, o céu em um azul puro, o perfume das rosas não era suficiente para sufocar a dor em seu peito. As lágrimas ainda rolavam por sua face, não que ela notasse, não que se importasse.
— O papai vai ficar tão alegre quando souber que você retornou — Prim sorriu para ela. Ele estava abraçado com Aura, enquanto a guiava castelo adentro.
A princesa mordeu os lábios tentando conter a vontade e retrucar que não queria ver ninguém naquele momento.
— Mas antes, você precisa de um banho. — A voz afetuosa de Primrose tornava o momento ainda mais doloroso, fazendo com que seu único desejo fosse se jogar contra o peito dele e chorar. Seus olhos correram pela saia que usava, vendo-a coberta de lama seca, mas havia mais que isso...
A roupa ainda continha sangue, marcas de sangue seco por toda sua blusa. Ela podia sentir o cheiro forte e fechou os olhos, incapaz de lidar com isso. Ela precisava de outra coisa para se fixar e, enquanto olhava para baixo, Aura encontrou com os olhos a aliança de Ametista brilhando em seu dedo.
A troco de quê, Morgan? Perguntou a si mesma em pensamentos.
— Venha Aura, trarei algum elfo curandeiro para que confirme que você está bem — Florean disse assim que passou por ela, subindo as escadas que o levaria até os quartos principais.
Florean e Primrose a flanquearam pelos corredores que um dia foram seu único cenário, mas agora lhe pareciam estranhos. Como as imagens borradas de um sonho distante, recobrando suas cores.
Era bem o que Aura sentia. Seus sentimentos borbulhavam tão fortes em seu interior que ela mal era capaz de assimilá-los. Ela não ouvia seus próprios passos ou as palavras de incentivo de Prim. Sua visão estava borrada e os sons estavam longe, como se ela visse o mundo sob a água.
Aura só se deu conta de que estava em seu quarto quando o aperto firme de Primrose em seus ombros a fez se sentar.
Estar em seu quarto foi um novo choque para ela. Sua cama redonda em formato de flor, suas paredes verdes, pintadas, suas cortinas floridas e móveis de ramos... Era como voltar no tempo.
Exceto que o tempo não voltou.
Prim e Florean a olhavam com diferentes níveis de preocupação, mas era claro que esperavam uma reação. Uma reação que Aura não estava pronta para ter.
Era como se mãos invisíveis a impedissem de respirar. Sua língua pesava contra a boca, mole e inútil e mesmo seus membros pareciam entorpecidos.
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Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de Alexandrita
Fantasy"Sua luz não deveria iluminar um monstro como eu" Nas mágicas terras de Feeryan, no belo reino de Alexandrita, uma terrível maldição foi lançada em uma alma inocente por um coração em busca de vingança. A princesa Aura, dona de um coração bondoso m...