Capítulo 2

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Alegre-se, criança. Tudo terminará bem. - Mrs. Pott, A Bela e a Fera.

A mulher observava  imóvel a pequena garota abraçada a suas pernas, chorando como se seu mundo estivesse desmoronando naquele momento. Yanna não sabia o que fazer, havia sido convidada pelo rei para ser a guarda costas da princesa e sua dama de companhia quando fosse necessário. E não podia mentir, havia odiado aquilo, não tinha passado anos treinando incansavelmente para se tornar babá de uma garota que estava caminhando a passos largos até a morte. Mas não tinha escolha, não quando o próprio rei solicitou sua proteção e talvez, se mostrasse a eles seu valor, logo conquistaria seu lugar na corte Narciso e com os guerreiros. 

Porém ali, naquele exato instante, sentiu compaixão pela garota. Tão pequena e já enfrentava o dilema da morte. Principalmente em um mundo onde os seres viviam mais anos do que pudessem se lembrar. Se no mundo humano 18 anos era uma ninharia, em um mundo onde a maioria dos seres eram eternos, tornava a situação mil vezes pior que uma ninharia, um sopro. A mulher de curtos cabelos ruivos e olhos esverdeados, movida por esse sentimento de compaixão, pegou Aura em seu colo, levando-a para o infantil quarto real, deixando os irmãos, o pai dela e toda a confusão que faziam para trás. 

Por horas o único som que ecoava pelo quarto, eram os soluços sôfregos da princesa. No início, Florean bateu na porta pedindo que Yanna deixasse que ele conversasse com a irmã, mas a mulher o convenceu de que naquele momento, a princesa precisava de um espaço para digerir a informação. Era muita coisa para uma criança, ela merecia um pouco de tempo. 

O choro perdurou por mais alguns minutos, até Aura se entregar a um sono profundo e inquieto.

Quando Aura acordou, nas primeiras horas da manhã, sua cabeça doía devido às horas e horas chorando copiosamente no dia anterior. Sentia-se fraca também, provavelmente pelo fato de não ter comido nada o dia inteiro. 

— Bom dia, princesa. — Aura se virou surpresa para a moça ao seu lado,  a mesma ruiva que a havia acalentado antes. Ela estava ajoelhada ao lado de sua cama e parecia ter passado toda a noite ali. 

— B-Bom dia. — Aura murmurou, surpresa ao ver uma bandeja de café da manhã ao lado da mulher. 

— Coma alguma coisa. — Ela ofereceu, sua expressão era rígida, mas seus olhos brilhavam com simpatia.  — A senhorita terá um dia longo. 

Aura queria protestar, afinal ela tinha perguntas, muitas perguntas, mas se impediu ao sentir seu estômago se contorcer. Ela estava realmente faminta e as belas frutas sobre a bandeja pareciam gritar seu nome. Sem mais objeções, Aura aceitou quando a moça lhe passou a bandeja e passou a apreciar as doces frutas que lhe foram dadas. 

Depois de devidamente alimentada, Aura e a moça se sentaram frente a frente na cama.

— Princesa, meu nome é Yanna. Fui designada pelo Rei para lhe oferecer proteção.— Disse Yanna, respeitosamente. — Eu prometo que lhe protegerei com minha vida, se necessário for.

— Eu agradeço… — a pequena tentou sorrir — Mas acredito que eu não tenha muito tempo...

Yanna respirou fundo ao ver os olhos dela marejaram outra vez, talvez houvesse um mal entendido, talvez a princesa não soubesse precisamente da maldição e acreditasse que estava a beira da morte. 

— Princesa, eu lhe aconselho a ir até seus irmãos. 

— Melhor não... — Recusou a menina de forma educada. — Papai, Florean, Fault e Primrose mentiram pra mim.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora