Capítulo 59

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"Vai morrer pela honra, então? (Mulan)
Vou morrer cumprindo meu dever! (Fa Zhou)" — Mulan


Nem mesmo o calor agradável da cama macia de Morgan podia deixar Aura confortável naquele momento.

A fada sentia sua cabeça prestes a explodir. Uma dor latejante reinava em seu crânio, começando no ponto entre seus olhos e espalhando-se, como se traçasse um caminho de fogo até sua nuca.

Era forte. Mais forte do que Aura jamais lembrava de sentir. A princesa não conseguia manter seus olhos abertos, a claridade parecia intensificar aquela dor estonteante, deixando-a nauseada.

Morgan tinha sido desesperadamente cuidadoso com ela, desde o momento em que a envolveu em seus braços na arquibancada da Arena Vermelha e a levou de volta para casa.

Aura não se lembrava muito de como foi para casa. As vozes... Ela se lembrava das pessoas ao seu redor gritando, comemorando, cuspindo ofensas ou apenas festejando. Era como se cada um daqueles feéricos gritasse dentro de sua cabeça, o som ecoando em seu interior, fazendo-a se encolher perante a dor como um animal ferido.

Ela desmaiou. Ela se lembrava disso. Lembrava da dor inconcebível tomando seus sentidos, arrastando-a para a escuridão fria da inconsciência, mas também se lembrava de Morgan abraçando-a, como uma promessa silenciosa de segurança. Um apelo, prometendo-a que não estaria sozinha.

Quando acordou no quarto que dividia com Morgan, ela implorou para que ele cessasse as luzes e o daemon prontamente atendeu. Fechando a janela e as cortinas, fechando a porta e tampando com panos qualquer fonte de luz possível dentro do quarto, mergulhando-o na mais profunda escuridão.

Não foi suficiente, entretanto, para aplacar sua dor. Mesmo na mais profunda escuridão, aquela tortura ainda dançava pelo interior do crânio de Aura, fazendo-a se contorcer e se encolher entre os lençóis, gemendo baixinho pela sensação que a corroía.

E Morgan nunca deixou seu lado. Ele estava ali no instante em que ela acordou, garantiu a escuridão que ela tanto pedia, trouxe-lhe algumas poções para dor e uma sopa quentinha e, depois de vê-la o mais aconchegada que a situação permitia, Morgan deitou-se com ela, se contorcendo até encontrar uma posição que a agradasse.

Nenhum dos dois sabia quanto tempo já havia se passado, mas Morgan não mexeu nem mesmo um dedo. Aura ainda choramingava, apertando o rosto contra seu peito, como se isso fosse garantir mais um pouco de escuridão. Ele podia sentir as lágrimas de seu raio de sol umidecendo sua blusa enquanto acariciava os cabelos cor de ouro que, no escuro do quarto, ele não podia ver, apenas sentir.

— Há algo que eu possa fazer por você, raio de sol? — Ele perguntou, vendo-a se encolher ainda mais ao som de suas palavras.

— Por favor, fale baixo. — Ela implorou.

— Desculpe. — Ele sussurrou, o mais baixo que podia. Sua voz mal passava de um sopro, mas Aura assentiu, concordando com a cabeça. — Há algo que eu possa fazer por você?

Aura suspirou, inclinando a cabeça em direção a mão de Morgan, que a afagava carinhosamente. O toque da mão levemente fria de Morgan contra sua cabeça que parecia arder em chamas era um alívio quase mágico. 

— Você já está fazendo. — Ela sussurrou de volta, movendo o rosto de um lado para o outro contra seu peito, como se o acariciasse.

Morgan desejou que as poções fizessem efeito. Desejou que toda a dor que sua amada sentia viesse para ele. Que ele pudesse aguentar toda essa dor por ela, aliviando-a do fardo que ele a tinha forçado.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora