Capítulo 93

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"Há uma estrada que leva pro bem ou pro mal 
Só depende do que desejar"-
Aladdin

Naquela madrugada, um tanto silenciosa e longa, os planos do príncipe herdeiro se resumiam em documentos reais e problemas ocasionados pelo seu pai. Florean não conseguia se ver livre de suas responsabilidades, e já havia aceitado isso há muitos anos. Então, quando decidiu seguir Airissa e Nerissa até Pérola, ele já tinha a plena certeza de que quando retornasse, os problemas estariam ali, aguardando-o pacientemente. Pelo menos durante as madrugadas, ele estava livre das inconveniências de Primrose.

Bufando, o rapaz deixou que sua cabeça caísse sobre a escrivaninha de sua mesa. Como se não bastasse, sua concentração naquele dia em especial era semelhante a de uma mosca presa em um pudim de geléia e a razão disso, estava no quarto à sua frente.

A imagem da terceira filha de Poseidon usando um lindo vestido em tons de roxo e dourado ainda estava presa em sua retina. Florean nunca havia visto algo tão lindo em toda sua vida, e como alguém que cresceu no reino mais lindo de Feeryan, aquilo era muita coisa.

O sorriso, a forma como os olhos dela brilhavam como ouro derretido, o deixavam inerte, ao ponto de passar longos minutos observando-a.

Um sorrisinho dócil surgiu nos lábios dele ao pensar em tudo que haviam feito, a fuga de Pérola, o apoio de Poseidon...

Antes que concluísse seus pensamentos, ouviu um forte barulho vindo do quarto a frente, onde a dona era justamente a pessoa que ocupava seus pensamentos naquele momento, Florean se levantou, não importando com sua aparência nada digna.

Parando em frente a porta da princesa, ele quase desistiu, no entanto algo dizia para ele abrir, como se uma força maior o estivesse atraindo para algo grande.

Siren.

Ao abrir a porta, ela foi tudo o que Florean notou. Sentada sobre um banco, um pouco afastada da cama, os fios arroxeados soltos ao vento, enquanto pintava algo em uma tela branca.

Ele chamou por seu nome, mas não houve resposta alguma. Mesmo da distância da porta, ele podia ver o quão trêmulas as mãos da princesa estavam, Os dedos continuavam a movimentar o pincel com desespero, tingindo a tela branca. Dando vida a uma nova imagem.

- Si? - Florean correu até ela, assustado.

Mas o que ele viu o surpreendeu, causando arrepios em seu corpo. Os olhos de Siren brilhava como fogo vivo. Ofuscante, como brasas se alastrando. Lágrimas desciam sobre sua face, enquanto ela murmurava coisas desconexas e suas mãos brilhavam, fazendo com que a ponta do pincel fosse revestida por uma luz prateada. Ela não parecia vê-lo, nem mesmo ouvir. Era como um transe.

Florean temeu que ela se machucasse, a forma como o corpo tremia ou como as mãos dela voltavam a pintar a tela com mais desespero toda vez que ele havia tentado afastá-la o assustavam, o banco sobre o qual ela estava sentada parecia dançar. Florean abraçou as costas dela, apertando fortemente sobre seu peito, usando seu corpo como apoio. Isso até que o pincel caísse sobre o chão e Siren sobre seu colo, desacordada. O quadro que brilhava como brasa viva tremeu, caindo sobre o chão.

A imagem que fora revelada era o Palácio de Cristal em ruínas. Rachaduras, vidros, uma coroa sobre o chão.Enquanto ao fundo feéricos pareciam brigar entre si. Cercados por uma fumaça negra e tinta vermelha. Aquilo não era uma pintura. A forma a tinta reluzia sobre o quadro dizia isso.

Aquilo era algo... Florean sentia isso.

Ajeitando-a em seu colo, Florean levou ela de volta para cama. Com uma feição preocupada, ele descansou a mão sobre a testa da Siren, sentindo os fios molhados pelo suor, e mesmo desacordada as lágrimas ainda desciam.

Crônicas de Flora e Fauna: A Maldição de AlexandritaOnde histórias criam vida. Descubra agora