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Vejo a placa na vidraça e abro a pesada porta de vidro da cafeteria ouvindo o barulho da sineta soar. Me dirijo ao balcão e pergunto se ainda estão contratando.
Como previsto o salário não é bom, mas o horário é flexível e eles não assinam carteira o que em partes é bom pois posso continuar procurando algum emprego melhor e em tempo integral.

Ajudo a servir algumas mesas e faço o trabalho com perfeição agradando Clara, dona do estabelecimento.

_Amanhã vê se vem com uma roupa mais limpa. Tem catchup no seu peito. - me inclino e vejo que realmente tem uma mancha e imediatamente me envergonho, foi do meu lanche.

_Ah, desculpe eu sou um pouco distraída. - sorrio amarelo e ela me ignora.

_Não importa. Apenas faça seu trabalho, não me peça simpatia. Bem vinda ao café. - diz mal humorada e some pelas portas duplas da cozinha.

Com certeza eu não vou pedir simpatia a alguém que não tem.

A sineta soa e olho para a porta e um homem entra carregando uma cadeirinha de bebê e uma criança choraminga dentro com os lábios franzidos.

Me encaminho até sua mesa e o atendo sob os olhares do bebê curioso que me encara firmemente.

_Um café, e um croissant. Seja rápida. - ele diz e assinto. Indo buscar seu pedido. Logo se ouve um choro forte e clara me olha irritada.

_Faça parar. - olho assustada e ela enrijece. _Agora!- olho para a criança chorando e vejo que o homem tenta nervosamente fazê-la se acalmar mais é em vão, ela só grita mais e mais a cada balanço.

_Senhor, minha chefe esta pedindo que se retire do estabelecimento por favor. - digo em um miado e ele me olha incrédulo.

_É sério isso?- ele me dá um olhar aparentemente mortal e começo a ficar nervosa.

_Eu posso tentar fazê-la parar?- pergunto receosa.

_Tremendo desse jeito? Acho que deixará minha filha cair nos primeiros dois segundos. - diz áspero e continua a balançar o que só irrita mais a bebê em seus braços.

_Então vou pedir que se retire, está espantando os clientes.- olho em volta e todos nos olham torto. Corta meu coração pedir a alguém para se retirar por um motivo tão chulo, mas não tenho escolha.

Ele inesperadamente me entrega a neném e meio que no susto e quase a deixo cair. Ele me olha bravo e senta-se para comer novamente.

Olho para a neném em meu braço e a abraço colocando sua cabeça em meu ombro acarinhando-a.

_xii neném, calma, calma ...- sussurro e balanço vagarosamente.

_Isso princesa- sorrio para a garotinha que está me olhando avermelhada com o rosto molhado e choramingando baixinho. Seu nariz está escorrendo então pego o paninho que vejo na cadeirinha e limpo seu nariz.

_Boa garota - digo e sorrio alisando sua cabecinha e logo em seguida seu rosto. - Sempre gostei quando minha mãe me dava carinho assim, mesmo que já fosse grandinha.

_ viu? Não foi nada, já passou. - sorrio para ela que parece entender o que falo e me dá um lindo sorriso desdentado.

_Você conseguiu.- o cara me olha surpreso e sorrio pra ele entregando a bebê.

_Não, segure-a um pouco mais. Essa é a primeira refeição que consigo fazer no dia e se ela começar a chorar de novo não irei conseguir fazê-la parar. - ele diz e eu concordo.

_Ok, vou apenas ao balcão me sentar um pouco. Não posso sentar aqui, é uma regra e minha chefe esta querendo me matar agora. - digo e ele concorda me seguindo com o olhar. Me sento atrás do balcão sob o olhar atento do pai da criança quando sinto um toque em meu rosto, tenho minha atenção totalmente imersa na pequena em meus braços.

_Oi bebê mais linda!- brinco e ela emite alguns ruídos sorrindo com as mãos passeando pelo meu rosto carinhosamente.

Aí terminar sua refeição o senhor vem ao meu encontro e leva a bebê dos meus braços, deixando em minhas mãos algumas notas.
Confiro várias vezes se contei errado ou se realmente tem mil reais na palma da minha mão.
Com o olhar irritado de clara pego minha bolsa e ela vem em minha direção.

_Aqui está o seu pagamento. Não precisa vir mais. Seus serviços não me serão úteis.

Ótimo, melhor emprego que tive. Durou exatamente um dia.

Chego em casa sob o olhar cansado do meu pai e logo o beijo na cabeça.

_Que carinha é essa?- pergunta depois de me abraçar carinhoso.

_Eu tive um dia estressante só. A mamãe já está dormindo?- ele confirma com a cabeça e insiste no assunto.

_Sua irmã disse que você saiu para procurar emprego. Voltando agora deve ter conseguido né? - sento ao seu lado no balanço em frente a casa e apoio minha cabeça em seu ombro.

_ Eu consegui, mais já perdi. - suspiro.

_ O que aconteceu?-

_ Era uma cafeteria no Centro, não era grande coisa e ia ser um trabalho informal, eles não assinam carteira. -

_No Centro? Eles não tem que seguir um monte de regras trabalhistas pra ter um estabelecimento em um lugar de tanto prestigio?-

_Eu não sei papai, não entendo dessas coisas. O metido a sabichão dos escritórios aqui é o senhor.- digo o empurrando levemente com o ombro. Ele gargalha.

_ Enfim, por que não deu certo?-

_ Chegou um cliente com uma bebê que não parava de chorar e minha até então chefe queria que eu os expulsassem pois estavam incomodando os outros e o senhor sabe que eu não tenho esse tipo de coração. Eu peguei a bebê nos braços e a fiz se acalmar até eles irem embora. No fim o pai da criança me deu isso.- tiro o dinheiro do bolso e o entrego

_ Você acha que ela se ofendeu por isso?- ele questiona me devolvendo o dinheiro.

_Não sei. Só sei que no final do dia ela e sua cara de poucos amigos disse que eu não poderia continuar lá. Mas tudo bem, a saga continua. - digo suspirando.

_Ouvi boatos na empresa que meu chefe está precisando de uma babá. - ele diz.

_Espero que ele consiga então. - digo

_Acho que você não me entendeu. - eu o olho confusa.

_Eu posso me informar se você quiser e ver se você pode se candidatar a vaga. Eu não acho que ele vai pagar mal. - concordo.

_Pode ser, só quero arrumar um trabalho urgente. Não importa do que seja. Só não quero que a mamãe tenha que desistir do tratamento. - digo e ele abaixa a cabeça envergonhado. Estamos ficando sem dinheiro pois todas as nossas economias já se foram em exames e mesmo que um gerente geral não ganhe tão ruim assim, não é o suficiente para um tratamento tão especializado. Tudo custa muito caro.

Era uma vez uma babá....Onde histórias criam vida. Descubra agora