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-Como assim a mamãe foi parar no hospital do nada e ninguém me avisou?- estouro pra cima da Helena.. Estou na porta da minha casa e Helena me diz agora que a dois dias minha mãe está internada muito mal e eu não sabia.

_ A mãe não queria que você soubesse.- ela tenta me acalmar mas não tá funcionando.

_ Lena, eu te ligo todos os dias e para a mamãe também. Como vocês me aprontam um negócio desses?-

_ Não adianta reclamar agora Sarah. Eu só fiz o que a mamãe pediu e estou te contando agora. - me sento no batente e passo as mãos trêmulas pelo rosto.

_ Está muito ruim? - pergunto com muito medo da resposta.

_ Ela está sofrendo muito. Você sabe que ela tem um glioblastoma,
Ela sofreu convulsões e confusão mental. Está estabilizada agora mas não sei como será daqui em diante. - ela me responde meio chorosa e eu desabo.

_ Como vocês puderam esconder uma coisa dessas? Vocês queriam que eu soubesse quando ela já estivesse morta? Não tem um pingo de humanidade em você?- questiono em meio às lágrimas.

_ Sarah, não diz isso. Você está passando uma barra também. Quer ficar louca soterrada de problemas? Pensa que eu não sei tudo que você está passando? Das ameaças que está sofrendo? Eu não queria jogar tudo nos seus ombros poxa vê se me entende também!- ela chora e se senta ao meu lado.

Tento entender suas palavras e depois de chorar um pouco peço ao Jorge para me levar ao hospital enquanto Lena pega meu celular e liga para meu chefe informando que eu vou me ausentar e o motivo.

_ Pai!- corro pelo corredor e ele se levanta da cadeira e me abraça apertado.

Seus olhos estão fundos e avermelhados. Ele deve estar sofrendo muito também. Eles se amam muito e ninguém quer ver a pessoa que ama sofrer desse jeito.

_ Como ela está?- Helena pergunta.

_ Está muito ruim. Está cedada no momento. Ela não está tendo coordenação motora e tudo indica que não vai voltar.- ele desaba em lágrimas e se senta.

_ O médico falou que não dá pra fazer cirurgia pois os riscos são muito alto. -
Ele puxa o ar com força e se apoia nos cotovelos.

Eu já entendi que ela vai partir a qualquer momento.

Nos sentamos ao seu lado e choramos em silêncio por um tempo.

Não queria chorar pois sei que isso dói ainda mais no meu pai. Mas não consigo.

Durante a noite eu consigo dar uma breve olhada na minha mãe quando a enfermeira entra para administrar os remédios e a vejo deitada na cama. Não sei se está acordada, não consigo identificar.

Tudo que eu queria era conversar com ela. Ouvir sua risada contagiante e falar sobre os problemas da vida.
Faço uma oração como todas as outras. Pedindo que Deus realize um milagre.

Durante a madrugada desse mesmo dia minha mãe me deixou.

Helena

Acordo ao meio dia confusa sobre onde estou e leva um tempo até meu cérebro entender os últimos dias.

Estou na casa do Lucas. Não sei bem como eu vim parar aqui.

_ Acordou?- nego com a cabeça e me viro pro outro lado da cama.

Pera.

Eu estou na cama do Lucas? Do Lucas?

O quanto eu bebi para vir parar aqui?

_ Vê se não sai de casa quando beber feito um porco. Deu o maior vexame no meio da rua. - ele diz e se senta na cama olhando minha temperatura.

_Estava tentando se matar por acaso? Como saiu no frio ardendo em febre e ainda misturou álcool no meio disso tudo? - tiro sua mão quando ele tenta me tocar novamente e vejo o soro pendurado em meu braço, que até então não havia percebido.

Faz uma semana que minha mãe morreu e não estou lidando muito bem. Cada um lá em casa está lidando a sua própria maneira e na verdade, eu não sei como eles estão fazendo. Desde o enterro eu evito meu pai e a Sarah não sei por onde anda.

Tudo que eu consigo fazer é dormir e chorar.

Como vou lidar com essa saudade pro resto da vida? Tudo dói em mim e não controlo e volto a chorar.

_ Não chora não Helena. Eu não sei lidar com mulher chorando. Levanta daí e para de chorar por favor! Eu já estou querendo chorar também. Helenaaa..- percebo seus fungados por um tempo mas logo tudo some quando volto a dormir.

Lucas

Tiro o soro do braço da Lena como o médico recomendou e a cubro direito na cama.

É estranho ver alguém que costuma ser tão cheio de si desmoronar.

Sei que ela deve estar sofrendo muito, pelo pouco que sei sobre ela e sua família, eram todos muito apegados. Uma família que eu gostaria muito de ter.

Diferente dela, acho que não sofreria se soubesse que minha mãe tinha falecido. Ela nunca foi alguém importante para mim. Só me colocou no mundo e fugiu depois do meu terceiro aniversário. Soube que ela me agrediu muito e que odiava ser mãe.

Não sofro por não ter lembranças sobre ela. Meu pai foi incrível e supriu toda a falta de amor materno que eu podia precisar.

Pego meu celular e mando uma mensagem para o celular do Dom perguntando sobre o estado da Sarah. Soube que ela está lá mas não está trabalhando. Pelo que entendi as duas não estão diferentes no momento.

Ambas estão sem comer e se comunicar com ninguém.

Eu recebi uma ligação da Sheila ontem a noite e achei super estranho. Ela falou que me procurou porque o Dominic não atendeu. Ela encontrou por acaso a Helena em um banco de praça e percebeu que ela não parecia bem. Além de estar embriagada sheila falou que ela estava chorando inconsolável e mal vestida para uma noite fria.

A trouxe para minha casa pois não sabia onde levar. Liguei para um médico e ele veio atender aqui.

Ela estava fraca pois não está se alimentando direito e havia bebido álcool e misturado com remédio para dormir.
Não sei se foi proposital.

Espero muito que não.

Era uma vez uma babá....Onde histórias criam vida. Descubra agora