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Ouço o choro através da babá eletrônica e me levanto assustada. Corro até seu quarto como se minha vida dependesse disso e a pego no colo tentando acalma-lá. Olho as horas na esperança de ser de manhã mesmo vendo que ainda está escuro.

Suspiro.

3:30. Louisa se agarra a minhas roupas em total desespero como se buscasse proteção. A consolo como posso ouvindo seus resmungos de protesto. Passeio pela casa na esperança de nos acalmarmos e paro no enorme sofá da sala. Me deito e coloco a bebê sobre mim fazendo leves carinhos ao longo do seu corpinho. Ela se contorsse em pequenos arrepios e sorri abertamente. Me concentro em um cafuné suave em sua cabeça até que, sem perceber, ambas dormimos.

Sinto leves cutucadas em meu corpo e me desperto sentindo um corpinho suspirando levemente sobre mim. Olho ao meu redor e lembro que estou estou na sala, ao meu lado Dominic White me olha interrogativo. Não a fúria em seus olhos, apenas dúvidas.

Pego a bebê com toda a calma e me sento no sofá ainda meio perdida.

_O que você está fazendo aqui?- ele pergunta baixo e respondo no mesmo tom, quase um cochicho.

_Ela não estava conseguindo dormir. -

_ Ainda está cedo. Volte a dormir. - é tudo que ele diz antes de beijar suavemente a cabecinha de Louis, levantar-se e sair. Vejo que está todo engravatado e com a maleta. O seu cheiro amadeirado ficou na sala e mesmo sem perceber,  respiro fundo tentando absorver o quanto puder do cheiro.

Passo no quarto de Louis e a deposito no berço com muito cuidado e vou direto ao meu.

5:30. Ainda adianta dormir?

Abro meu celular e tento ver as mensagens que não pude responder ontem a tarde.
Tem uma do meu pai perguntando como foi meu primeiro dia e me desejando sorte e uma da Lena, dizendo que minha mãe tinha mais uma sessão e que não ia poder ir a aula pois tinha que acompanha-lá. Ela me pede ajuda para algumas materias e pergunta também como foi meu primeiro dia.

Depois de responder todos me encaminho até o banheiro pronta para começar mais um dia como babá nessa casa ainda desconhecida para mim.

-Ai que susto!- diz Ana colocando a mão no peito depois de entrar na cozinha e me ver sentada no balcão, na parte mais escondida da cozinha. Estava tomando um copo de água com muita calma e olhando para a telinha da babá eletrônica.

_Bom dia Ana.- digo desviando a atenção para ela e ela sorri vindo me cumprimentar com um abraço.

Amo pessoas assim. Extremamente amorosas que nem conhece as pessoas direito e já tratam como melhores amigas.

_Você caiu da cama?- nego sorrindo.

_A Louis acordou no meio da noite. -

_Ah, ela faz muito isso as vezes. Eu não ouvi seu choro então significa que você a fez dormir logo.  - afirmo que sim e ela abre um sorriso.

_Não sei o que você fez com ela mas aquela bebê te adora. - nego com a cabeça e ela insiste.

_Não é pra tanto. - sacudo a mão.

_Ela não para de chorar nem com o próprio pai. Na verdade ninguém consegue fazê-la se acalmar cem por cento. - me surpreendo. Logo imagens do nosso primeiro encontro vem a minha mente. Lembro do Sr White dizer que era sua primeira refeição do dia e que ele não conseguia fazê-la parar.

_Então espero que continue sendo assim. Preciso desse emprego. - ela concorda alisa minha mão com um sorriso triste.

_Sua mãe tem uma menina de ouro. - ela diz e vai começar a fazer o café da manhã me deixando um pouco envergonhada. Não sou boa em receber elogios.

Como o chefe já saiu ela não precisa fazer muita coisa só algumas panquecas já são o suficientes para nós. Pouco depois ouço o chorinho e vou buscar a pequena para ficar conosco na cozinha e alimentá-la.

Ana fica toda besta vendo as risadinhas que Louis solta de vez em quando e percebo o quanto isso parecia raro por aqui. Ajudo a fazer o almoço como posso e logo o senhor amuado chega para almoçar e faço o que posso para Louis te dar atenção mas não tenho muito efeito.

Sigo o dia com muita calma e meu pensamento fica o tempo todo em minha casa. Nesse momento minha mãe deve estar muito cansada. Os remédios não são o suficiente e seu tratamento é muito agressivo. Ela já está muito cansada física e mentalmente eu tenho medo que ela desista de tentar. Fico muito triste por não poder estar ao seu lado nesses momentos, pois infelizmente podem ser os últimos. Pensar nisso me dói a alma.

Minha família é o único bem que tenho. Não tenho mais amigos, nem noivo. Tudo que me restou emocionalmente foram lembranças dolorosas.

_Você não vai comer querida?- pergunta Ana surgindo ao meu lado. Saio dos meus pensamentos e nego com a cabeça. Não estou sentindo fome alguma.

_Não, não precisa se preocupar. Não estou sentindo fome.- Tento sorrir.

_Como você diz isso menina? Não comeu quase nada no almoço, se é que eu posso chamar aquela porção de almoço. - ela puxa uma cadeira e se senta ao meu lado na bancada da cozinha.

Olho para a bebê que engole calmamente sua mamadeira em meu colo com os olhos fixos em mim como se estivesse me analisando.

_Eu estou preocupada. - digo e ela me dá um olhar de pena.

_Sua mãe?- assinto e ela suspira. Ela entende o que estou passando.

_ Apenas tente comer algo. Sua mãe não ia querer que você ficasse fraca ainda mais nas circunstâncias em que ela se encontra. Você é forte e sua mãe também é. Eu não tenho dúvidas disso. - Ela fala com total convicção. Quem vê até acha que ela conhece minha mãe.

Sorrio pelas suas palavra e tento ao máximo ser forte e aguentar a barra.

Depois de fazer Louis arrotar o Sr amuado logo chega e depois de tomar banho vem querer atenção da filha. Dessa vez ela é mais receptiva porém sempre com o olhar em mim.

Eu não entendi essa ligação dela comigo. Para mim não faz nenhum sentido pois ela se acalmou comigo de primeira na cafeteria e aqui ela só quer ficar comigo. E pelo que entendi ela chorava muito. 
Acho que isso deixa o Sr. White desconfortável.

Era uma vez uma babá....Onde histórias criam vida. Descubra agora