Amerie

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No Canadá a maioria dos dias eram frios. Eu já estava acostumada com isso quando vinha para cá, e sinceramente, eu odiava. Sempre odiei climas frios, neve e gelo era entediante. Os lagos estavam congelados quase o ano todo, e a única coisa que conseguia ser um pouco legal era o hóquei. Que tinha se tornado tradição na família já que todo mundo sabia jogar, até mesmo Holly que era a menos atleta de todos nós.

Cresci aqui, vinha todos os anos quando desde quando eu era criança.  Me acostumei com o frio mesmo não querendo, mas nada, nunca, foi tão frio como o olhar que Sebastian me direcionou.

— Ele mandou você falar isso? — Consigo falar depois de um tempo. — Seu pai acha que eu não sou boa o suficiente para ser vista com você?

— Não tem nada a ver com ser boa o suficiente. — Ele volta a me olhar. — Você é bem mais que o suficiente.

— E então qual é o problema? — Engulo em seco sentindo meu lábio tremer. — Por quê você não pode vir aqui e me dizer que eu imaginei o que passamos esses meses, nós dois somos alguma coisa, você não pode dizer que não.

Não sinto nem um pouquinho de vergonha por estar sendo tão aberta. Sebastian tinha me contado mais um segredo de família em menos de dois meses, e já tinha dormido comigo, não era exatamente um estranho. Eu não era tão ingênua assim, sei que não somos amigos e nem sei se poderíamos ser. Não quando nós dois nos tratavamos dessa forma, e também não quando ele fazia questão de colocar uma torre entre a gente.

— Adeline e eu somos mais compatíveis em vários sentidos. — Sebastian fala e sinto meu coração pesar. — Eu vou ser rei Amerie, e isso significa que eu preciso de uma rainha.

Suas palavras me atingem em cheio me fazendo dar um passo para trás. Era óbvio que Sebastian pensava que eu era inadequada por ser adotada, ele nunca negou isso, e fez questão de me dizer no primeiro dia que me conheceu.

— Quero que saiba que não vou atrás de você. — Falo convicta. — Não vou ficar correndo atrás de você Sebastian. Se acha que nós não somos amigos, eu não tenho nenhum motivo para participar da sua vida. 

— Não quero que venha atrás de mim, quero que você viva a sua vida. — Ele fala soando terrivelmente ríspido. — Você tem coisas incríveis para fazer e sabe disso. Se eu não tivesse me metido na sua vida, se eu não tivesse entrado no seu caminho nós dois não estaríamos nessa situação agora.


Vejo frustração nos seus olhos por apenas um segundo antes que ele vire a cabeça para o lado, olhando para nada em especial. Parecia um término. Nós dois parecíamos estar terminando algo que nem sequer começamos.


Olho para as nossas mãos que ainda estavam entrelaçadas e aperto com mais força, quase com medo de que ele soltasse.

— Você não decide nada por mim Sebastian. — Minha voz sai baixa, mas firme. — Eu quis me meter na sua vida.

Ele assente e então solta a minha mão. Minha cabeça lateja no mesmo momento. Se ele estava com Adeline, o que as pessoas iam pensar agora que viram nós dois nos beijando? Sem dúvidas alguém tinha tirado alguma foto.

— Se eu pudesse escolher, eu seria outra pessoa. —  Sebastian diz e sinto vontade de chorar. — Eu seria alguém melhor e escolheria você.

—  Se você quisesse ser alguém melhor, você seria agora. — Falo enquanto tiro o anel que ele tinha me dado do meu dedo, entregando em sua mão. — Eu não preciso de ninguém que não queira estar comigo.


Dou as costas quase que imediatamente e começo a andar.. Sebastian tinha medo do que poderia acontecer se nós dois ficassemos juntos, dava parar ler na cara dele o quanto ele tinha medo do que podia sentir por mim. E eu não precisava convencer ninguém a estar na minha vida. Mesmo que eu gostasse dele, eu jamais poderia me humilhar desse jeito.

— Amerie! — Seu braço me puxa, e eu paraliso.


Olho para ele sem ser capaz de esconder meu aborrecimento. Chega de compreensão, chega de paciência. Sebastian e eu não tínhamos nada, nem mesmo uma amizade. Eu não devia nada a ele.

— Eu prometo que é a última vez que você me vê. — Ele diz e vejo seus olhos se perderem por um instante. —  Neil vai ficar responsável para passar as ações da Le Cordon Bleu a você.


Dou uma risada seca e incrédula, que infelizmente sai um pouco alta. Conseguindo ficar ainda mais chocada com ele.

— Eu não quero ações nenhuma Sebastian. — Engulo em seco. — A única coisa que eu quero é que você vá embora.


Me solto do seu aperto com um puxão, e Sebastian me deixa ir dessa vez. Sem tentar me impedir. Ando o mais rápido que consigo em direção as escadas, tropeçando algumas vezes por conta do vestido longo. Só percebo que estou chorando quando as lágrimas pingam no meu vestido, mas não me preocupo com isso agora. Minha missão é apenas continuar andando e chegar no meu quarto o mais rápido o possível. Ia me certificar de avisar a minha mãe que não ia descer mais, e de tomar um remédio para conseguir dormir em meio a tanto barulho. Era apenas isso que eu tinha energia para fazer no momento.

É inevitável não olhar para trás quando chego no primeiro degrau da escada, mas Sebastian já tinha desaparecido. Passo os olhos cuidadosamente por todo o salão antes de me virar e continuar a andar. Era claro que ele já tinha ido embora, óbvio que não iria passar nem mesmo mais um segundo ali.


Ele não era amigo da família, não eram alguém que nós conhecíamos e gostávamos. Era uma pessoa que eu arrastei para minha vida, e que tinha se certificado de destruir o meu coração a troco de nada.

— O que aconteceu com você? — Aaron aparece descendo as escadas correndo, como fazia sempre.

—  Sebastian e eu terminamos. — Falo sem muito entusiasmo.



Diferente de Adam que com certeza diria mil e uma vezes "eu avisei" Aaron apenas me abraça o mais forte que consegue, e me sinto automaticamente grata por ser irmã de alguém tão incrível assim.

— Sebastian é um babaca por deixar uma gata como você escapar. — Ele sussurra no meu ouvido e eu assinto, ainda chorando. — Vamos encher a cara escondido do Oliver, hoje é meu aniversário e você precisa de um porre.

É impossível não rir. Meu pai não era fã de bebidas, já que minha mãe quase morreu em um incêndio e ele estava muito bêbado no dia para servir para alguma coisa. Ele tinha garantido que a coisa mais radical que nós tomassemos antes dos vinte e um fosse coca cola de cereja.

— Oliver já está velho. — Dou corda aí assunto, ainda com a voz chorosa. — Não vai nem perceber.



Demoramos apenas um minuto para descermos de volta, e refaço meu plano da noite, decidindo ficar até o discurso que minha mãe sempre dava em todo aniversário.

—  Sabe o que é engraçado? Você só tinha dois...


—  PAPAI!




Um grito horrorizado corta o que seja lá que Aaron vai contar e sinto um arrepio terrível correr em todo o meu corpo. Era a voz de Holly. Eu tinha absoluta certeza disso. Conhecia esse grito, foi o mesmo grito da vez que sofreu um corte químico e precisou usar lace por seis meses.

Era voz da minha irmã, e ela estava gritando assim pelo meu pai.




ÚLTIMO DESSA SEMANA! mimei vocês demaissss! Gente eu tô AMANDO os comentários e as teorias de vocês. Eu leio todos e gosto de responder todos também viu! Obrigada por tudo, vcs deixam meu coração quentinho!!

Contrato azulOnde histórias criam vida. Descubra agora