A única coisa de Nova York que me trazia a sensação de calma era o Pilates. A coisa que eu fazia religiosamente todos os dias às cinco da manhã, antes das minhas aulas que eram às noves. Comecei com a ilusão de que os alongamentos seriam fáceis e que era melhor do que correr no Central Park, e depois de uma semana de treino, percebi que na verdade era muito mais do que isso.
Minha instrutora era uma mulher ranzinza que detestava homens e por isso só aceitava alunas, algumas pessoas que eu já tinha me dado bem de cara e com certeza era ótimo viver com pessoas que não se interessavam tanto na vida alheia para perceber que eu era uma Princesa.
Por dois anos consegui vim aqui e me comportar apenas como uma aluna de gastronomia, todos os dias conversando sobre coisas mínimas e extremamente necessárias que eu adorava. Nada de Mônaco ou do império Hawthorn chegava aqui, até o dia de hoje.
- Então você é tipo uma princesa? - A professora me olhou como se eu fosse uma aberração, me fazendo trincar os dentes. - Aquele cara que você estava agarrando é seu noivo? Vocês foram... Prometidos?
- Não acredito que nunca me disse que era noiva. - Lilly, uma adolescente de quinte anos que adorava falar sobre garotos arregala os olhos para mim. - Ele é um gato!
As outras quatro mulheres estavam paradas, esperando que eu falasse alguma coisa enquanto me olhavam atônitas.
Faziam apenas duas semanas que eu tinha saído de Mônaco, e duas semanas que meus pais -os quatro- tinham me garantido que essas fotos não iriam mudar meu cotidiano em nada. Mas infelizmente, uma vez que se estava na internet era impossível tirar. Sebastian e eu não nos falamos desde aquele dia, e a julgar pela cara de satisfação de Adam, Oliver deveria ter feito alguma cena memorável.
- Eu não podia falar. - Suspiro, fazendo todas se entreolharem. - E não, não é meu noivo e não fomos prometidos.
- Seu namorado então? - Lilly pergunta com a voz carregada em malícia.
- Ele não é nada meu. - Falo revirando os olhos. - Nós dois apenas nos beijamos.
- Aquilo foi bem mais que um beijo querida. - A senhora Maven fala, olhando novamente para a televisão.
- Se você é uma princesa, por quê precisa fazer faculdade de gastronomia? - Uma garota intercambista pisca os olhos, confusa. - Sua família está ficando pobre?
Abro minha boca para responder no minuto que meu celular começa a tocar em cima da mesinha, me fazendo correr até ele imediatamente. Apesar dos pesares, de alguma forma essa notícia tinha demorado bastante para chegar até os Estados Unidos, e agora tudo isso seria uma febre terrível.
- Me lembre de nunca mais beijar você no seu país. - Sebastian fala assim que eu atendo.
- Me lembre de nunca mais beijar você sem ter pelo menos quatro paredes envolvidas. - Retruco, colocando a mão no rosto ciente de que todo mundo estava em silêncio esperando para ouvir a conversa.
- Onde você está agora? - Sebastian pergunta, parecendo até mesmo pacífico.
- Na minha aula de Pilates, perto do West Village. - Falo contando os dedos das mãos. - E você?
- No West Village. - Minha respiração falha. - Chego em cinco minutos, esteja me esperando na porta.
- O que diabos você está fazendo nós Estados Unidos?
Minha boca se abre em choque e a das minhas colegas de exercício também.
- Sabia que eles eram noivos! - Lilly suspira, como se estivesse lendo um livro de conto de fadas.
- Vim ver você, Alteza. - Sua voz é carregada de puro sarcasmo. - Não consigo ficar mais um dia sem ver minha adorada Amerie.
Conto até dez antes de tomar uma respiração profunda. Talvez eu devesse começar a repensar as minhas ações já que quando Sutter passou trinta minutos falando de como eu não deveria ter me comportado e feito o que fiz, achei uma besteira ser condenada por um beijo. Mas eu não era qualquer pessoa livre, e sim alguém preso a um tablóide, uma notícia ambulante.
- Não acredito que isso está acontecendo. - Suspiro ainda com celular no ouvido.
- Espere do lado de dentro, já consigo ver milhões de Paparazzis aqui.
É a última coisa que Sebastian fala antes de desligar na minha cara sem a menor delicadeza. Espio pela janela a minha esquerda, vendo algumas pessoas com câmeras apontadas para minha direção e cubro o rosto automaticamente, soltando um xingamento baixo.
- Eu sinto muito pelo aborrecimento que causei a todas vocês. - Início meu pedido de desculpas, pegando todos os meus pertences antes de vestir o casaco. - Sou a princesa Amerie Grimaldi, e não significa muita coisa, agradeço pelos momentos que passamos juntas e...
- Parece que você está palestrando na ONU. - a professora revira os olhos, me interrompendo. - Você não nos devia nada garota, ninguém aqui estava interessada no fato de você ser uma princesa.
Meus olhos lacrimejam na mesma hora, e então eu a abraço, antes de abraçar cada uma das minhas colegas. Meu disfarce estava arruinado, mas eu ainda tinha tido a experiência de ser alguém normal, sem um título de realeza em torno do pescoço. Isso era quase impossível para algumas pessoas. Adam, Sutter e Donna jamais podiam se dar o luxo de tentar fazer algo parecido, e quase nunca eu os via reclamar sobre isso, mas eu seria infeliz se não tentasse. Meus pais foram os primeiros a acharem a ideia ótima, Zoe até mesmo implorou para que eu fosse morar com ela no Canadá mas infelizmente, Holly e eu amavamos a ideia de morar sozinhas em Nova York.
Desço as escadas do pequeno prédio que conhecia com a palma da minha mão com lágrimas nostálgicas nos olhos, quando a poeira abaixasse eu poderia voltar, mas nada seria como antes. Enxugo as lágrimas antes de prender o cabelo em um coque alto e firme, colocando os óculos escuros e o casaco antes de correr em direção ao carro de Sebastian que já estava a minha espera na rua.
- Você faz Pilates? - é a primeira coisa que me diz quando entro no carro ao seu lado, abrindo a boca em um sorriso divertido.
- Nós estamos em todos os jornais do país e isso é a primeiro coisa que você me fala? - Arqueio a sobrancelha.
- É que eu nunca imaginei você assim. - Ele aponta para mim. - De shorts de licra e top no meio da rua como uma pessoa comum.
- Eu sou uma pessoa comum. - Falo com raiva, vendo um sorrisinho convencido crescer nos seus lábios.
- Perto de mim sim, você é uma pessoa comum. - Ele fala e eu suspiro alto, tirando o casaco como se estivesse no meu carro. - Mas também é uma princesa, como ninguém reconheceu você?
- Sou a sétima princesa de Mônaco, um país minúsculo perto dos Estados Unidos. - dou ombros. - E ninguém aqui se interessa pela minha vida.
Por algum motivo, Sebastian apenas me olha, parecendo estranhamente controlado nos seus comentários. Percebo nesse momento que não perguntei para onde estávamos indo, e que ele não tinha me dito o que iríamos fazer.
- Para onde estamos indo?
- Upper East Side. - Ele responde com os olhos vidrados no celular. - Precisamos conversar.
Respiro fundo assentindo. Era claro que precisávamos conversar, eu teria que resolver essa montanha de coisas que provavelmente iriam prejudicar meus estudos o mais rápido que eu pudesse. Era óbvio que Nova York era grande demais para se importar comigo, na verdade, grande parte dos meus amigos fizeram faculdade na Ivy league sem nenhum problema. A diferença era que eu jamais tinha dito para alguém quem eu era ou de onde eu vinha, e nas poucas vezes que alguém me reconhecia eu fazia cara de paisagem como se não soubesse o que a pessoa estava falando e na maioria dos casos dava super certo. Tinha passado despercebida até agora, e eu gostava disso.
Gostava mesmo disso.
Mais um
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Contrato azul
RomanceO que esperar de uma garota que além de ser uma princesa, carregava o peso de ser considerava filha de Zoe e Oliver Wado além de uma vida incrível? Amerie tinha sido adotada por Charlotte ainda quando criança, crescendo então entre princesas e prínc...