Amerie

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É a primeira vez que fico acordada vendo o sol nascer. Sebastian insistiu para ficar comigo no mesmo quarto, então insisti que fosse em outro hotel depois de ter avisado a Margie e Dean que precisei sair. Brian tinha passado o número da forma mais discreta possível para a minha mão, e passei a noite inteira pensando em ligar para ele.

Minha mãe nunca teria me escondido nada tão grande assim, então sei de forma automática que ela não sabe, embora meu pai saiba. Não sei se estou com raiva de Oliver ou se o amo mais por ser tão superior a tudo dessa forma. Então deixo isso para quando estiver frente a frente com ele, já que ficar pensando no por que não vai adiantar de nada. Já Adam, ele sim tem toda a minha raiva concentrada nele. Não só pela forma como me tratou, mas também por não pensar nem por um segundo em mim. Em me falar a verdade.

Eu era mais próxima de Aaron e Holly, isso era um fato, mas Adam era o meu irmãozinho mais velho que deveria me orientar sobre tudo de ruim e bom no mundo, e ao invés disso, preferiu me esconder de coisas que cabia apenas a mim resolver.

Estou na banheira a duas horas quando Sebastian bate na porta. Sei que ele acorda cedo então não me surpreendo. Termino de me arrumar determinada a ligar para Brian assim que conseguir me livrar dele. Sei que Sebastian vai querer ir comigo, mas ele não tem absolutamente nada a ver com isso.

— Bom dia. — Ele sorri, e sei que não tem ideia do que falar. — Você quer tomar café da manhã?

— Eu preciso sair pra resolver algumas coisas do Empire. — Minto sem sentir nem um pouquinho de remorso. — Obrigada pela noite.

— Obrigada pela noite? — Ele ri de verdade agora. — Me sinto uma prostituta.

— Você é quase isso. — Dou ombros. — Até amanhã.

Me afasto logo de Sebastian, por que sei que ele vai querer ao máximo prolongar o contato, e tenho coisas piores para resolver no momento.

— Eu posso levar você. — Ele se oferece, segurando delicadamente o meu braço. — E nós não conversamos sobre ontem.

— Nós não precisamos conversar sobre ontem. — Corto qualquer conversa sentimental que possa surgir. — Eu ainda não fiz um exame de DNA, não sei da história dele, até onde eu sei Brian é um cara desequilibrado dizendo que sou filha dele.

Finjo que acredito no que falo, por que sei muito bem que pra Oliver e Adam acreditarem nisso, eles já fizeram todos os exames possíveis para saber se sou ou não filha biológica de Brian. Eles não viveriam com essa agonia, é um fato.

— Então você está me dizendo que essa história não te abalou nem um pouco? — Ele pergunta arqueando a sobrancelha.

— Óbvio que não. — Reviro os olhos. — Mas a nós dois não vamos ter essa conversa, ela chegou com um ano de atraso e não sinto muito se não quero dividir nada com você agora.

A cara de ironia dele se desfaz, e percebo instantaneamente que agora vem o sermão do "eu fiz tudo por você!" e já consigo sentir tédio. Sebastian tem uma ideia quase primitiva ao meu respeito e me trata como uma criança indefesa a maior parte do tempo, e isso não existe. Se ele tivesse me contado eu não ficaria bem, mas eu iria superar.

— Vou ignorar o que você falou por que sei que é um péssimo momento e uma péssima notícia. — Ele diz com a mandíbula trincada. — Não posso imaginar o que você está sentindo agora, e acho que nem você está sabendo controlar tudo embora esteja tentando.

— Você não me leva a sério nem em uma briga. — Uma risada sai pelo meu nariz. — Não preciso que ninguém me salve Sebastian, não sou uma pobre e indefesa mulher então se tiver alguma coisa para me dizer, diz agora.

— Quer que eu diga o quê? Que você é mimada e egoísta? — Ele explode e é exatamente isso que quero. — Eu sacrifiquei tudo por você nos últimos meses, sacrifiquei a ideia de ser feliz pra que você pudesse continuar nesse mundo encantado que só você enxerga. Faz ideia de como foi difícil ter que saber que enquanto a minha vida estava indo para o lixo você estava melhor do que nunca? Acha que foi fácil ver você e Dean naquele dia? Eu preferi passar a vida sem você a te ver infeliz e você simplesmente continuou a andar sem nem olhar para trás. Deixei você seguir a vida por que eu te amo, e continuo seguindo você como um cachorrinho mesmo que você não ligue nem pouco pra mim.

Sebastian não grita e nem levanta a voz em todo o momento em que fala. A única coisa que queria agora é uma briga, mas não consigo evitar. Ele está mesmo magoado com a situação que ele mesmo criou, e de quebra me culpa por ser mal resolvido.

— Eu? Egoísta? Corri atrás de você desde que nos conhecemos mesmo você sendo esse imbecil que é, e comecei a perceber que foi um erro quando já era tarde demais. Fui até a Noruega ser maltratada por toda a sua família com exceção dos gêmeos e do seu irmão. Pisei de salto alto em cima da minha autoestima só para estar ao seu lado, por que eu amava você. — Altero o tom de voz. — Você se sacrificou por mim? Eu perdi toda a minha vida, que sim, era ótima! Sinto muito se a sua família foi uma droga, a minha é feliz. Não vou me desculpar por ser feliz. Você foi embora Sebastian, você me deixou quando eu prometi que nunca te deixaria e agora está me culpando por não ter me rastejado por você que estava esbanjando um noivado pra literalmente o mundo inteiro? Você é bem pior do que eu imaginava.

Estou chorando agora, por que não sei como minha vida foi parar nesse momento. Não sei como deixei de ser a garotinha do papai e filha caçula de duas famílias ótimas, ter notas exemplares e ser uma profissional de incrível potencial para ser isso. A mulher que agora tem um mundo inteiro para concertar e colocar em ordem.

— Amava? — Sebastian pergunta. — Você não me ama mais?

— Infelizmente amo Sebastian, mas se pudesse escolher não escolheria amar alguém que consegue me dilacerar de todas as formas possíveis. Me dói saber que nós dois não temos chance, mas não vou me destruir por você. — Seco as lágrimas, determinada a terminar de falar com um pouco de dignidade. — Então obrigada pelos momentos bons, mas acabou. Seja feliz com qual seja o caminho que você seguir.

Ele não me impede de ir embora, e nem fala nada enquanto pego meu celular e minha bolsa e saio do quarto. Acho justo que pela a primeira vez desde que nós nos conhecemos eu esteja indo embora, por que nunca pensei que poderia dar as costas a alguém que amei tanto quanto Sebastian.

Vibe triste né? Mas vai melhorar, juro

Contrato azulOnde histórias criam vida. Descubra agora