Sebastian

2.8K 385 21
                                    

Quem acha que beber em jantares de família era falta de educação certamente nunca tinha jantado com a minha família, isso era uma coisa que todos nós, sem exceção, parecíamos concordar.



— Acho que não devia beber hoje. — Meu pai olha com desprezo para o copo de Bourbon na minha mão.



Encho ainda mais o copo ignorando suas palavras por completo engolindo cada gota do liquido sem fazer nenhuma cara feia. Manter a postura de "não me importo" na frente do meu pai era extremamente necessário já que se ele soubesse que estou a um passo de expulsar todo mundo desse castelo –que inclusive, seria meu no momento em que eu fosse coroado rei- ele jamais me permitiria subir ao trono. Jamais deixaria alguém que sentia tanta raiva ser seu sucessor, sorte a minha que eu era perfeitamente capaz de esconder quase tudo que eu sentia.


— Não acredito que você trouxe aquela garota. — Meu pai fala em um tom de irritação quase palpável, ganhando meu maior olhar de tédio.



— Eu disse que traria, não entendi a surpresa. — Bebo mais uma vez, mais dessa vez decido esperar para encher o copo.


— Achei que me obedeceria quando eu disse não. — Ele aponta para Christian do outro lado da sala, que estava rindo de alguma coisa com Jackie. — Seu irmão é um imbecil. Ele foi burro e se casou com uma garota pobre e golpista, que nunca tinha conhecido um príncipe antes de nós. Ele deixou de ser rei por uma mulher, é isso que você quer?


Nesse exato momento Amerie chega na sala ao lado de Norman, que sussurra alguma coisa nos seu ouvido, a fazendo tombar o pescoço para trás de tanto rir. Meu primo ri junto e me vê quase que automaticamente, me cumprimentando com um aceno de cabeça.


Ela ainda não tinha me visto e parecia ainda mais a vontade do que eu achei que ficaria. Ela usava um vestido verde água justo e lindo, que com certeza receberia milhares de comentários de desaprovação das minhas tias que não tinha mais nada para fazer da vida.

— Não ouse comparar Jackson a Amerie. — Aviso da maneira mais calma que consigo, mas sei que minha expressão é terrível. — Jackson é uma vadia golpista, e Amerie é uma mulher decente e boa, eu jamais seria capaz de ser tão cruel ao ponto de arrastar ela para essa família.


Meu pai parece não se abalar com meu tom de voz, olhando para ela antes de revirar os olhos da forma mais condescendente que existe. Me fazendo borbulhar de raiva.


— Você precisa se casar, e essa garota está começando a te atrapalhar. Só não consigo entender por quê diabos você está deixando. — Ele continua a falar me fazendo respirar fundo. — Se você apenas está atraído pela princesinha bastarda, sabe que pode continuar fazendo o que quiser com ela desde que ninguém saiba.

De repente, tudo parece muito lento. Não consigo pensar direito quando derrubo a mesa de vidro em que as bebidas ficavam empilhas. Mal percebo o Bourbon escorrendo pelo piso de madeira mais caro que existia, junto com a sangue da minha mão.


— Mas que porra?! — Nash fala do outro lado da sala e meu pai sorri como se eu não tivesse acabado de quebrar mais de cem mil euros apenas de bebida.


— Sebastian está bastante desastrado hoje, pessoal, nada de novo. — Ele fala e me olha com o máximo de divertimento que consegue. — Devia pedir que alguém olhe sua mão, parece meio feio.


Dou as costas para o meu pai e começo a sair de perto dele o mais rápido que posso. Amerie olha para a minha mão e torce o nariz, mas mesmo assim fica na ponta dos pés para sussurrar alguma coisa no ouvido de Norman antes de vir atrás de mim.


— Eu sei limpar curativos, Adam já se meteu em muitas brigas. — Ela pula do meu lado, puxando a minha mão.


— Não pedi a sua ajuda. — Corto o que seja lá que ela ia fazer e entro no elevador, ainda sendo seguido por ela.




Amerie parece não se abalar pelo meu tom de voz áspero e continua olhando para a minha mão sem nenhum nojo do sangue que escorria. O cabelo castanho escuro maravilhoso cobria uma parte do seu rosto, e foi impossível não colocar ele atrás da orelha dela. Ela era terrivelmente bonita, daquelas garotas que você não parecia ter chance na primeira vez que olhava. Não eu, obvio. Eu tinha sim chance e isso estava mais do que provado.

— Não achei que fosse tão idiota para se machucar apenas por raiva. — Ela fala em um tom tão natural que me assusto. — Eu estava olhando para você, sei que não foi acidental.

Me limito a apenas puxar minha mão dela e prefiro ficar em silêncio esperando o ultimo andar chegar. Saio do elevador sem dizer nem uma palavra e ela cantarola alguma musica estranha que nunca ouvi na vida, me seguindo como um bambi.

— Não consigo entender como você simplesmente decidiu vir atrás de mim mesmo tendo visto aquilo. — Reviro os olhos, pegando a maleta de primeiros socorros debaixo da cama.



— Pensou que eu fosse sair correndo por quê você estava com raiva? — Amerie da uma gargalhada e puxa a maleta de mim, começando a revirar tudo que estava dentro. — Ah, Sebastian, você é tão engraçado.


pela primeira vez o som da sua risada me irrita, mas ela parece estar alheia quando tira os saltos e senta na cama puxando a minha mão junto. Ela começa a limpar antes que eu consiga protestar e acho que aproveita para se vingar de mim, pois joga álcool com a maior cara de satisfação que eu já vi.

— Não gosto que riam de mim. — Falo em meio a ardência terrível na mão.


— E eu não gosto de comer brócolis, e mesmo assim como. — Deu ombros como se não se importasse. — Você vai ser rei daqui a alguns meses, por quê se preocupa tanto com o que seu pai fala?


Ela pergunta sem rodeios me pegando de surpresa. Amerie era esperta o suficiente para perceber o que estava acontecendo, e era mal educada o suficiente para perguntar isso também.

— É assunto de família. — Corto seu olhar cheio de expectativas e ela me manda um olhar de tédio antes de bufar.


— Você é bem chato, sabia?


ela para de olhar para mim sem esperar resposta dessa vez e começa a enfaixar os cortes que não pareciam ser nada grave agora que estavam limpos. Acho que nunca quebrei nada, nem mesmo precisei de cirurgia, quase nunca ficava doente e só ia para fazer exames de rotina. O máximo que me acontecia era me machucar em alguma atividade quando eu era criança, e de jeito nenhum deixava ninguém chegar perto de mim da forma que ela tinha chegado. Amerie não sabia ainda, mas deveria correr o mais rápido que podia de mim. Meu pai tinha razão, ela estava começando a me atrapalhar e esse não era o acordo. Assim que eu voltasse para o Estados Unidos sairiam com Adeline e essa palhaçada de noivado falso teria fim.










HAPPY NEW YEARRR

Contrato azulOnde histórias criam vida. Descubra agora