Amerie

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Não era incomum pra mim participar de vários jantares, almoços e chás da tarde. Minha família era gigante e cresci abarrotada desses pequenos eventos, tanto do lado Grimaldi como do lado Wado.

Mas se tem uma coisa que é incomum é Brian estar participando de uma desses jantares.

— O importante é que todos estamos bem. — Minha mãe Charlie sorri, e toca minha mão por cima da mesa já que estava a minha frente. — Vamos nos adaptar a isso.

— Não quero me adaptar a isso. — Adam diz com um semblante calmo, igualzinho ao meu pai Oliver. — Eu deveria ter batido mais nele.

— Eu não lembro de ter criado você a base da porrada. — Minha mãe Zoe repreende ele com o olhar.

— Mas devia. — Mel, sua esposa se intromete, olhando feio também pra Adam. — Não sei como você é irmã desse imbecil, Mare.

— Ela não escolheu ser irmã dele, mas você escolheu ser esposa. — Holly da ombros. — O amor é mesmo cego.

— O que você sabe de amor? — Todd provoca. — Até um tempo desses só tinha transado com seu melhor amigo.

Holly faz uma expressão ultrajada e olha para os lados para garantir que ninguém tivesse ouvido, mas meu pai tinha decidido fechar o restaurante essa noite já que obviamente seria um assunto de família. Adam gargalha com a resposta de Todd, e todo mundo começa a rir da cara que ela faz, até mesmo Sebastian que até o momento não tinha dito nada.

— Mamãe! — Ela exclama. — Não vai me defender desse pirralho?

Me desligo da conversa a partir daí. Tudo estava bastante normal até o momento, e apesar de negar a todos, eu estava sim nervosa com o fato dele aparecer hoje. Brian não representava nada pra mim, eu tinha tido dois pais incríveis mas ele era biologicamente uma parte de mim e embora eu não precisasse dele de forma nenhuma, não posso ignorar a vontade que tenho de fazer ele participar de alguma forma.

Ele veio atrás de mim e quer alguma coisa, precisa da família dele, mesmo que não tenha sido uma.

Um garçom serve uma taça de vinho a minha frente, e dou um sorriso que parece sair mais como uma careta de agradecimento. Não quero fazer cena, então dou risada e faço alguns comentários espertinhos uma hora ou outra. Ninguém parece perceber além de Sebastian, que continua calado observando todo o circo pegando fogo. Apesar dele estar bem mais a vontade com tudo isso que me cerca, sei que é o jeito dele e que só o fato de estar aqui e gostar de todo mundo é um grande passo pra alguém que foi criado como ele.

— Por que você não trouxe seu namorado? — Aaron chega provocando Holly, que está com os olhos cerrados de raiva.

— Por que você não trouxe a sua namoradinha interna? — Ela retruca, e pela cara dos meus pais, eles não sabiam.

É impossível irritar Aaron, mas ele parece um pouco surpreso pela forma com que Holly diz e então se vira para os meus pais, que estão chocados.

— Você e Ella? Achei que ela era noiva. — Zoe diz, boquiaberta.

— Outra médica na família? — Meu pai bufa. — Estou tentando me livrar de Valerie a anos.

Meu celular começa a vibrar no meu colo, e tiro minha atenção da conversa que está a minha frente assim que vejo o nome Brian brilhar na tela. Minhas mãos suam de um jeito que sei que não é bom. Nunca senti essa ansiedade até o dia em que meu pai foi baleado, e ela parecia estar piorando a cada dia.

Levanto da mesa sem me preocupar em pedir licença e me afasto da mesa o suficiente para que o barulho de todos falando não me atrapalhe, meus pais iriam entender.

— Conseguiu achar o restaurante? — Minha voz fica fina, e tento ficar o menos tensa possível.

A ligação fica em silêncio por alguns segundo, e repito o nome de Brian duas vezes antes que a voz dele apareça.

— Querida, eu queria mesmo ir hoje. — Ele começa a dizer e sinto um aperto estranho no peito. — Houve um imprevisto e...

— Todos estão esperando a uma hora. — Digo com a voz trêmula. — É grosseria não aparecer!

Não acredito que estou chorando até sentir as lágrimas no fim da minha bochecha, me fazendo parecer uma garotinha com raiva do papai que não apareceu.

— Amerie eu não posso falar com você agora, prometo explicar amanhã. — Ele diz com a voz carregada de culpa. — Prometo te recompensar por isso.

— Recompensar? — Dou uma risada. — Não se preocupe em ligar pra mim de novo.

Encerro a ligação e passo as mãos pelo rosto, enxugando as lágrimas que nunca deveriam ter caído, não por causa de alguém que viveu bem sem mim durante anos. Viro novamente para mesa depois de algum tempo e Sebastian é o primeiro a me olhar,  parece entender automaticamente o que aconteceu por que ele levanta da mesa na mesma hora.

— Brian não vai poder vir. — Digo como se não fosse nada demais. — E preciso ir pra casa, então...

Charlie e Zoe se entreolham, Oliver fica vermelho de raiva e Liam me olha de uma forma toda amorosa que me faz ter vontade de ser um avestruz e enfiar minha cabeça em algum buraco por meses, até mesmo anos.

Sei que são meus pais e me amam, mas eu não deveria ser um aborrecimento depois que cresci, eles não precisavam de mais drama na vida deles. Não com meu pai tendo levado um tiro, e nem com Adam lutando pra ser alguém melhor a cada dia. Eles já tinham problemas demais, e eu deveria ser grata por participar dessa família, e não ser mais um peso.

— Duckie, não...

— Pai, não tem problema, eu tenho mesmo uma reunião agora. — Me esforço pra ser convincente sorrindo, e apesar de não acreditar, ele assente.


Detesto a forma como estou sendo encarada agora, e detesto pensar que estou deixando uma família tão feliz como a minha um pouco triste e só penso em deixar todo mundo o mais rápido que posso.

— Então vamos embora. — Cadeiras se arrastam antes que eu possa assimilar. — Eu tava mesmo com vontade de comer pizza requentada da princesa charlie.


Aaron zomba, ganhando um olhar feio da minha mãe e quase agradeço pela piada, antes de implorar pra que eles fiquem.

— Claro que não, vocês vieram jantar e a comida já deve estar pronta. — Insisto quando a maioria decide ir embora. — Vou precisar perder minha reunião?

Ameaço e todos voltam a se sentar, com exceção de Sebastian que permanecia do meu lado firme e forte.

Me despeço de todos com um abraço rápido e me preparo pra sair o quanto antes, demorando apenas pra abraçar Liam, que parece entender que não é um momento pra conversa. Parece estranho estar triste por meu pai, que até então nem sabia quem era, não estar presente quando eu tinha dois maravilhosos homens que sempre cuidaram de mim a vida inteira.

Parecia ingratidão.

Eles tinham sido maravilhosos pra mim, todos eles. Amado alguém que não deveriam amar, alguém que tinha o mesmo gene de uma pessoa que tinha dado tudo de si pra destruir o que eles construíram. Não mereciam ver a filha deles chorando por isso.

— Desembucha. — Sebastian diz assim que entramos no carro me fazendo respirar fundo.


— Sabe aquelas pessoas tristes que sentem que podem infectar outras pessoas com tristeza? — Uma lágrima solitária cai do meu rosto. — Me sinto assim.


Ele não me diz nada, e agradeço por isso, não quero conversar sobre o assunto. Não agora. Seus braços se abrem me chamando pra um abraço sem precisar falar nada, e me aninho a Sebastian que parece entender tudo que acontece comigo só de olhar.


GEnte meu celular está concertado, e agora os capítulos vão ser bem mais frequentes, desculpeeem

Contrato azulOnde histórias criam vida. Descubra agora