Sebastian

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Me sento a mesa trinta minutos depois que todo mundo. Meu pai me olha como se fosse me matar e sei que é por causa do meu atraso. Faço meu melhor para ignorar seu olhar, e graças a Deus, a mãe de Amerie decide me colocar ao lado de Adam, longe dele e de Chrstian.

Precisei de um tempo para pensar na besteira que eu tinha feito em beijar Amerie apenas por raiva de Jackie. Ela não tinha nada a ver com isso, e eu tinha arrumado mais um problema. Não conseguia sequer olhar para o seu rosto sem pensar no que estávamos fazendo a alguns minutos atrás, e sem dúvidas queria fazer de novo. A doce Amerie, que tinha palavras ousadas e o coração do tamanho do mundo parecia estar alheia aos meus olhares já que estava ocupada demais conversando com um cara que eu nunca tinha visto antes. Com certeza não era seu irmão.

Me forço a parar de olhar quando Adam me lança um olhar desconfiado. Sei bem que ele protege as irmãs com a própria vida, cansei de ouvir histórias de como ele espantava qualquer cara que chegasse perto de qualquer que fosse. Ele até tinha discutido com Christian uma vez, que olhava descaradamente para Donna -uma de suas irmãs- de biquíni.

Para minha irritação ele não faz a menor menção de espantar o tal senhor sorrisos, que faz Amerie gargalhar a cada frase. Talvez ele não cisme com todo mundo afinal.

Sem dúvidas nenhuma aquele era a refeição mais familiar que eu tinha participado em toda a minha vida. Diferente de tudo que eu estava acostumado, os Grimaldi se divertiam enquanto comiam juntos, era uma bagunça para quem estivesse de fora, óbvio, mas era fascinante para mim que jantava com apenas o barulho dos talheres batendo no prato desde que me entendo por gente. Pelo canto do olho observo Jackie sussurrar algo no ouvido do meu meio-irmão, fazendo-o sorrir automaticamente. Conheço ela bem o suficiente para entender que fez algum comentário terrível sobre tudo isso, e me encho de raiva instantaneamente.

— Acho que estamos assustando os príncipes. —  Charlise observa em alto e bom som, fazendo a atenção se concentrar nos visitantes.

Amerie que estava sentada logo a minha frente, olhou para mim pela primeira vez que me sentei na mesa, esperando que eu falasse alguma coisa.

— Acho que não estamos acostumados com tanto barulho. — Jackie sorri, seu veneno disfarçado nas feições suaves. —  O nosso palácio é bastante calmo.

—  Nosso palácio? — Donna pergunta depois de bebericar seu vinho. — você é da realeza? Nunca sequer ouvi falar de você.

Engasgo automaticamente, sufocando uma risada torcendo para que ninguém perceba. Jackie franziu o cenho de forma cômica, fazendo cara de tacho. Meus olhos vão para Amerie novamente, que tem um guardanapo de pano na frente dos lábios, mas pelos seus olhos enrrugados percebo que ela estava rindo.

— Sou a esposa do Christian. — Ela cerra os olhos, esticando a mão para cumprimentar Donna, como se estivesse se apresentando. — Jackson Montet.

A loira seguiu a mão dela esticada com um olhar divertido que todos os irmãos pareciam ter e sorriu falsamente, apertando de forma automática.

—  Donna Grimaldi, primeira filha da casa de Mônaco. —  Seu sorriso é verdadeiro e vejo Jackie se encolher.

Conseguia ler o que ela estava pensando até mesmo sem olhar para o rosto dela. Estava se sentindo completamente inadequada no momento, já que não importa o que fizesse, ela nunca seria filha de príncipes e princesas, nem de nenhum rei. Ela tinha herdado um título por causa de Christian, e obviamente se orgulhava dele, mas se ela sonhasse em um divórcio, sua realeza desapareceria.

— Você não é muito de falar não é? — Charlise pergunta ao meu lado.

—  Na verdade, ele fala até demais. — Amerie se intromete.  —  Só deve estar perplexo por sermos tão caipiras.

— Sem dúvidas fico perplexo toda vez, e sou da família. — Adam resmunga.

Dessa vez me permito rir. Observando o beslicão que Adam ganha de uma mulher estonteante a seu lado. Ela era terrivelmente parecida com Holly, mas parecia ser um pouco mais velha.

— Não fale nesse tom sobre a sua família, Adam Wado. — Ela réplica e vejo ele abaixar a cabeça como um cãozinho obediente. —  E você mocinha, arrume essas costas. Não quero ouvir nenhuma reclamação sobre dor nas próximas horas.

Amerie se indireta automaticamente na cadeira, fazendo a mesma expressão de Adam. Sinto vontade de soltar um comentário engraçado, mas calo a boca ao pensar que parece existir milhões de pessoas no momento. Era engraçado ver a forma como um homem casado e aparentemente dono de um gênio terrível obedecia alguém que nem era sua mãe verdadeira, considerando o fato daquela mulher provavelmente ser Zoe Wado.

Não consigo deixar de me perguntar se a minha mãe gostaria de estar aqui. Se ela gostaria da família louca de Amerie, ou acharia tudo barulhento demais. Considerando sua saúde acho que não gostaria de tanta agitação, mas por um segundo fecho os olhos e imagino que talvez sim. Em um mundo ideal minha mãe e eu participavamos de todo tipo de evento juntos, assim como pessoas normais faziam. Era um hábito que eu tinha desde que era criança, quando Anastácia era tão severa que me obrigava a ir dormir depois de cumprimentar a todos.

"ninguém quer ser importunado por uma criança chata, Sebastian."

Dou uma boa olhada ao redor enquanto termino de beber a terceira taça de vinho até agora. Meu pai estava certo, eu nunca poderia me casar com nenhuma dessas mulheres e não era por quê eu era especial demais. Seria cruel tirar alguém de um lugar tão amoroso e leve para o terrível castelo da Noruega, onde as pessoas apenas ligavam para títulos. Não que eu fosse diferente, passei minha vida inteira torcendo para que Christian desistisse do reinado simplesmente por que queria ter a posse daquilo que achava ser meu por direito.  Ele nunca tinha se mostrado muito entusiasmado para ser rei, diferente de mim, que passava cada hora sonhando acordado com tudo isso em minhas mãos desde que tinha bem menos de onze anos.

Olho para Amerie novamente, que parece alheia ao fato de eu não conseguir sequer piscar por alguns segundos. Todo traço de atração física que meu corpo podia ter sentido por ela esfriou no segundo que entendi que se ela continuasse sorrindo para mim daquela forma, eu poderia destruir seu lindo futuro regados a crianças que provavelmente seriam amadas por todas essas pessoas. Amerie não sabia ainda, mas estava inclinada a gostar de mim e era exatamente por isso que nós dois não podíamos manter nenhum tipo de contato.

E como um click, nós dois voltamos ao dia do baile, quando sequer tínhamos conversado.




Já tão shippando?

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