Contrato azul

Sebastian

É uma ideia terrível apresentar minha mãe para Amerie. Eu estava literalmente brincando com a sorte nesse exato momento. Reservar a cobertura do hotel parecia não ser privacidade suficiente uma vez que meu pai era o maior stalker que eu já tinha conhecido na vida, mas Jackie tinha me garantido que ninguém tinha aberto o bico até agora o que me dava pelo menos um pouquinho de paz.

Minha mãe era ótima em dar voltas no meu pai. As únicas coisas que consegui dele foram graças a ela, e para a minha sorte, ela estava do meu lado nessa.

— Não acredito que a sua mãe está aqui. — Norman sussurra como se fosse um crime falar.

— Nem eu. — Digo sendo rabugento. — Na verdade eu não faço ideia do que ela está fazendo aqui.

— E mesmo assim vai apresentar ela a Amerie, que não é sua noiva. — Ele lembra. — Enquanto sua noiva está de luto pela namorada dela. Isso daria uma boa novela mexicana, na verdade, é um enredo ótimo.

Olho feio para ele que dá de ombros e enche o copo de água até a boca. Amerie aparece ao lado de um funcionário do hotel no instante em que olho para a porta, com um vestido preto básico, mas incrivelmente bonito.

— Mare! — Norman levanta e faz questão de abraçar ela mas solta assim que olho feio para ele. — Espero que não se importe comigo aqui.

— Claro que não. — Ela dá um dos seus sorrisos gigantes e me cumprimenta sem nem encostar em mim, me deixando automaticamente puto.

Observo uma conversa casual começar a se desenrolar a minha frente e não sou incluído nela. Tento o máximo ignorar o que sinto quando Amerie começa a rir das piadas idiotas de Norman. Sei que está sendo simpática e também sei que não tenho direito nenhum de sentir ciúmes. Ela estar aqui já é um grande passo.

O celular dela se acende com uma ligação e é impossível não ler o nome "Dustin".

— Você não vai atender? — Meu tom de voz sai mais duro do que o previsto, mas Amerie não se abala.

— Não, sei o que vai falar. — Ela dá ombros e ignora a chamada.

— E o que é? — Sei que estou sendo um imbecil mas não consigo me controlar. — Nunca ouvi falar nesse cara.

— Deve ser por quê não tem nada a ver com você. — Ela retruca e ouço Norman rir, mas ele para no momento em que olho feio para ele.

Antes que eu possa falar mais alguma coisa o celular toca de novo e dessa vez Amerie atende, ignorando o olhar de raiva que ganha de mim.

— Não posso agora, eu te disse que ia sair de tarde. — Ela começa a falar e meu queixo quase cai no chão com a incredulidade. — Pode ser de oito horas? Ok, até mais tarde.

— Pra onde você vai com esse cara de noite? — Pergunto ríspido sem me importar que ele esteja me ouvindo.

Amerie revira os olhos e se levanta saindo de perto de mim, e vou atrás dela no mesmo segundo ouvindo ela continuar a falar com o cara.

— Sim eu sei que eu disse que seria hoje de manhã mas eu tive um compromisso, estou garantindo que hoje de noite nós vamos resolver isso. — Ela pausa assim que eu a alcanço, segurando seu braço só pra que ela se vire para mim. — Você pode me ligar depois? Não posso falar agora.

— O que você vai falar com ele que não posso escutar?  — Pergunto assim que ela desliga com uma expressão furiosa no rosto.

— Sebastian, vou dizer uma única vez para que fique bem guardado na sua mente. Nós dois não somos absolutamente nada e você não tem nenhum direito de fazer ceninha de ciúmes! — Ela eleva a voz e da um passo a minha direção. — Sei que cometi o erro terrível de deixar você entrar na minha vida milhões de vezes, mas isso é sobre meu trabalho e você não pode e nem vai se meter! 

— Seu trabalho? De noite? — Pergunto com a voz cheia de sarcasmo. — Vou com você então.

Ela me olha com incredulidade por bom segundos e começo a me arrepender da cena que estou fazendo no momento em que Amerie fecha os olhos, acho que procurando paciência.

— Você ouviu a parte do "não temos nada"? — Ela pergunta sem olhar para mim. — Tinha razão quando terminou comigo, você não me merece mesmo.

Não tem como evitar o baque que sinto quando ouço suas palavras. Amerie não é como eu, ela não falaria isso apenas para ser cruel. Se ela disse isso é porque pensou antes, e se pensa em mim assim é inevitável não me sentir mal. Ela olha para mim com os olhos marejados de lágrima e me sinto mil vezes pior. Já perdi as contas de quantas vezes fiz Amerie chorar desde que nos conhecemos e sei que apesar de dizer sempre que não vou ficar por perto, sempre faço isso e sempre estrago nossos momentos juntos.

— Amerie, eu não...

— Meu filhinho lindo! — A minha mãe exclama a três metros de nós e Amerie dá um pulo de susto. — Meu Deus, você cresceu mais?

Sou esmagado por seu abraço em questão de segundos. Minha mãe era alta e fazia questão de usar saltos altos sempre, então ela chegava a minha altura com facilidade. O cheiro nostálgico de flor estava nela e começo a me perguntar quando foi a última vez que visitei a sua casa.

— Eu continuo do mesmo tamanho. — Minha voz sai um pouquinho rabugenta e minha mãe me olha atravessado.

— Tia Lilly! — Norman grita mesmo estando muito perto de nós, e em segundos ele está a abraçando.

— Você estão tão grandes que me sinto velha. — Ela diz com um sorriso brincalhão e se vira para cumprimentar Amerie. — Ah, meu Deus! Você deve ser a Amerie.

Minha mãe a abraça como se fossem amigas íntimas e Amerie toma um sustinho inicial, mas retribui o abraço sem nenhuma cerimônia.

— Vi suas fotos no Google, e você é ainda mais bonita de perto! — Amerie cora do leve e acho adorável. — Sebastian me falou muito sobre você esses últimos meses, é um prazer finalmente te conhecer.

— É um prazer conhecer você também. — Minha menina sorri tímida.

— Então o que estamos esperando? Eu estou morrendo de fome! — Minha mãe agarra Amerie pela mão determinada a saber de tudo pela boca dela e a arrasta até a mesa.

O incomodo pela sinceridade da minha mãe não chega. Não estou nem aí que Amerie saiba o quão difícil foi todos esses meses sem ela. Só estou feliz que ela esteja aqui, considerando me dar uma chance mesmo que negue isso. É a única coisa que importa no momento.

Quem gosta da tia Lilly? Eu gosto viu!!!!