Amerie

2.4K 341 42
                                    

Pego no sono antes que Sebastian volte para o quarto mas acordo assim que escuto a porta se fechar. Por um momento penso que ele pode ter ido embora, mas depois que sinto seu corpo afundar na cama descarto essa possibilidade.

— Sei que você acordou.  — Ele diz e sinto que está olhando para mim mesmo que eu esteja de olhos fechados.  — Você não sabe fingir bem. 

Levanto o dedo do meio para ele ainda de olhos fechados e escuto a sua risada ecoar pelo quarto. Parece que nós nunca deixamos de nos falar. Mesmo com o desastre que foi hoje, toda vez que eu e Sebastian estamos sozinhos o mundo inteiro parece ficar em silêncio. 

Abro apenas um olho e vejo um carrinho de comida ao lado da cama e pulo por cima de Sebastian para pegar um lindo e unico Muffin do lado de alguns mini donuts. 

Continuo mastigando e ignoro completamente sua cara de protesto, dando uma espiada no que tem no carrinho. Normalmente eu odiava comida de Hotel, já que preferia cozinhar as coisas que comia mas hoje era uma exceção.  Sai do jantar sem nem mesmo sentir o gosto do que eu estava comendo graças a Sebastian que tinha me arrastado do jantar. 

— O que você fez nesses últimos meses? — Pergunto depois de algum tempo de silêncio. 

Sebastian passa a mão direita pela minha nuca e faz uma massagem maravilhosa enquanto tomo o suco de laranja que ele tinha pedido. Ele estava observando enquanto eu comia com um semblante tranquilo e não tinha tocado em nada do carrinho ainda. 

— Resolvi mil e um problemas. — Ele diz franzido o cenho. — Ser rei é bem mais trabalhoso do que imaginei. 

— Deve ser mesmo um grande fardo herdar um país. — Ironizo e ele da um pequeno beliscão na minha perna.  — Pobre homem rico. 

 — É um fardo quando tem uma família inteira fazendo o possível para que você não herde. — Ele revira os olhos mas abre um sorriso depois. — Agora você não pode reclamar, ficou assando pão esse tempo inteiro. 

Dou uma tapa forte em seu peito e ele começa a rir ainda mais da minha cara. Acho que assei pão só uma vez em toda a minha carreira, e não sabia de onde vinha esse apelido ridículo. 

— Na verdade eu abri uma loja. — Digo mesmo que ele ainda esteja rindo. — E nós não vendemos pão. 

— As padarias de hoje em dia são estranhas. — Sebastian abre um sorriso inocente no rosto e é minha vez de revirar os olhos. 

—  Você continua o mesmo imbecil. 

— E você continua sendo o amor da minha vida. 


O clima leve que tinha se instalado desaparece no momento em que a frase saí dos seus lábios mas Sebastian parece não ligar. É quase esperado que não ligue. Ele estava bem com Adeline e com quem seja lá que estava vivendo todos esses meses sem nunca nem se preocupar com a minha existência. Dizer essas palavras não significa mesmo nada para ele. 

— Por quê você não ligou? — Pergunto antes que possa me conter. — Se me ama tanto por quê tudo isso? eu não consigo entender.

— É tudo bem mais complicado do que você acha. Se eu não ligasse seria melhor não só para você como pra mim também. — Sebastian diz com uma expressão neutra, quase como se não fosse nada demais. 

Encerro o assunto ficando em silêncio. Com sorte vou dormir e acordar sozinha amanhã, quando Sebastian lembrar que morre de medo do pai e com bastante azar, ele me deixa em paz depois de alguns dias como sempre faz. Seja lá o que for que o pai dele esteja usando para nos separar, é demais para ele e isso não vai mudar. Se Sebastian realmente me amasse ele me mostraria e se não está disposto a isso, palavras não valem de nada. 

— Como será que Allie está agora? — Pergunto depois de um tempo calada. — Acho que eu devia ligar pra ela. 

— De jeito nenhum. — Sebastian para de massagear a minha nuca, franzindo a testa. — O que você poderia falar com ela?

— Não sei. — Sou sincera e dou ombros. — Quando você foi embora achei que nunca mais ia fazer nada direito e com o tempo isso passou, queria dizer a ela que vai passar também. 

— Achou que não ia fazer nada direito? você? — Ele ri voltando a mexer a sua mão que estava no meu cabelo. — Amerie isso é impossível. Você é a pessoa mais forte que conheço. 

— Pessoas fortes também tem seus corações partidos. — Falo fazendo uma careta. — Isso não significa menos força.  


Antes que Sebastian possa continuar qualquer besteira que tenha pra falar seu celular começa a tocar com uma música que nunca vi na vida, e ele pula da cama do mesmo seguinte. Observo ele olhar para o relógio e fazer uma conta com os dedos antes de atender com uma careta.

— O que aconteceu? Não. Estou na Espanha. Resolvendo algumas coisas. Por que quer saber em que hotel estou?


Observo sua cara confusa e meu sangue congela. Se fosse o pai dele esse seria o momento em que Sebastian ia passar correndo pela porta. Começo a achar que foi um erro ter vindo até aqui com ele e a vontade de ir embora começa a aparecer. É terrível que eu tenha me tocado disso só agora, mas eu não devia aparecer entrando no hotel com um homem que estava noivo.

— Não vou encontrar você amanhã, eu não posso fazer isso e você sabe. Estou com Amerie e não vou a lugar nenhum antes de resolver isso com ela. — Ele começa a andar de um lado para o outro, claramente nervoso. —  Mãe ela não vai querer conhecer você!


Dessa vez sou eu que levanto com um pulo. Nós só falamos da mãe dele algumas vezes depois do dia em que ele me levou até a praia, mas de jeito nenhum eu deixaria que ela pensasse que eu era uma riquinha esnobe. Puxo o celular da mão dele que fica atônito quando percebe o que aconteceu, e corro para longe antes que ele pegue de mim.


— Olá Senhora Fox. — Sebastian cerra os olhos para mim mas não tenta me alcançar como imaginei. — Seu filho está errado, adoraria conhecer você.


— Ah, eu imaginei que ele estava mentindo, Sebastian tem esse péssimo hábito. —  Ela faz uma pausa. — Vim a trabalho e imaginei que pudesse passar no hotel em que ele está hospedado, tudo bem para você?

A voz dela é bem diferente de como imaginei e fico me perguntando se ela parece com ele.

— Claro! — minha voz sai mais animada do que eu pretendia. — Pode ser às duas horas? De manhã eu tenho um compromisso.


— Sem problemas, obrigada de verdade, não consegui vê-lo no último ano. —  Ela suspira. — Estou ansiosa para conhecer você.


Nos despedimos e só aí percebo que Sebastian estava do meu lado, olhando atentamente para mim com uma cara nada boa.

— Eu queria ficar só com você. — Ele range os dentes. — Linda, você não conhece a minha mãe ela...


— Sebastian você tem sorte que eu esteja aqui, se eu fosse você não jogaria isso pela janela agora. — Faco uma carranca e ele revira os olhos. — Você não merecia nem que eu olhasse para você depois de tudo.


— Eu não merecia? — Ele pergunta sarcástico. — Você não sabe de nada Amerie. Nada mesmo.


—  Então se sinta livre para me contar. — Retruco com o mesmo tom e vejo que ele fica sem palavras. — Ótimo, agora vou dormir.



Ele não diz mais nenhuma palavra e sinto que venci a discussão quando as luzes são apagadas. Um pequeno sentimento de vitoria começa a correr nas minhas veias, mas a ansiedade do amanhã também. Na teoria não era nada importante, eu apenas iria conhecer a mãe dele. Mas na prática era a mãe do homem que eu amava, e por mais que eu me esforçasse para não ser paranóica isso me preocupava um pouquinho. A ideia dela não gostar de mim me preocupava mais do que deveria.



Desculpem o atraso!!! Eu tava sem carregadoooor

Contrato azulOnde histórias criam vida. Descubra agora