Amerie

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O envelope parece meio pesado na minha mão mas não acho que seja a melhor hora no momento. Como se tudo não fosse ruim o suficiente, Brian resolveu aparecer.

Parece estranho ver como ele ficou diferente com o tempo. Na minha cabeça ele ainda estava preso a imagem da foto do aniversário de dezesseis anos de idade da minha mãe que minha vó exibia em cima da lareira sabe lá Deus por quê. Ele usava um corte militar agora, e vestia uma calça jeans preta como da última vez que vi e uma blusa branca básica. 

Ele não parecia nem um pouco com o cara que arrasou o coração da minha mãe, na verdade era até cômico considerar que ele fosse uma opção quando se comparava a Oliver. Passo a história que foi contada a mim mil e uma vezes e algumas perguntas começam a surgir na minha mente. Se ele é mesmo meu pai biológico, quem diabos é minha mãe? Riley? Sou filha das pessoas que fizeram a vida da minha mãe um inferno?

— Consigo ouvir seus neurônios fritando. — Minha mãe diz me dispertando do meu transe.

— Desculpe se minha vida virou uma novela de uma hora pra outra. — Cruzo os bracos e vejo Zoe começar a abrir a boca, então me apresso a falar  — E não, não quero saber de algum novo trauma que você passou na minha idade, é meu momento de viver uma experiência traumática.

— Não acredito que criei você com tanto amor, carinho e cultura pra você tentar me calar. — Ela bufa revirando os olhos. — Gostava mais de ser mãe quando você ainda não podia me dizer não. 

— Gostava de quando você me dizia o que fazer. — Olho para Brian sentado do outro lado do saguão do hospital. — Você sempre me disse com quem andar, o que fazer, como agir e tudo deu certo exatamente por isso. Não sei o que fazer agora mãe, não tenho a menor ideia de como lidar com isso.

O clima leve se vai e a nuvenzinha marrom que estava acima da minha cabeça volta tão rápido como se foi. Minha mãe tinha passado por coisas bem piores do que isso, e apesar de saber que nossas vidas não eram iguais eu estava envergonhada por isso estar me abalando tanto. 

— Amerie, você foi a melhor filha que alguém podia ter. É tudo que eu sei, qualquer pessoa teria sorte de estar ao seu lado.  — Ela afaga minhas costas com a mão. — E você não segue exatamente todos os meus conselhos, não lembro de ter me perguntado nem uma vez o que eu achava de Sebastian antes de ir a tão tão distante com ele.

Uma risada curta sai dos meus lábios. Odeio que minha mãe saiba interromper meus momentos tristes, mas adoro quando ela faz isso.

— Vamos mesmo falar dele agora? — Arqueio uma sobrancelha quando olho pra ela. — Não acredito que esperou esse tempo todo e está falando disso justamente agora.

— Você não falou comigo sobre isso, e nem ia falar. — Ela acusa me fazendo levantar as mãos em rendição. — E ele parece estar pronto pra arrastar você em direção ao altar toda vez que te olha.

— Sebastian é um babaca. — Garanto a ela. — Ele não quer nada além de confundir a minha cabeça, não consigo entender o que ele sente por quê ele não fala.

Minha mãe dá um risinho convencido por que mordi a isca, agora nossa conversa é sobre Sebastian.

— Infelizmente todos os loiros são assim. — Ela dá ombros. — Mas eu daria o benefício da duvida a ele, Sebastian realmente achou que estava fazendo um bem a você ao se afastar com toda essa história.

— Ele continua sendo um babaca. — imito seu gesto de dar ombros.


Era verdade. Por mais que Sebastian tivesse armado um circo pensando que estava me protegendo, não dava pra ignorar o fato de que ele era uma pessoa ruim na maioria das vezes. Tudo isso poderia ter sido evitado se ele tivesse me contado a verdade, e ao invés disso ele preferiu mentir e se afastar. Consigo entender que ele passou a maioria da vida agindo por conta própria e tendo que acatar cada decisão do seu pai calado e que provavelmente era incapaz de fazer planos com alguém, mas não posso aceitar menos que eu mereço só por quê  é Sebastian. 

— Querida, talvez você esteja sendo um pouco crítica demais. — Minha mãe ignora o que eu disse. — Sebastian ama você, qualquer pessoa que passe cinco segundos olhando pra vocês dois...


Não sei se é minha mãe que se cala quando vê Sebastian correndo pelo hospital ou se sou eu que me levanto depressa demais. Ele não me viu ainda, e parece atordoado enquanto fala com a recepcionista. Olho para ele dos pés a cabeça me certificando de que ele está bem antes de entrar em pânico. Mesmo que eu fale que detesto ele e mesmo que não seja um momento bom, tenho a impressão que sempre vou me preocupar com Sebastian.

— Sebastian? — Seguro seu ombro quando chego perto o suficiente fazendo ele virar assustado pra mim.

— Amerie? Você quase me matou de susto! — Sua voz soa esguaniçada e ele me esmaga em um abraço antes que eu possa protestar. — Eu pensei que você...

Mal consigo respirar com ele me abraçando desse jeito mas consigo sentir o coração de Sebastian bater contra o meu peito, quase compensa o fato de morrer sem ar, mas me solto dele mesmo assim.

— O que aconteceu? — Pergunto quando vejo sua expressão preocupada. — Você está pálido. 

Estava mesmo. Sebastian parecia doente e provavelmente era a primeira vez que eu via ele com apenas um casaco. Nada de blazer, nada de paletó, parecia ter corrido de Ontario até aqui.

— Nós temos que conversar, você não está segura aqui e sei que eu fui um otário com toda a história de Brian e que provavelmente não quer me ver nem pintado de ouro mas eu juro que vou ser cem por cento honesto com você agora. — Ele me bombardeia com um monte de palavras. — Amerie eu amo você e acabei de ver meu pai e dizer que não quero saber de nenhum reino e de nada que não seja fazer você feliz. Eu posso trabalhar em qualquer coisa e eu ainda sou milionário então nós não vamos morrer de fome, eu prometo que vou arrumar outra coisa para fazer da vida e que nunca vou me envolver com nada que seja político e se você quiser prometo que nunca mais piso na Noruega eu...

— Sebastian, respire. — interrompo seu monólogo. — O que aconteceu? Por que você chegou aqui correndo? E como assim você não vai mais ser rei?

— Acho que ele vai desmaiar. — A recepcionista fala.

— Ele não vai... — Sebastian cai no chão antes que eu possa terminar a frase. — É, ele desmaiou.

Fico paralisada tentando entender a situação por alguns segundos antes  de me abaixar e de acenar pra uma enfermeira que passava na hora.

O que porra acabou de acontecer?




Não me matem!!! Gente meu celular quebrou e eu fiquei doente, parece desculpa mas é verdade kkkkk vou compensar vocês bjoo

Contrato azulOnde histórias criam vida. Descubra agora