Lua 49, dia 8.

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Eu acordei com o barulho das xícaras sendo equilibradas em cima da bandeja.

- Vou deixar os dois a sós. Se precisar de mim, estarei na orla. – Ainda de olhos fechados eu escuto Antonieta despedir-se de Berenice. Abro os olhos e vejo Bere mandar um beijo para Antonieta antes da mesma fechar a porta.

Percebo que estou deitado no tapete da sala da cabana de cravos. Minha mente é tomada por uma enxurrada de lembranças da noite anterior.

Berenice ajoelha ao meu lado, com o nosso desjejum perfeitamente empilhado na bandeja de prata.

- Bom dia meu duque. – Ela diz baixinho. Eu a encaro, tento levantar e percebo um desconforto nas costas. Eu não sou mais um garotinho. Sorrio ao pensar sobre isso.

- Bom dia minha princesa. – Eu digo de volta. Ela está graciosa em um vestido bege (ou pérola, eu nunca vou saber). Cheio de bordados. Um chapéu grande e espalhafatoso. A cara de Bere! Uma perfeita dama da alta realeza. Eu coloco a mão em sua perna para poder roubar-lhe um beijo e sinto a ponta de sua faca. Ela sorri com o toque. Uma perfeita dama da realeza e ainda assim uma esposa do mar. – Onde estão as meninas? – Pergunto.

- Tavaras acordou junto com o sol. Levou Maria para as tarefas burocráticas, estavam combinando de começar o treinamento de Maria. – Berenice dá de ombros, assim como eu. Se Tavaras julga ser a hora certa, então, provavelmente é a hora certa. – Agora devem estar arremessando facas uma contra a outra até acertarem o olho de alguém. – Ela faz piada, eu sorrio. Percebendo seu nervosismo. – E Antonieta acabou de sair... Deve ter ido encontrar as outras duas. – Ela balança a mãozinha em direção a porta, delicada e despretensiosa. Me ajeito em cima dos cotovelos, ainda com as pernas esticadas sobre o tapete, encarando o desjejum intocável. Estou aguardando o que estiver por vir.

- O que foi meu amor? – Pergunto por fim. Ela suspira.

- Você sabe que dia é hoje? – A pergunta vem como um tiro, minha mente recém acordada faz uma viagem no tempo, buscando datas, anotações, vestígios. Tudo em instantes.

- Cinco anos essa noite? – Eu digo. É uma pergunta, mas com várias camadas de certeza. Ela sorri e se joga em meus braços, derrubando-me de volta ao tapete.

- CINCO ANOS ESSA NOITE! – Ela comemora antes de me cobrir de beijos. A felicidade de Berenice é contagiante. É impossível estar com ela no mesmo cômodo e não sorrir. Ela carrega as cores da aquarela inteira em seu passo. Todos os poemas em suas curvas. Todas as melodias em sua fala. A seguro pela cintura em um abraço forte e agradeço mentalmente pelos cinco anos de lealdade, de carinho, de compreensão, de perversão, de companheirismo.

- O que você deseja minha princesa? – Eu sussurro em seu ouvido. Ela se eriça.

- Eu quero uma festa! Uma festa linda! Com música, comida, dança... – Ela diz, voltando a sentar ao meu lado, vislumbrando o futuro próximo.

- Pois você terá! – Eu digo por fim. Ela bate palmas no ar e volta a me beijar.

A gente come, troca carícias e eu me coloco de pé. Se vamos dar uma festa hoje a noite, então eu preciso avisar os marujos e chegar a tempo a orla antes que Tavaras arranque mesmo o olho de alguém.

Maré BaixaOnde histórias criam vida. Descubra agora