Lua 49, dia 11.

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Acordei com a luz do sol entrando pela janela. Tavaras está tomando uma xícara de chá, lendo as cadernetas de anotações dos conselheiros. Como solicitado uma noite anterior, os conselheiros devem ter as deixado em cima da mesa da cabine, Tavaras deve ter ido busca-las e já aproveitou para pedir um chá. Ela fica radiante sentada naquela mesa. A luz da janela a ilumina, parecendo asas de anjo. Minha visão força o foco, ela me olha. Poderosa, impiedosa, sedutora e me lembra a primeira vez que sentou ali. 10 anos atrás, mais jovem sim, mas igualmente linda. Eu sorrio, ela sorri de volta.

- Bom dia meu duque. – Ela diz. Eu desvio o olhar e encaro o teto. Murmuro um "bom dia" de volta e forço meu corpo a levantar.
- Alguma novidade? – Eu questiono, me referindo as anotações.
- Não, nada. – Ela diz. Jogando a caderneta que estava em mãos em cima das outras. Beberica seu chá e me olha. – Tobias... – Ela começa, eu a encaro, antes de terminar de vestir minhas calças. – É um homem de poucas palavras. – Ela conclui. Bebendo mais de seu chá. – Na noite da tempestade, ele relatou apenas "tempestade".
- Somente "tempestade"? – Eu pergunto com uma risada nasal. Ela responde também rindo. Eu caminho até a minha prateleira, ainda sem camisa e de pés no chão. Passo os olhos pelas garrafas.
- Desjejum. – Ela diz. Eu a encaro com deboche. Ela aponta para a porta. Eu reviro meus olhos e caminho até a mesa. Me apoio em meus braços e chego perto do seu rosto.
- Eu já estou bem melhor amor, já pode sair da minha cadeira. – Eu digo, a provocando. Ela sorri atrás da xícara.
- Que bom que está melhor meu duque. – Ela diz, larga a xícara e olha no fundo dos meus olhos. – Já que você quer a cadeira de volta, eu devo sentar em você? – Ela fala eriçando cada centímetro do meu corpo. Dá para ver em seu olhar que a sua intenção é justamente essa. Eu balanço a cabeça, tentando tirar do meu pensamento todas as cenas em que eu arranco essa pose de capitã pirata que ela banca até ela sussurrar "seja gentil".

Tavaras levanta da cadeira, da a volta na mesa. Me encara a alguns passos de mim.

- Você tem que se recompor, as meninas estão com saudade. – Ela levanta a sobrancelha, recarrega sua pistola, coloca na bainha e sai. Meu olhar a acompanha até a porta.

Eu termino de me vestir. Calço as minhas botas e começo a torcer para que o dia de hoje seja tranquilo. Uma reza inútil, já que todos os dias de minha vida provam que meu destino é apaixonado pela minha morte e a provoca constantemente só pelo prazer de poder a ver de perto.

Maré BaixaOnde histórias criam vida. Descubra agora