Lua 49, dia 9

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Eu passei a noite em claro, não consegui dormir nem por um segundo. Depois que Berenice pegou no sono ao meu lado, Tavaras levantou e deixou os aposentos. O sol já estava beijando as ondas do mar e eu sabia que tinha que levantar e resolver os assuntos burocráticos.

Deixei Berenice dormindo na cama improvisada, em meios aos lençóis bagunçados. Peguei a muda de roupa que estava dobrada no corredor em frente a porta. Algum serviçal a deixou ali antecedendo a minha necessidade. Fui até o quarto de banho, depois de muita água quente, calçar minhas botas e acender um charuto, eu estava pronto para o dia.

Cheguei na Cabana Maior em meio ao desjejum dos conselheiros. Aproveitei para sentar-me a mesa. O espanhol estava animado e bem enturmado aos demais.

Comi um pão de sal e peixe assado, agradecendo aos céus pelo alimento.

- Agora que estamos todos aqui, embarcamos quando meu senhor? – Francis pergunta. Ansioso para ver sua esposa e filha. Nem sei se mais alguém além de mim, tem essa informação. Sem ser Francis, nenhum outro conselheiro possui família. Entendo completamente seu zelo pela descrição.
- Por mim, erguíamos as velas hoje mesmo. – Alfredo resmunga. – Não aguento mais o calor de Concordia.
- Nossa próxima parada é Torunta? – Pergunta o espanhol. Os outros conselheiros concordam com a cabeça.
- Em duas semanas chegamos em Torunta e de lá, cada um de nós segue para o porto em que nossas famílias nos esperam. – Eu digo. Os conselheiros parecem animados. Tobias me encara.
- Embarcamos hoje, então? – Ele me questiona.
- Sim. – Eu digo. – Vou subir ao navio agora, para averiguar como está Teresa.

Teresa é nome do meu navio. História engraçada essa. Meu bisavô passava longos períodos fora de casa, minha bisavó, estava certa de sua infidelidade. Eis que um dia, o questionou "eu quero conhecer a Teresa", meu avô a olhou assustado (ainda consigo lembrar da feição de meu pai me contando essa história pela quinta ou sexta vez) "que Teresa mulher?" ele pergunta. "A mulher que você se deita por tantas noites e esquece da nossa cama". Nesse dia meu bisavô levou minha bisa até o mar, lhe apresentou o navio e explicou de onde provinha o dinheiro da família. Ela odiou, mas dançou com ele no convés. Minha bisavó nunca embarcou no Teresa, por mais que tenha sido ela que o tenha batizado. Nasceu, viveu e morreu em Torunta. Cidade onde eu vou todos os anos visitar minha madre e a dama que também se nega a pisar no navio.

Maré BaixaOnde histórias criam vida. Descubra agora