Piratas, mulheres, festas e discursos

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Você já teve o prazer de ouvir um discurso pirata? Talvez você não saiba, mas fomos nós, os piratas que inventamos os discursos. Somos ótimos contadores de histórias. Somos excelentes fatores motivacionais, imprevisíveis, insanos e perdidamente apaixonados. Você só é um pirata, se souber ganhar tempo e corações, com as suas palavras.

Peguei minha taça com rum, levantei ao alto, as risadas silenciaram, os olhos moveram-se pra mim. Em pé, de costas para a floresta que nos cerca, de frente para aquela grande mesa, para minha tripulação, minhas mulheres e as profundezas do mar.

- Senhoras e senhores, essa noite, comemoro junto a vocês, muitas de minhas conquistas, todos os saques de tesouros, cada peso em ouro, cada gota de vinho. – Pude ouvir os homens urrar e as mulheres aplaudirem, busquei o olhar de Berenice, que seguia cada uma de minhas palavras, como se estivesse me desenhando com os olhos – Mas dentre todos esses tesouros, cinco anos atrás, nessa mesma noite... – Fiz uma pausa dramática, Berenice suspirou – Eu comi o pior bolo de chocolate de minha vida – Os marujos sorriram, Berenice me encara incrédula, mas ainda assim sorrindo – E por tamanha afronta, levei a filha do almofadinha como compensação. – Mais risadas, Antonieta estava jogando a cabeça para trás de tanto rir. Tavaras escondia o rosto entre as mãos. Diminui o tom da minha voz e me posicionei de frente para Berenice. – Eu só não contava que me apaixonaria por ela. – Digo por fim. Berenice coloca a mão no peito, fingindo falsa modéstia. Os marujos urram e as mulheres choram. Eu pego a mão de Berenice e a beijo. Levanto a taça mais alto e digo – APROVEITEM O BANQUETE.

As pessoas começam a atacar a comida e eu já estou pronto para me sentar de volta a mesa e fazer o mesmo, quando sinto um toque firme em meu ombro. Não sei quem é, mas seja quem for, saiu das sombras e não está respeitando o limite de espaço e a regra pirata de nunca encostar no capitão, a não ser que você seja uma de suas mulheres. Como minhas mulheres estão quase todas ali presentes, quem diabos está segurando meu ombro?

O que aconteceu em seguida foi muito rápido.

Eu virei a faca trançada que estava em minha cintura, junto ao saco de moedas, para que alcançasse o buxo de quem estivesse em minhas costas. Berenice desembainhou sua faca e se jogou em direção ao joelho do homem misterioso. Tavaras tirou a mão que estava em meu ombro e posicionou sua adaga ao longo do corte da morte. Já Antonieta mirava sua pistola, por cima da mesa, para o rosto atrás do meu.

Tudo rápido de mais para que pudesse descrever. O homem ali teria uma morte dolorosa de mais, se não explicasse de onde vinha e o que queria.

O acampamento inteiro estava inacreditavelmente silencioso.

- Tobias...? – Escutei Maria questionar, imóvel como uma estátua.

Maré BaixaOnde histórias criam vida. Descubra agora