O que você sabe?

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- Você conversou com as garotas? E com Alfredo? – Eu pergunto para Tavaras enquanto percorro os corredores do navio.
- Alfredo disse que a troca de quarto foi autorizada por Maria. – Tavaras me encara. Eu retribuo o olhar. – As garotas disseram que não sabem de nada da vida pessoal de Madalena, mas que desconfiavam de um amante, ela dispersava pelos corredores e era de costume se afastar dos grupos. – Paramos de conversar em frente a porta de Zaila. Tavaras e eu estamos de frente um para o outro, as coisas estão tomando um rumo diferente em minha cabeça e eu não gosto desse roteiro.

Zaila abre a porta antes que possamos bater.

- Eu sabia que viriam. – Ela diz, exibindo um sorriso ardiloso.
- Claro que sabia. – Tavaras revira os olhos. Zaila abre espaço para que possamos passar.
- Era você ou o padre do final do corredor, e você sabe que eu amo as suas curvas bruxa. – Eu digo, Zaila me encara com deboche. Ela não gosta muito quando eu a chamo de bruxa, ou finge não gostar.
- Vai precisar mais do que um padre para salvar a sua alma meu Duque. – Ela sorri, eu me aproximo do seu corpo seminu, desvio o caminhar e me sento em frente a sua mesa. As cobras sibilam em nossa volta.
- Zaila, você sabe para quem era o veneno? – Tavaras pergunta. Zaila corre seus olhos para ela. – Já contei tudo que eu sabia. – Zaila me encara.
- Pode ter esquecido algum detalhe, que não acreditava ser relevante. – Eu digo em tom sedutor. – Ela pode ter mencionado a serventia do remédio? – Tomei o cuidado de trocar a palavra pejorativa "veneno" por "remédio". Zaila contornou a sua mesa, sentou, pegou um frasco e o balançou em minha frente. Era uma mistura de ervas embebida em um líquido com tom amarronzado. Parecia um chá.
- Serve para desintoxicar o corpo. É bom para possíveis infecções. – Ela conclui. Eu respiro fundo, viemos até aqui atoa. Começo a desacreditar em nossa busca, quando Tavaras dá dois passos para frente, coloca suas mãos sobre a mesa e encara Zaila.
- Nós duas sabemos que essas "infecções" vão embora assim como gravidez indesejada. É uma das contraindicações dos seus remédios. – Tavaras conclui. – Vamos lá Zaila, já sabemos que foi para isso que Madalena comprou o veneno. Agora nos resta saber para quem? – Zaila lambe os lábios, mas não tira os olhos de Tavaras. Percebo que Tavaras mentiu para mim quando disse que Zaila tinha dado essa informação a ela. Pelo visto, foi dedução, ou Zaila está fazendo mais um dos seus joguinhos psicológicos conosco, é sempre bom ter todas as opções em aberto. Uma cobra desliza sobre a mesa, seus tons de verde refletindo as sombras do ambiente. A cobra se aproxima das mãos de Tavaras, eu friso o cenho, Tavaras e Zaila não fazem sequer um único movimento.
- Eu não sei de quem era o bebe. – Zaila diz por fim. Eu respiro aliviado, enfim estamos indo à algum lugar. – Mas não creio que fosse de Madalena. - Eu volto minha atenção para Zaila - Ela parecia tranquila para alguém que está desesperada. Normalmente quando as mulheres chegam até mim, elas estão dispostas a tudo. Conhecem os riscos e sabem que podem não sobreviver ao procedimento. - Zaila puxa o ar antes de continuar as conclusões - Madalena estava curiosa, mas não desesperada.
- Então é possível que o veneno não fosse para ela? – Pergunto. Zaila confirma.
- Poderia ser para uma amiga... – Zaila levanta a hipótese, eu a encaro por alguns instantes antes de levantar da cadeira. Tavaras pega a cobra que escalava seu braço pela cabeça e a arremessa contra a parede do covil de Zaila. A cobra sibila, Zaila encara Tavaras com escárnio. Eu agradeço Zaila pelas informações antes de pegar Tavaras pela mão e nos conduzir para a saída. Não tenho tempo para o remorso de Zaila e Tavaras. Eu sei exatamente para onde devemos ir agora.

Maré BaixaOnde histórias criam vida. Descubra agora