Judas

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- Meu duque! – Berenice e Antonieta me beijam antes de seguir e a partir daqui, temos mais de uma versão da mesma história.

· Versão contada por Berenice

Estávamos subindo a ilha, corpos e mais corpos incinerados se amontoavam ao nosso redor. Eu e Antonieta liderávamos as tropas do Duque, juntas somos implacáveis. Nossos golpes, mais parecem passos de dança. Tomamos a linha de frente e varríamos aqueles que se colocavam contra nós. A população da ilha era composta por mulheres, crianças, idosos e pescadores. Estavam em sua maioria, mortos.

Eu não podia deixar o sentimentalismo inundar meus olhos, então tentei não reparar nos rostos familiares sem vida ao meu entorno.

A raiva me engasgava. Eu sabia que hoje era uma guerra que eclodia. Anos de politica medíocre empurrada para baixo de tapetes. Quem estaria atacando? Qual nação? Com qual desculpa? Qualquer um de nós poderia ter sido o traidor.

- Fomos traídos? – Antonieta me pergunta, eu a vejo, suas roupas já cobertas de sangue. Ela pensa o mesmo que eu.
- Fomos! – Eu digo, acertando a garganta de mais um homem que se jogava em minha direção. Antonieta rasga a barriga de outro a minha esquerda. O bucho do moribundo cai em seus pés.
- Por quem? – Ela pergunta. Eu também não sei responder.

Algumas horas se passaram, em questão de minutos. A guerra faz com que perdemos a noção do tempo. Eu já lutei em mais delas do que eu gosto de me lembrar. Nessa, perdemos bons homens. Marujos que serviram muito bem ao seu propósito.

- Berenice, abaixa! – Eu ouvi o menino gritar, olho em sua direção, a tempo do mesmo cair em meus braços cuspindo sangue. Foi acertado por uma bala nas costas. Morreu tentando me salvar. – Você canta muito bem... – Ele diz, antes de fechar seus olhos pela última vez. Escuto Antonieta gritar e atirar na direção do tiro que matou o menino. Ele seria um excelente capitão um dia, segurava muito bem o timão.

- Antonie, não! – Eu grito, tentando fazer ela retomar a cabeça. Mas ela não me ouviu. Eu não consegui continuar olhando em sua direção, mais homens inimigos vinham para cima das minhas tropas. Eu perdi Antonie de vista e eu senti que isso seria a nossa perdição.

· Versão contada pela Antonieta

Eu perdi a cabeça. Eu o vi entre as folhas. Mirando a arma na direção de Berenice e tudo que eu consegui fazer foi correr para cima dele.

Tobias nunca me passou confiança e agora ele tentou atirar na garota mais doce que eu já conheci. Eu podia jurar que Berenice estava em meu encalço quando cheguei nas muralhas, mas ao olhar para trás percebi estar sozinha.

Nós sempre entramos em combate juntas. E temi por Bere. Eu estava prestes a voltar para ajuda-la, quando vejo Maria sair do meio das pedras.

- Maria? O que está fazendo aqui? Onde está o Duque? – Eu pergunto. Maria agradece aos deuses por ter me encontrado.
- Antonie, era uma cilada. Eles estão com ela, eu vim buscar reforços.
- Eles estão com quem? – Eu pergunto. Maria está arfando em meus braços. Sua roupa também está suja de sangue o que mostra que ela estava em batalha.
- Com a Dona. – Ela responde. Eu xingo os deuses. – Ele precisa de nós. – Ela fala, eu concordo.
- Tobias é o traidor. – Eu falo. Maria parece confusa.
- Como você sabe? – Ela me pergunta.
- Ele atirou contra Berenice. – Maria balança a cabeça.
- Isso não importa, precisamos ir. – Eu do razão a ela e voltamos a correr em direção a cidade.

Durante o caminho alguns homens se colocam contra nós e eu percebo que a habilidade de Maria com as facas melhorou consideravelmente, sua mira com a pistola também. Pudemos entrar em combate juntas. Chegamos aos tuneis de esgoto da cidade que dão acesso a casa do Duque, um castelo. Uma propriedade imensa e exuberante ao qual ele mal fica, prefere sua casinha de material simples em cima do morro. Chega a ser irônico a guerra acontecer aqui.

Maré BaixaOnde histórias criam vida. Descubra agora